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Mestre Eckhart – Eles estão mortos

Comportar-se como se estivesse morto Todas as criaturas são um único ser Aceitar voluntariamente a morte Para Deus, nada morre A alma é purificada dentro do corpo Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Eles estão mortos

Mestre Eckhart – Eles estão mortos 5

Um mestre diz: A alma é dada ao corpo para ser purificada. A alma, quando está separada do corpo, não tem nem intelecto, nem vontade, ela está sozinha, ela não poderia dispor da força necessária para se voltar para Deus; sem dúvida, ela possui essas potências no seu fundo que é a raiz delas, mas não na operação. A alma é purificada dentro do corpo, a fim de que ela reúna o que está disperso e voltado para o exterior. Quando aquilo que os cinco sentidos levam para o exterior regressar para dentro da alma, ela tem uma potência dentro da qual tudo se torna um. Por outro lado, a alma é purificada pelo exercício das virtudes, quer dizer quando a alma se eleva em direção a uma vida unificada. A pureza da alma reside nela se purificar duma vida dividida e entrar numa vida unificada. Tudo o que está dividido nas coisas baixas é unificado quando a alma se eleva a uma vida onde não há oposições. Quando a alma chega à luz do intelecto, ela não sabe nada da oposição. O que escapa a essa l

Mestre Eckhart – Eles estão mortos 4

Eu digo por vezes que a madeira é mais nobre do que o ouro: é muito estranho. Uma pedra, em tanto que ela tem um ser, é mais nobre que Deus e a sua Divindade sem ser, se lhe pudessem tirar o ser. É preciso que ela seja bastante poderosa, a vida dentro da qual as coisas mortas se tornam vivas e dentro da qual a própria morte se torna numa vida. Para Deus, nada morre; todas as coisas vivem nele. «Eles estão mortos», diz a Escritura a respeito dos mártires, e eles estão transferidos para uma vida eterna, para essa vida na qual a vida é um ser. É preciso estar fundamentalmente morto para que nem a alegria nem a tristeza nos toquem. O que devemos conhecer, devemos conhecê-lo na sua causa. Não conhecer uma coisa na sua causa manifesta, não pode ser nunca um conhecimento. Igualmente, a vida não pode ser nunca plenamente realizada a menos que ela seja levada à sua causa manifesta, lá onde a vida é um ser que acolhe a alma quando ela morre até ao seu fundo, a fim de que nós vivamos nes

Mestre Eckhart – Eles estão mortos 3

Se o anjo se voltasse para o conhecimento das criaturas, seria a noite. Santo Agostinho diz: Quando os anjos conhecem as criaturas sem Deus, é uma luz vespertina, mas quando eles conhecem as criaturas em Deus, é uma luz matutina. Quando eles conhecem Deus tal qual ele é, puro ser nele próprio, é o luminoso meio-dia. Eu digo: O ser humano deveria compreender e reconhecer que o ser é de tal forma nobre. Nenhuma criatura é tão mínima que ela não aspire a ser. As lagartas, quando caem das árvores, rastejam para o alto dum muro a fim de manterem o seu ser. De tal forma o ser é nobre. Nós valorizamos a morte em Deus a fim de que ele nos converta num ser melhor que a vida: um ser dentro do qual vive a nossa vida, dentro do qual a nossa vida se torna num ser. O ser humano deve aceitar voluntariamente a morte e morrer, a fim de que um melhor ser seja a sua herança. [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Eles estão mortos

Mestre Eckhart – Eles estão mortos 2

O quarto ensinamento é o melhor de todos. É dito que «eles estão mortos». A morte dá-lhes um ser. Um mestre diz: A natureza não destrói nada sem dar qualquer coisa de melhor. Quando o ar se torna fogo, é qualquer coisa de melhor, mas quando o ar se transforma em água, é uma destruição e um afastamento. Se a natureza age assim, Deus ainda faz melhor: ele nunca destrói sem dar qualquer coisa melhor. Os mártires estão mortos, eles perderam uma vida e eles receberam um ser. Um mestre diz que o ser, a vida e o conhecimento são o que há de mais nobre. O conhecimento é mais elevado do que a vida ou o ser, porque, pelo fato que ele conhece, ele tem vida e ser. Mas por outro lado, a vida é mais nobre do que o ser ou o conhecimento, porque se a árvore vive, a pedra tem um ser. Ora se nós consideramos o ser como puro e nobre, tal qual ele é em si próprio, o ser é mais elevado do que o conhecimento ou a vida, porque, pelo fato que ele ter o ser, ele tem conhecimento e vida. Eles perder

