São Nuno

A natureza humana é infinitamente elevada A nobreza de Nosso Senhor pertence a todos Deus enviou o Filho para o mundo O Pai engendra o Filho dentro dum coração puro Agir operando desde o interior Nós somos a causa de todos os nossos obstáculos Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Assim se manifestou o amor de Deus

Encontram-se pessoas que encontram gosto em Deus, segundo um modo, mas não segundo outro; elas querem possuir Deus por um modo de piedade, não por outro. Eu deixo andar, mas é um erro total. Para acolher Deus como deve ser, é preciso acolhê-lo igualmente em todas as coisas, nas penas como na satisfação, nas lágrimas como na alegria. Em todas as coisas, ele deve ser o mesmo para ti. Se tu não tens nem piedade nem compunção, sem o teres provocado por pecados mortais, acreditas que, pelo fato de tu não teres nem piedade nem compunção, tu não tens Deus? Se tu sofres por não teres nem piedade nem compunção, é precisamente aí que agora está a tua piedade e a tua compunção. 1 Não atribuas portanto muita importância a tal ou tal modo, porque Deus não está em nenhum modo, nem neste nem naquele. É por isso que aqueles que acolhem Deus assim se comportam mal para com ele. Eles acolhem o modo, e não Deus. Assim, retém esta frase: considera e procura unicamente Deus. E fica completamente

E agora: «nós vivemos nele», com ele. Não há nada que se deseje tanto quanto a vida. O que é a minha vida? É aquilo que, desde o interior, é movido por si próprio. Aquilo que é movido desde o exterior não vive. Se portanto nós vivemos com ele, nós devemos também cooperar nele desde o interior e não operar movidos a partir do exterior; nós devemos antes ser movidos por aquilo que nos faz viver, quer dizer por ele. Ora nós podemos e devemos agir operando desde o interior, a partir daquilo que nos é próprio. Se portanto nós devemos viver nele ou por ele, é preciso que ele seja o nosso bem próprio e que nós operemos por esse bem próprio; da mesma forma portanto que Deus realiza todas as coisas pelo seu ser próprio e por ele próprio, nós devemos operar pelo bem próprio que ele é em nós. Ele é absolutamente o nosso bem, e todas as coisas são o nosso bem nele. Tudo o que possuem todos os anjos, e todos os santos, e Nossa Senhora, me pertencem nele, e não me é mais estrangeiro, nem ma

«Ele enviou-o para dentro do mundo»: « in mundum ». Segundo um dos seus significados, « mundum » quer dizer ‘puro’. Tomem atenção! Deus não tem nenhum lugar, que seja mais particularmente dele, do que um coração puro e uma alma pura: lá, o Pai engendra o seu Filho tal como ele o engendra na eternidade, nem mais nem menos. O que é um coração puro? É puro o que está desprendido e separado de todas as criaturas, porque todas as criaturas sujam, porque elas são nada; porque o nada é uma deficiência e uma sujidade da alma. Todas as criaturas são um puro nada; nem os anjos, nem as criaturas, são alguma coisa. Elas sujam, porque elas são feitas de nada. Elas são e eram nada. Tudo o que é contrário às criaturas, e lhes causa desentendimento, é o nada. 1 Se eu pousasse um carvão ardente dentro da minha mão, eu sofreria. Isto vem unicamente do nada, e se nós fossemos libertos dele, nós não seriamos impuros. 2 Notas Eckhart joga aqui com os dois sentidos da palavra « in mundum »: “

Eis o segundo sentido: «Ele enviou-o para dentro do mundo.» Nós devemos aqui entender o mundo sublime que contemplam os anjos. Como devemos nós ser? Nós devemos estar lá com todo o nosso amor e todo o nosso desejo, como diz Santo Agostinho: Aquilo que o ser humano ama, ele torna-se nisso, no amor. Diremos nós então: Quando o ser humano ama Deus, ele torna-se Deus? Parece ser uma blasfémia. Dentro do amor que damos, não há dois, mas um e união, e dentro do amor eu sou mais Deus do que sou eu próprio. 1 O profeta diz assim: «Eu disse, vocês são deuses e os filhos do Altíssimo.» Parece estranho que o ser humano possa, desta maneira, tornar-se Deus dentro do amor: é no entanto verdade dentro da eterna verdade. Nosso Senhor Jesus Cristo mostra-o. Notas «Deus enviou o Filho para o mundo». O pregador acabou de nos dizer que nós devemos viver na eternidade. Ele retoma essa mesma ideia dando-lhe uma outra expressão: estar dentro do «mundo sublime que contemplam os anjos», com o nos

Um mestre diz: Quando eu penso que a nossa natureza é elevada acima das criaturas e se encontra no céu acima dos anjos, adorada por eles, eu rejubilo do mais profundo do meu coração que Jesus Cristo, meu caro Senhor, me tenha dado em próprio tudo aquilo que ele possui nele próprio. Esse mestre diz também que o Pai, em tudo aquilo que ele alguma vez deu ao seu Filho Jesus Cristo dentro da natureza humana, me teve mais em vista a mim, amou-me mais a mim do que a ele e deu-mo mais a mim do que a ele. 1 Como assim? Ele deu-lhe por minha causa e porque aquilo me era necessário. É por isso que tudo aquilo que ele lhe deu era com a minha intenção e ele deu-me tudo aquilo a mim como lhe deu a ele; eu não excetuo nada, nem a união, nem a santidade da Divindade, nem o que quer que seja. Tudo aquilo que ele alguma vez lhe deu, dentro da natureza humana, não me é mais estrangeiro, nem mais distante, que a ele, porque Deus não pode dar poucas coisas; ou ele dá tudo, ou ele não dá nada. O seu

Sermão 5a - Assim se manifestou o amor de Deus São João diz: «Eis como o amor de Deus por nós se manifestou: ele enviou o seu Filho ao mundo, a fim de que nós vivamos por ele e com ele.» (1 João, 4, 9) 1 E assim, a nossa natureza humana é infinitamente elevada, pelo fato do Altíssimo ter vindo e assumido a natureza humana. 2 Notas O ponto de partida do sermão é o versículo de 1 João, 4, 9 « In hoc apparuit charitas dei in nobis quoniam filium suum unigenitum misit deus in mundum ut vivanus per eum. » [  ↑  ] Este sermão pareceu extremamente suspeito aos críticos de Mestre Eckhart; com efeito, ele contém alguns dos temas preferidos do Mestre. [  ↑  ] [ ◊ ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Assim se manifestou o amor de Deus 1

O que Deus dá, é sempre o melhor Se não fosse a vontade de Deus, não aconteceria Senhor, que a tua vontade seja feita! Deus dá grandes coisas O amor é nobre porque é universal O amor é mais uma recompensa do que um mandamento Todas as criaturas são um puro nada Deus deve dar-se a si próprio a mim O Pai engendra o Filho dentro da alma Estar em baixo, em verdadeira humildade Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » O melhor dom

Notem bem esta frase: «eles vêm do alto». Eu disse-vos recentemente: Aquele que quer receber desde o alto, deve necessariamente estar em baixo, em verdadeira humildade. E saibam-no em verdade: Aquele que não está absolutamente em baixo, não terá nada de nada, e também não receberá nada de nada, por pouco que possa ser. Se de qualquer maneira o teu olhar se voltar para ti próprio, para o quê ou para quem quer que seja, tu não estás em baixo, e tu também não receberás nada, mas se tu estás com efeito em baixo, tu receberás plenamente e perfeitamente. A natureza de Deus é de dar, e pertence ao seu ser de nos dar se nós estivermos em baixo. Se nós não estivermos lá, e não recebermos nada, nós fazemos violência contra ele e matamo-lo. Se nós não podemos agir assim contra ele, nós o fazemos contra nós próprios, na medida em que está em nosso poder. Para que tu lhe dês tudo em próprio, vigia em te abaixares abaixo de Deus, em verdadeira humildade, e a elevar Deus dentro do teu coração

Terceiro texto: «do Pai das luzes». Por esta palavra «Pai», compreende-se a filiação, e a palavra «Pai» significa um puro engendrar, e uma vida de todas as coisas. O Pai engendra o Filho dentro do conhecimento eterno, e da mesma forma o Pai engendra o Filho dentro da alma, como dentro da sua própria natureza, e ele engendra-o dentro da alma para que ela o tenha em próprio, e pertence ao seu ser o engendrar o seu Filho dentro da alma, quer ele tenha nisso alegria ou pesar. Perguntaram-me, um dia, o que faz o Pai no céu. Eu disse: «Ele engendra o seu Filho, e esse ato é para ele tão deleitável, e agrada-lhe tanto, que ele não faz nada mais senão engendrar o seu Filho, e ambos fazem florir o Espírito Santo.» O Pai engendra o seu Filho em mim, eu sou o mesmo Filho e não um outro; sem dúvida nós somos diferentes em humanidade, mas lá, eu sou o mesmo Filho e não um outro: «Sendo Filhos, nós somos verdadeiros herdeiros.» Aquele que conhece a verdade, sabe bem que a palavra «Pai» traz e

Ora bem! escutem uma frase verdadeira! Se um ser humano desse mil marcos de ouro para construir igrejas e claustros, seria uma grande coisa. No entanto, teria dado muito mais, aquele que pudesse considerar mil marcos como nada; ele teria feito muito mais do que o outro. Quando Deus fez todas as criaturas, elas eram tão lamentáveis e tão reduzidas que ele não podia mover-se dentro delas. Então ele fez a alma tão semelhante e tão igual a ele, a fim de se poder dar à alma, porque o que quer que ele lhe desse de outro, ela o consideraria como sendo nada. Deus deve dar-se a si próprio a mim, em próprio, tanto quanto ele se pertence a si próprio, ou então eu não tenho nada, nada tem gosto para mim. 1 Aquele que o deve acolher assim totalmente, deve ter-se abandonado totalmente ele próprio e ter saído dele próprio; esse, recebe de Deus tudo o que Deus possui, em completa propriedade, como ele próprio o possui, e Nossa Senhora, e todos os que estão no céu; isto tudo pertence-lhe, também,