Mestre Eckhart – Eles estão mortos 1

Sermão 8 - Eles estão mortos Lemos sobre os mártires: «Eles estão mortos sob a espada.» 1 Nosso Senhor diz aos seus discípulos: «Felizes são vocês por sofrerem qualquer coisa pelo meu nome.» É dito: «Eles estão mortos.» Eles estão mortos significa, primeiramente, que aquilo que sofremos no mundo e neste corpo tem um fim. Santo Agostinho diz: Toda aflição, toda obra penosa tem fim, mas a recompensa que Deus dá em troca é eterna. A segunda coisa a considerar, é que toda esta vida é mortal, que nós não devemos temer toda a aflição e todo o sofrimento que nos acontecem, porque eles terão fim. Em terceiro lugar, nós devemos nos comportar como se estivéssemos mortos, por forma que nem prazer nem desentendimento nos toquem. Um mestre diz: Nada pode tocar o céu, quer dizer: é um ser celeste, o ser humano para quem todas as coisas não têm suficiente importância para que o possam tocar. Um mestre diz: Visto que todas as criaturas são tão indigentes, porque é que elas afastam o ser hum

Mestre Eckhart – Tem piedade do povo que está em ti

Correr para a paz União no ser, não na operação Não ter nenhuma ligação A primeira difusão é a misericórdia Que povo está em Deus? O quê de misterioso e de escondido Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Tem piedade do povo que está em ti

Mestre Eckhart – Tem piedade do povo que está em ti 6

Um mestre pronuncia uma bela frase: existe dentro da alma não se sabe o quê de misterioso e de escondido e bem mais elevado do que lá onde se difundem as potências que são o intelecto e a vontade. Santo Agostinho exprime-se assim: Da mesma forma que é impossível dizer de onde o Filho saiu do Pai, na primeira efusão, existe na alma, não sei o quê, com efeito secreto, acima da primeira difusão, de onde saíram o intelecto e a vontade. Um mestre, que melhor falou da alma, diz que todo o saber humano não pode nunca penetrar o que é a alma no seu fundo. Para compreender o que é a alma, é preciso um conhecimento sobrenatural. Da difusão das potências da alma dentro das obras, nós não sabemos nada – na realidade, nós sabemos qualquer coisa, mas é pouco. O que a alma é no seu fundo, ninguém sabe nada. 1 O que se pode saber acerca disso deve ser sobrenatural e dado pela graça: lá, Deus opera a misericórdia. Amém. 2 Notas «O que a alma é no seu fundo, ninguém sabe nada. O que se pode

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Que povo está em Deus? São João diz: «Deus é amor, e aquele que reside no amor reside em Deus e Deus nele.» Apesar de São João dizer que o amor une, o amor nunca transporta para Deus, ele aglutina talvez. O amor não une, de nenhuma maneira; o que está unido, ele agarra-o e liga-o um ao outro. O amor une na operação, não no ser. Os melhores mestres dizem que o intelecto despoja totalmente e agarra Deus na sua nudez, o Ser puro, tal qual ele é em si próprio. O conhecimento faz a sua penetração através da verdade e da bondade, ele projeta-se sobre o Ser puro e agarra Deus na sua nudez, tal qual ele é sem nome. Eu digo: nem o conhecimento, nem o amor unem. O amor agarra Deus ele próprio em tanto que ele é “bom”, e se o nome «bondade» escapasse a Deus, o amor nunca o poderia avançar. O amor toma Deus sob uma pelagem, sob uma vestimenta. O intelecto não faz assim; o intelecto agarra Deus tanto quanto ele é “conhecido” nele, mas ele nunca o pode agarrar no mar da sua insondabilidad

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Um mestre diz: A mais alta operação que Deus alguma vez realizou dentro de todas as criaturas, é a misericórdia. O mais misterioso e o mais escondido, mesmo o que ele alguma vez operou dentro dos anjos, é levado para o alto dentro da misericórdia, dentro da obra da misericórdia tal qual ela é em si própria e tal qual ela é em Deus. O que quer que Deus opere, a primeira difusão é a misericórdia, não aquela que faz com que ele perdoe ao ser humano o seu pecado ou que um ser humano tenha piedade dum outro ser humano; pelo contrário, o mestre quer dizer: a obra mais elevada que Deus opera é a misericórdia. Um mestre diz: a obra de misericórdia é de tal forma aparentada de Deus que, se «verdade», «riqueza» e «bondade» designam Deus, uma designando-o mais do que a outra, a obra mais elevada de Deus, é a misericórdia; ela significa que Deus estabelece a alma no mais elevado e no mais puro que ela é capaz de receber, na vastidão, no mar, no mar insondável; lá, Deus opera a misericórdia. É