Sabe que se tu procuras, de qualquer maneira, o teu próprio bem, tu nunca encontrarás Deus, porque tu não procuras exclusivamente Deus. Tu procuras qualquer coisa, ao mesmo tempo que Deus, e é exatamente como se tu fizesses de Deus uma candeia com a qual tu procuras qualquer coisa, e quando nós encontramos as coisas que procuramos, rejeitamos a candeia. Tu ages assim: o que tu procuras, ao mesmo tempo que Deus, é nada, o que quer que seja, lucro ou recompensa ou interioridade, ou o que quer que seja; tu procuras um nada, é por isso que tu encontras também um nada. Que tu encontras um nada, a causa disso é apenas porque tu procuras um nada. Todas as criaturas são um puro nada. Eu não digo que elas são mínimas, ou que elas são qualquer coisa: elas são um puro nada. O que não tem ser é nada. Todas as criaturas não têm ser porque o seu ser depende da presença de Deus. Se Deus se afastasse por um instante de todas as criaturas, elas se tornariam em nada. Eu por vezes disse, e é ve

Aquilo que Nosso Senhor nos ordenou, parece-nos difícil: é preciso amar os outros cristãos como a nós próprios. As gentes toscas dizem habitualmente: isso significa que as devemos amar com vista ao mesmo bem pelo qual nós nos amamos a nós próprios. Não, não é assim. Devemos amá-las tanto quando a nós próprios, e não é difícil. Se vocês quiserem refletir bem nisso, o amor é mais uma recompensa do que um mandamento. O mandamento parece difícil, a recompensa é desejável. Aquele que ama Deus como deve ser e como é preciso amá-lo, quer ele queira quer não, e como o amam todas as criaturas, deve amar o seu próximo como a si mesmo, rejubilar com as alegrias dele como com as suas próprias alegrias, desejar a honra dele tanto quanto a sua própria honra, o estrangeiro como um dos seus próximos. Desta maneira, o ser humano está todo o tempo na alegria, na honra e na vantagem, ele está verdadeiramente como estando dentro do reino celeste e ele tem assim mais alegrias do que se ele rejubil

Eu disse uma vez: O que pode ser verdadeiramente expresso em palavras deve vir do interior para o exterior e mover-se a partir do interior, não vir do exterior para o interior, mas antes vir do interior para o exterior. Isso vive, muito realmente, no mais íntimo da alma. Lá todas as coisas te são presentes, vivendo e procurando no interior, elas estão no melhor e no mais elevado. Porque é que tu não notas isso? Porque tu não estás lá, em ti. Quanto mais uma coisa é nobre, mais ela é comum a todos. Eu tenho os sentidos em comum com os animais e a vida em comum com as árvores. O ser é-me ainda mais interior, eu tenho-o em comum com todas as criaturas. O céu abraça mais coisas que tudo o que está por baixo dele, é por isso também que ele é mais nobre. Quanto mais as coisas são nobres, mais elas são amplas e mais elas são universais. O amor é nobre porque é universal. [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » O melhor

Há ainda um outro sentido. Apliquem-se a refletir nele! Ele (São Tiago) diz: «Todo dom.» O que é o melhor de tudo e o mais elevado de tudo, são os dons verdadeiros no sentido mais verdadeiro. Deus não dá nada tão voluntariamente quanto os grandes dons. Eu disse um dia, neste local, que Deus perdoa mesmo com maior vontade os grandes pecados do que os pequenos. E quanto mais eles são grandes, mais ele os perdoa voluntariamente e mais depressa. E acontece o mesmo com a graça, com o dom e com a virtude: quanto maiores eles são, mais ele os dá voluntariamente, porque pertence à sua natureza dar grandes coisas. E é por isso que quanto melhores são as coisas, mais ele as dá. As criaturas mais nobres são os anjos, eles são absolutamente espirituais, e não têm neles nenhuma corporalidade, e são eles os mais numerosos, e o seu número é maior que o de todas as coisas corporais. 1 As grandes coisas chamam-se, muito justamente, «dons» e pertencem a Deus da maneira mais pessoal e mais ínti

Eu tenho costume de dizer frequentemente uma frase que é verdadeira. Nós dizemos todos os dias, e clamamos no Pai Nosso: «Senhor, que a tua vontade seja feita!» E quando a sua vontade se realiza, nós ficamos furiosos, e a sua vontade não nos satisfaz. O que quer que ele faça, é o que nos deveria agradar mais. Aqueles que o consideram assim pelo melhor, permanecem, em todas as coisas, numa paz total. Ora parece-vos, por vezes, e vocês dizem: «Ah! se tivesse acontecido de outra forma, seria melhor.» Ou então: «Se não tivesse acontecido assim, outra coisa poderia talvez ser melhor.» Todo o tempo que tu pensas assim, tu nunca obterás a paz. Acolhe isso como sendo o melhor. Tal é o primeiro sentido desta frase. 1 Notas Mestre Eckhart recorda-nos a frase do Pai Nosso: «Que a tua vontade seja feita!» E nós queixamo-nos quando essa vontade se realiza. [  ↑  ] [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » O melhor dom 3

Ora tu poderias talvez dizer: Como posso eu saber se é a vontade de Deus ou não? Sabe: se não fosse a vontade de Deus, isso não aconteceria. 1 Tu não tens doença, nem o que quer que seja, a menos que Deus o queira. E como tu sabes que é a vontade de Deus, tu deverias ter tanta aceitação e satisfação para com isso que tu não considerarias que uma dor é uma dor; e mesmo se fosse o mais extremo da dor e se tu sentisses então o que quer que fosse que fosse dor ou sofrimento, seria ainda completamente injustificado, porque tu deves aceitar isso de Deus, como sendo absolutamente o melhor, porque é necessariamente o melhor para ti. Porque pertence ao ser de Deus querer o melhor. É por isso que eu o devo querer também, e nada me deve agradar mais. Se eu quisesse, com todo o meu zelo, agradar a alguém e se eu tivesse a certeza que eu lhe agradaria mais vestindo uma roupa cinzenta que outra qualquer, tão bela que a outra fosse, não há qualquer dúvida que essa roupa seria para mim mais pra

Sermão 4 - O melhor dom «O melhor dom de Deus, e a perfeição, vêem de cima, do Pai das luzes.» (São Tiago, 1, 17) 1 São Tiago diz na carta: «O melhor dom de Deus, e a perfeição, vêem de cima, do Pai das luzes.» Prestem atenção! Saibam isto: aqueles que se abandonam a Deus e procuram apenas a sua vontade com todo o seu zelo, o que quer que Deus dê a um tal ser humano, é o melhor: tu, tem a certeza disto, assim como tu tens a certeza que Deus vive; isto é necessariamente o melhor e nenhum outro modo poderia ser melhor. Se acontecer que qualquer outra coisa te parecesse ser melhor, ela não seria no entanto melhor para ti, porque Deus quer esse modo e não outro modo, e é preciso necessariamente que esse modo seja para ti o melhor modo. Quer seja doença ou pobreza, ou fome ou sede, ou o que quer que seja que Deus te impõe, ou não te impõe, te dá ou não te dá, tudo isso é o melhor para ti; que seja piedade ou interioridade, que não tenhas nem uma nem a outra, e o que quer que tu tenh

O conhecimento e o intelecto unem a alma a Deus O conhecimento verdadeiro vem duma luz divina O conhecimento encontra Deus sem véu O que é em Deus é Deus Aquilo que chega a Deus é transformado Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Agora sei verdadeiramente

Eis o que se passa: aquilo que chega a Deus é transformado; tão mínimo quanto seja, quando nós o levamos a Deus, ele escapa a si próprio. Eis uma comparação. Se eu possuo a sabedoria, eu não a sigo eu próprio. Eu posso adquirir a sabedoria, eu também a posso perder, mas o que está em Deus é Deus, isso não lhe pode escapar. Está estabelecido na natureza divina, porque a natureza divina é tão poderosa que tudo o que lhe é oferecido ou bem lá está absolutamente inserido, ou permanece absolutamente no exterior. Ora escutem esta maravilha! Visto que Deus transforma nele próprio coisas de tão pouco valor, o que crêem então vocês que ele faça à alma que ele honrou com a imagem dele próprio? Que Deus nos ajude a chegar lá. Amém. 1 Notas Esta tradução foi realizada a partir da tradução francesa de Jeanne Ancelet-Hustache, «Maitre Eckhart - Sermons 1-30 - Tome I», Éditions du Seuil, Paris, 1974, p. 57-60. [  ↑  ] [ Anterior ] [ Índice ] [ ◊ ] Início » Espirituali

Os mestres dizem que o ‘ser’ e o ‘conhecimento’ são tudo ‘um’, porque aquilo que não existe, também não se conhece; é aquilo que tem mais ser que se conhece também mais, ora como Deus tem um ser sobre-eminente, ele ultrapassa também todo o conhecimento, assim como eu disse anteontem no meu sermão precedente 1 : a alma é estabelecida na pureza primeira, na impressão da pura essência onde ela saboreia Deus antes que ele revista verdade ou cognoscibilidade, lá onde toda a denominação é rejeitada: lá ela conhece mais puramente, lá ela recebe o ser na conformidade. É por isso que Paulo diz: Deus reside numa luz para a qual não há acesso. Ele reside na essência da sua pureza própria, na qual ele não tem atributos. 2 Aquilo que lá é contingente, deve ser afastado. Ele é uma pura habitação nele próprio, onde não há nem isto nem aquilo, porque o que é em Deus é Deus. 3 Um mestre pagão diz que as potências que planam por baixo de Deus têm uma ligação a Deus, e apesar de elas terem em si um