Mestre Eckhart – Tem piedade do povo que está em ti 3

«Fariseu» designa aquele que está separado sem nenhum limite. Tudo o que pertence à alma deve estar absolutamente separado. Assim, quanto mais as potências são nobres, mais elas separam. Certas potências são tão elevadas acima do corpo e tão afastadas que elas despojam e separam absolutamente. Um mestre pronuncia uma bela frase: «O que toca uma vez uma coisa corporal, nunca penetra nessas potências.» O segundo significado, é que devemos estar desprendidos, separados, retirados em nós próprios. Por aí, podemos deduzir que um ser humano ignorante pode, pelo amor e o desejo, adquirir e ensinar o saber. O terceiro significado, é que não devemos ter limite, não ficarmos fechados em nenhuma parte, não ter nenhuma ligação e sermos assim transportados para a paz, de tal forma que um tal ser humano ignora a inquietação quando é transportado para Deus com as potências totalmente separadas. É por isso que o profeta diz: «Senhor, tem piedade do povo que está em ti.» [ Anterior ]

Mestre Eckhart – Tem piedade do povo que está em ti 2

Ora tomem nota: «O Fariseu desejou que Nosso Senhor comece com ele.» O alimento que eu como está unido ao meu corpo tanto quanto o meu corpo à minha alma. O meu corpo e a minha alma estão unidos num ser, não numa operação, como a minha alma se une ao meu olho na operação de ver; igualmente, o alimento que eu como está unido no ser com a minha natureza, não unido na operação, e isto indica a grande união que nós devemos ter com Deus no ser, não na operação. Foi por isso que o Fariseu pediu a Nosso Senhor que comesse com ele. 1 Notas O desenvolvimento que se segue trata de diferentes formas de união: o alimento e o corpo, o corpo e alma «... o alimento que eu como está unido no ser com a minha natureza, não unido na operação, e isto indica a grande união que nós devemos ter com Deus no ser, não na operação.» Respondendo aos críticos desta frase, Eckhart citou a frase das Confissões de Santo Agostinho: «Cresce e come-me, não és tu que me transformas em ti, como o alimento no te

Mestre Eckhart – Tem piedade do povo que está em ti 1

Sermão 7 - Tem piedade do povo que está em ti O profeta diz: «Senhor, tem piedade do povo que está em ti.» 1 O Senhor respondeu: «Tudo o que cambaleia, eu o curarei e eu os amarei com todo o coração.» Eu pego nesta frase: «O Fariseu desejou que Nosso Senhor coma com ele», e nesta outra: «Nosso Senhor diz à mulher: “ Vade in pace , vai em paz”.» É bom ir da paz para a paz, é louvável, no entanto, é deficiente. Devemos correr para a paz, não devemos começar pelo paz. Deus quer dizer: Devemos ser transportados para a paz, e empurrados para a paz, e terminar na paz. Nosso Senhor diz: «Só em mim vocês têm a paz.» Tanto penetramos em Deus, tanto penetramos na paz. O que tem o seu eu em Deus, tem a paz; o que tem o seu eu fora de Deus, não tem a paz. São João diz: «Tudo o que nasce de Deus, vence o mundo.» O que nasce de Deus procura a paz e corre para a paz. É por isso que ele diz: « Vade in pace ; corre para a paz.» O ser humano que está a correr, e a correr constantemente pa

Mestre Eckhart – Os justos viverão eternamente

Os justos viverão A honra pertence a Deus Dar alegria aos anjos e aos santos Edificar os que estão na vida Os justos não têm vontade Os justos aderem a Deus e à justiça O ser de Deus é a minha vida O Verbo estava perto de Deus Abandonar o amor próprio Tudo o que Deus opera é um Transformados e mudados em Deus Não desejar nada de Deus Deus e eu, nós somos um Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Os justos viverão eternamente

Mestre Eckhart – Os justos viverão eternamente 13

Eu disse um dia, aqui mesmo, e é verdade: Se o ser humano se apropria ou toma qualquer coisa de exterior a si, não está bem. Não devemos agarrar, nem considerar, Deus como estando fora de nós, mas como sendo nosso bem próprio e como algo que está em nós próprios; também não devemos servir, nem agir, com vista de um «porquê»: nem por Deus, nem pela nossa própria honra, nem pelo que quer que esteja fora de nós, mas unicamente em consideração daquilo que está em nós, o nosso ser próprio e a nossa própria vida. Bastantes pessoas simples imaginam que devem considerar Deus como estando lá adiante e elas estão aqui. Não é assim. Deus e eu, nós somos um. Pelo conhecimento, eu acolho Deus em mim; pelo amor, eu penetro em Deus. Certos, dizem que a beatitude não reside no conhecimento, mas unicamente na vontade. Eles estão errados, porque se ela residisse unicamente na vontade, não existiria aí unidade. 1 O agir e o devir são um. Quando o carpinteiro não age, a casa não se faz. Quando