«Agora eu sei verdadeiramente que me enviou o seu anjo.» Quando Deus envia o seu anjo à alma, ela torna-se verdadeiramente conhecedora. Não é em vão que Deus entregou a chave a São Pedro, porque Pedro significa ‘conhecimento’; ora o conhecimento tem a chave e abre, e penetra, e fura, e encontra Deus sem véu e diz então à sua companheira, a vontade, aquilo que ele tomou posse, apesar de ele já ter tido previamente a vontade, porque aquilo que eu quero, eu o procuro. 1 O conhecimento precede. 2 O conhecimento é uma princesa, ela procura a soberania no mais elevado e mais puro; ela transmite-o à alma, e a alma transmite-o à natureza, e a natureza a todos os sentidos corporais. A alma é tão nobre, naquilo que ela tem de mais elevado e de mais puro, que os mestres não conseguem encontrar um nome para ela. Eles dão-lhe o nome de ‘alma’ segundo que ela anima o corpo. Ora os mestres dizem que depois da primeira difusão da Divindade, onde o Filho sai do Pai, o anjo mais próximo de Deus

Ora Pedro diz: «Agora eu conheço verdadeiramente.» Donde vem aqui este conhecimento verdadeiro? Vem do fato que é uma luz divina que não engana ninguém. Por outro lado, vem do fato que se conhece lá simplesmente e puramente sem véu. É por isso que Paulo diz: «Deus reside na luz para a qual não há acesso.» Os mestres dizem que a sabedoria que nós aprendemos aqui permanecerá lá para nós. Mas Paulo diz que ela passará. Um mestre diz: O conhecimento puro, mesmo aqui, neste corpo, esconde em si uma tão grande alegria que a alegria de todas as coisas criadas é exatamente como um nada em comparação com a alegria que existe no conhecimento puro. No entanto, tão nobre que ela seja, ela é no entanto contingente, e tão pequena quanto uma palavra comparada ao mundo inteiro, tão pequena é toda a sabedoria que nós podemos aprender aqui, em comparação com a pura e simples verdade. É por isso que Paulo diz que ela passará. Mesmo se ela permanecesse, ela seria verdadeiramente como uma insens

Sermão 3 - Agora sei verdadeiramente «Agora sei verdadeiramente que o Senhor enviou o seu anjo.» (Atos dos Apóstolos, 12, 11) 1 Logo que Pedro foi liberto, das cadeias do seu cativeiro, pelo poder de Deus altíssimo, disse: «Agora eu sei verdadeiramente que Deus me enviou o seu anjo e me libertou do poder de Herodes e das mãos dos inimigos.» Nós invertemos esta frase e dizemos: Porque Deus me enviou o seu anjo, eu conheço verdadeiramente. «Pedro» quer dizer ‘conhecimento’. Já o disse frequentemente: o conhecimento e o intelecto unem a alma a Deus. O intelecto penetra dentro do ser puro, o conhecimento precede; o conhecimento corre adiante e fura para que o Filho único de Deus nasça. Nosso Senhor, diz em Mateus, que ninguém conhece o Pai senão o Filho. Os mestres dizem que o conhecimento depende da semelhança. Alguns mestres dizem que a alma é composta por todas as coisas porque ela tem a possibilidade de conhecer todas as coisas. Isto parece insensato, mas no entanto é verd

É necessário que o ser humano seja uma virgem Apenas os seres semelhantes são capazes de união É necessário que o ser humano seja uma mulher Muitos dons não são acolhidos na virgindade Não se apegar às obras Livre, sem ligações e sem apegos Deus verdeja e floresce dentro do intelecto Deus arde e brilha dentro da vontade É fácil e suave sofrer por Deus Existe no espírito uma potência que só ela é livre O pequeno castelo forte é o Um Nessa parte, a alma é semelhante a Deus Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Jesus entrou num castelo

Vejam: segundo que ele é Um e simples, ele vem dentro desse um a que eu chamo um pequeno castelo forte dentro da alma, de outra forma ele não penetra lá de maneira nenhuma, apenas assim ele lá penetra e lá permanece. Por essa parte dela própria, a alma é semelhante a Deus, e não de outra forma. 1 Aquilo que eu vos disse aqui é verdadeiro, eu vos dou a verdade como testemunha e a minha alma como garantia. 2 Que Deus nos ajude a ser um tal castelo forte onde Jesus sobe, e seja acolhido, e permaneça eternamente em nós da mesma maneira que eu disse. Amém. 3 Notas Mestre Eckhart declara que é verdade que Deus é agarrado na ‘sua verdade’ pelo ‘intelecto’, na ‘sua bondade’ pela ‘vontade’, no ‘seu ser’ pela «essência da alma». [  ↑  ] No fim do sermão, como selo de autenticidade, esta solene declaração que nos faz sentir tudo o que ela traduz na boca e no coração dum Mestre Eckhart: «Aquilo que eu vos disse aqui é verdadeiro, eu vos dou a verdade como testemunha e a minha alma como g

Vejam, notem bem! Tão um e simples, acima de todo o modo, é este pequeno castelo forte dentro da alma, do qual eu falo e no qual eu penso, que esta nobre potência (o intelecto) de que eu falei não é digna de lançar uma única vez, durante um instante, um olhar dentro deste pequeno castelo forte, e a outra potência (a vontade) também não, de que eu falei, na qual Deus arde e brilha com toda a sua riqueza e todas as suas delícias, não ousa nunca para lá olhar; tão verdadeiramente um e simples é este pequeno castelo forte, tão elevado acima de todo o modo e de todas as potências é este um único, que nunca potência nem modo, nem Deus ele próprio não podem olhar para lá. Com toda a verdade, e tão verdadeiro como Deus viver, Deus ele próprio nunca a penetrará um instante, ainda nunca a penetrou com o seu olhar, segundo que ele possui um modo e a propriedade das suas Pessoas. Compreende-se isto facilmente, porque este um único é sem modo e sem propriedade. É por isso que, se Deus a tiver a

Como eu disse no início deste sermão: «Jesus subiu a um pequeno castelo forte e aí foi recebido por uma pessoa virgem que era uma mulher.» Porquê? Era absolutamente necessário que ela fosse uma virgem e também uma mulher. Ora eu disse-vos que Jesus foi recebido, mas eu não vos disse o que é o pequeno castelo forte. Eu quero portanto falar disso agora. Eu disse por vezes que existe no espírito uma potência que só ela é livre. Por vezes eu disse que ela é uma guarda do espírito, por vezes eu disse que ela é uma luz do espírito, por vezes eu disse que ela é uma pequena centelha, mas agora eu digo: ela não é nem isto nem aquilo, no entanto ela é uma qualquer coisa que é mais elevada acima disto e daquilo do que o céu é elevado acima da terra. É por isso que eu a nomeio agora duma maneira mais nobre do que eu alguma vez a nomeei, e no entanto ela nega tanto a sua nobreza, como o modo, e ela está bem acima. Ela é livre do todos os nomes, desprovida de todas as formas, absolutamente d

Se tu queres verdadeiramente saber se o teu sofrimento é de ti ou de Deus, tu o reconhecerás assim: se o sofrimento vem de ti, qualquer que seja o seu modo, esse sofrimento faz-te sofrer e é penoso de suportar. Mas se tu sofres por Deus, e só por Deus, esse sofrimento não te faz sofrer e não te é pesado, porque Deus leva o fardo. Com toda a verdade, se existisse um ser humano que quisesse sofrer por Deus, unicamente por Deus apenas, e se todo o sofrimento que todos os seres humanos alguma vez suportaram e que sofre o mundo inteiro se abatesse sobre ele, isso não o faria sofrer e também não lhe seria pesado, porque Deus levaria o fardo. Se alguém colocasse um quintal (100kg) sobre a minha nuca e se em seguida um outro o suportasse sobre a minha nuca, eu carregaria cem tão bem quanto um único, porque isso não me pesaria e também não me faria sofrer. Resumidamente: o que quer que o ser humano sofra por Deus, e por Deus apenas, Deus torna isso fácil e suave para ele. 1 Notas Aqui

Existe ainda uma outra potência que é igualmente incorporal, ela flui do espírito e permanece no espírito, ela é absolutamente espiritual. 1 Dentro dessa potência Deus arde e brilha sem cessar com toda a sua riqueza, com toda a sua doçura e com todas as suas delícias. Na verdade, nessa potência residem uma tão grande alegria e delícias tão grandes, tão imensas, que ninguém é capaz de falar delas ou de as revelar plenamente. Eu digo mais uma vez: Se qualquer ser humano contemplasse lá um instante com o seu intelecto segundo a verdade, as delícias e a alegria que aí estão contidas, tudo aquilo que ele pudesse sofrer e tudo aquilo que Deus quisesse que ele sofresse, tudo isso seria para ele pouca coisa e nada de nada. Eu digo mais: seria para ele absolutamente uma alegria e uma satisfação. Notas A outra «potência» é a ‘vontade’, em paralelismo e em termos quase idênticos ao que o pregador disse do ‘intelecto’, mas muito mais brevemente aqui. [  ↑  ] [ Anterior ] [ Índi

Eu já disse frequentemente também que existe dentro da alma uma potência que não toca nem no tempo nem na carne: ela flui do espírito e permanece no espírito, ela é absolutamente espiritual. Dentro dessa potência, Deus verdeja e floresce absolutamente em toda a alegria e toda a honra que ele é em si próprio. É uma tal alegria do coração, uma alegria tão inefavelmente grande que ninguém é capaz de a exprimir plenamente. Porque o Pai eterno engendra, sem cessar, o seu Filho eterno dentro dessa potência, de tal forma que essa potência coopera no nascimento do Filho a partir do Pai e dela própria, como sendo o mesmo Filho dentro dessa mesma potência do Pai. Se um ser humano possuísse todo um reino, ou todos os bens da terra, e os abandonasse absolutamente por Deus, diante dum dos seres humanos mais pobres que vivem sobre a terra, se Deus lhe desse em seguida tanto sofrimento como ele alguma vez deu a um ser humano, se ele sofresse isto tudo até à sua morte e que Deus o deixasse lançar

Uma virgem que é uma mulher, livre, sem ligações, sem apegos, está todo o tempo igualmente próxima de Deus e dela própria. Ela produz muitos frutos e eles são grandes, nem mais nem menos quanto Deus é ele próprio. Essa virgem, que é uma mulher, produz esse fruto e esse nascimento e ela produz esse fruto todos os dias, cem vezes ou mil vezes, mesmo inúmeras vezes, dando à luz e tornada fecunda a partir do fundo mais nobre ou, para melhor dizer, a partir do mesmo fundo onde o Pai dá nascimento ao seu Verbo eterno; ela tornou-se fecunda, participando nesse nascimento. Porque Jesus, luz e reflexo do coração paterno – São Paulo diz que ele é uma honra e um reflexo do coração paternal e penetra com o poder da sua irradiação no coração paternal – esse Jesus está unido a ela e ela a ele, e ela irradia e brilha com ele como um único Um e como uma luz clara e pura dentro do coração paternal. [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart

É raro que certos esposos produzam mais de um fruto por ano. Mas eu penso, desta vez, noutros esposos: penso em todos aqueles que estão ligados com apego à oração, ao jejum, às vigílias e a todos os tipos de exercícios e de austeridades exteriores. Todo o apego a uma obra qualquer que te retira a tua liberdade de estar à disposição de Deus, neste momento presente, e de o seguir só a ele na luz pela qual ele te convida a agir ou a omitir, livre e novo em cada momento presente, como se tu não tivesses, não quisesses, nem pudesses fazer nada mais – todo o apego, a qualquer obra projetada que te retire essa liberdade constantemente nova, eu chamo-lhe agora ‘um ano’, porque a tua alma não produz nenhum fruto se ela completou a obra que tu empreendeste com apego e se tu também não tens confiança em Deus, nem em ti próprio, a menos que tu não tenhas completado a obra que tu empreendeste com apego, sem o qual tu não terás paz. É por isso que tu também não dás fruto, se tu não completaste a

Muitos dons benéficos não são acolhidos na virgindade, e não são, de retorno, dados à luz em Deus pela fecundidade da mulher, com um louvor reconhecido. Esses dons corrompem-se e anulam-se todos, apesar do ser humano nunca poder ter estado mais feliz e se sentir melhor com eles. A sua virgindade não lhe serve de nada, porque, sendo virgem, ele não se tornou mulher em total fecundidade. É aí que reside o preconceito. Foi por isso que eu disse: «Jesus subiu a um pequeno castelo forte e foi recebido por uma pessoa virgem que era uma mulher.» Isto é uma necessidade, assim como eu vos expus. [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Jesus entrou num castelo 4

Ora notem e estejam atentos! Se o ser humano fosse sempre virgem, ele não produziria nenhum fruto. Para que ele seja fecundo, é preciso que ele seja mulher. 1 «Mulher» é a palavra mais nobre que se pode atribuir à alma, bem mais nobre que a palavra virgem. Que o ser humano acolha Deus em si, está bem, e nesse acolher, ele é virgem. Mas que Deus se torne fecundo no ser humano, é ainda melhor, porque a fecundidade do dom é apenas o reconhecimento pelo dom e então o espírito é mulher no reconhecimento que, por seu turno, dá à luz Jesus de retorno dentro do coração paterno de Deus. Notas É preciso ir mais longe: o intelecto deve tornar-se mulher para ser fecundo. [  ↑  ] [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Jesus entrou num castelo 3

Eu digo mais: que o ser humano seja virgem, isso não lhe retira absolutamente nada de todas as obras que ele alguma vez realizou; tudo isso o deixa virginal e livre sem nenhum obstáculo com respeito à suprema verdade, da mesma forma que Jesus é desprendido, livre e virginal nele próprio. Os mestres dizem que apenas os seres semelhantes são capazes de união; é por isso que o ser humano deve ser intacto e virgem se deve acolher Jesus virginal. [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Jesus entrou num castelo 2

Sermão 2 - Jesus entrou num castelo «Jesus entrou num castelo e uma mulher, chamada Marta, recebeu-o em sua casa.» (Lucas 10, 38) 1 Eu pronunciei uma pequena frase, em primeiro lugar em latim, escrita no Evangelho, e que significa: «Nosso Senhor Jesus Cristo subiu a um pequeno castelo forte e lá foi recebido por uma pessoa virgem que era uma mulher.» 2 Bem! Estejam agora atentos a esta palavra: é necessário que o ser humano, por quem Jesus foi recebido, seja uma ‘virgem’. ’Virgem’, quer dizer um ser humano que seja desobstruído de todas as imagens estrangeiras, tão desobstruído quanto ele era quando ele ainda não existia. 3 Vejam, poderíamos então perguntar como é que uma pessoa que nasceu e que chegou a uma vida racional pode estar assim desobstruída de todas as imagens como quando ela ainda não existia, e no entanto ela sabe muitas coisas que todas são imagens, como pode ela então ser desobstruída delas? 4 Ora notem o ensinamento que eu vos quero dar. Se eu tivesse um intel

A alma deve expulsar todo o criado Deus é desprendido e livre Não desejar nada em troca Viver sem antes e sem depois Jesus é o Verbo do Pai Jesus fala dentro da alma Jesus revela-se com a sabedoria infinita Jesus revela-se com suavidade e plenitude Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Jesus entrou no templo

Jesus também se revela com uma suavidade e uma plenitude infinita que jorra da força do Espírito Santo e transborda e escorre, com uma plenitude e uma suavidade rica e sobreabundante, para dentro de todos os corações receptivos. Quando Jesus se revela com essa plenitude e essa suavidade e se une à alma, a alma reflui, com essa plenitude e essa suavidade em si própria e para fora de si própria e acima de si própria e acima de todas as coisas pela graça, com poder e sem intermediário, para a sua primeira origem. Então, o ser humano exterior obedece ao ser humano interior até à sua morte, e o ser humano fica então todo o tempo numa paz constante ao serviço de Deus. 1 Que Deus nos ajude a que Jesus possa também vir em nós, rejeitar e afastar todos os obstáculos, tornar-nos Um como ele é Um, um Deus com o Pai e o Espírito Santo, a fim de que nós nos tornemos e permaneçamos eternamente Um com ele. Amém. 2 Notas Jesus fala dentro da alma e revela o Pai com uma sabedoria e uma suavida

Em segundo lugar, Jesus revela-se na alma com a sabedoria infinita que ele próprio é; nessa sabedoria, o Pai conhece-se a si próprio com toda a sua soberania paterna, assim como esse próprio Verbo que é também a própria sabedoria, e tudo o que aí está incluído como sendo o próprio Um. Quando essa sabedoria se une à alma, toda a dúvida, todo o erro, toda a treva são totalmente retiradas à alma; a alma é transportada para uma luz pura e clara que é o próprio Deus, assim como diz o profeta: «Senhor, na tua luz a luz será conhecida.» Então, é com Deus que Deus é conhecido dentro da alma; então, com essa sabedoria, a alma conhece-se a si própria e conhece todas as coisas, e ela conhece essa mesma sabedoria como sendo o próprio Deus, e com essa mesma sabedoria ela conhece a soberania paterna na sua força geradora fecunda e o Ser na sua essência, segundo a simples Unidade, sem nenhuma distinção. [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Ec

O Pai, tendo-se assim exprimido, o que pronuncia então Jesus dentro da alma? Assim como eu disse: o Pai exprime o Verbo e exprime-se dentro do Verbo, não de outra forma, e Jesus fala dentro da alma. O modo da palavra de Jesus, é que ele se revela a si próprio, assim como revela tudo aquilo que o Pai exprimiu nele, segundo o modo no qual o espírito é receptivo. Jesus revela a soberania paterna no espírito, na mesma potência incomensurável. Quando o espírito recebe essa potência dentro do Filho e pelo Filho, o espírito progride ele próprio poderosamente, por forma que o espírito se torna semelhante e poderoso em todas as virtudes, e em toda a pureza perfeita, tão bem que nem a alegria nem o sofrimento, nem tudo o que Deus criou no tempo é capaz de perturbar o ser humano e que, em breve, ele lá permanece poderosamente como numa força divina em comparação com a qual todas as coisas são pequenas e impotentes. 1 Notas Eckhart evoca em seguida as relações da alma com o Pai e o Filho

Quando esse templo se liberta assim de todos os obstáculos, quer dizer, do agarrar ao eu e da ignorância, o seu brilho é tão belo, brilha com tanta pureza e claridade acima de tudo o que Deus criou e através de tudo o que Deus criou, que nada pode ter tanto brilho, senão apenas o Deus incriado. E com toda a verdade: ninguém é realmente semelhante a esse templo, senão apenas o Deus incriado. Tudo o que está por baixo dos anjos não se assemelha absolutamente nada a esse templo. Os próprios anjos mais elevados assemelham-se um pouco a esse templo da alma nobre, mas não completamente. É exato que eles se assemelham à alma nalgum grau, quanto ao conhecimento e ao amor. No entanto, é-lhes fixada uma finalidade, eles não a podem ultrapassar. A alma pode ir bem mais além. Se a alma dum ser humano que ainda vive no tempo fosse igual ao anjo mais elevado, esse ser humano poderia ainda, segundo a sua livre possibilidade, chegar incomparavelmente mais alto acima do anjo, de novo, em cada i