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O Pai engendra sem cessar o seu Filho. Quando o Filho é engendrado, ele não toma nada do Pai, porque ele tem tudo, mas quando o Pai o engendra, ele toma do Pai. Em consequência, nós também não devemos desejar nada de Deus como dum estrangeiro. Nosso Senhor diz aos seus discípulos: «Eu não vos chamei servidores, mas amigos.» Aquele que deseja qualquer coisa dum outro é um «servidor» e aquele que recompensa é um «mestre». Eu questionava-me recentemente se eu queria receber, ou desejar, qualquer coisa de Deus. Vou refletir bem nisso, porque se eu recebesse qualquer coisa de Deus, eu estaria por baixo de Deus como um servidor e ele, dominando, como um mestre. Nós não devemos ser assim na vida eterna. [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Os justos viverão eternamente 12

Mestre Eckhart – Os justos viverão eternamente 11

«Nós somos totalmente transformados e mudados em Deus.» Nota uma comparação! Da mesma maneira que, no Sacramento, o pão é transformado no corpo de Nosso Senhor, tantos pães que aí hajam, é no entanto um único corpo. Da mesma maneira, se todos os pães fossem transformados no meu dedo, no entanto não haveria mais do que um dedo. Se, por outra parte, o meu dedo fosse transformado em pão, isto seria tanto quanto aquilo. Porque o que é transformado numa outra coisa não faz mais que um com ela. Igualmente, eu sou transformado nele, por forma que ele me opera em tanto que seu ser, um, não semelhante; pelo Deus vivo, é verdade que aí não há nenhuma diferença. [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Os justos viverão eternamente 11

Mestre Eckhart – Os justos viverão eternamente 10

O Pai engendra o seu Filho na eternidade semelhante a ele próprio. «O Verbo estava próximo de Deus e Deus era o Verbo»: era idêntico a ele, com a mesma natureza. Eu digo mais ainda: ele engendrou-o dentro da minha alma. Não só ela está perto dele e igualmente ele está perto dela, sendo-lhe semelhante, mas ele está nela e o Pai engendra o seu Filho dentro da alma da mesma maneira que ele o engendra dentro da eternidade e não de outra forma. Ele tem que o fazer, quer lhe seja agradável ou desagradável. O Pai engendra o seu Filho sem cessar e eu digo mais ainda: ele engendra-me em tanto que seu Filho e o mesmo Filho. Eu digo mais: ele engendra-me não apenas em tanto que seu Filho, ele engendra-me em tanto que ele e ele em tanto que eu, e eu em tanto que o seu ser e a sua natureza. Dentro da fonte mais interior, eu broto dentro do Espírito Santo; está lá uma vida, um ser, uma operação. Tudo o que Deus opera é um; é por isso que ele me engendra em tanto que o seu Filho, sem nenhuma

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Quais são aqueles que são semelhantes desta maneira? São aqueles que não são semelhantes a nada, esses são os únicos semelhantes a Deus. Nada é semelhante ao ser divino; não há nele nem imagem nem forma. Às almas que são semelhantes de tal maneira, o Pai dá semelhantemente e não as frustra em nada. O que o Pai pode realizar, ele o dá a essa alma de maneira semelhante, em verdade, quando ela não é mais semelhante a ela própria que a um outro, e ela não deve estar mais próxima dela própria que de um outro. A sua própria honra, o seu proveito, e o que quer que seja que lhe pertence, ela não o deve desejar mais, nem o considerar mais que o bem próprio de um estrangeiro. E aquilo que pertence em próprio a alguém não lhe deve ser nem estrangeiro nem distante, quer seja mal ou bem. Todo o amor deste mundo é edificado sobre o amor de si. Se tu tivesses abandonado este, tu terias abandonado o mundo inteiro. [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualid

Mestre Eckhart – Os justos viverão eternamente 8

Eles vivem eternamente «perto de Deus», diretamente mesmo ao pé de Deus, nem por baixo nem por cima. Eles operam todas as suas obras perto de Deus e Deus opera perto deles. São João diz: «O Verbo estava perto de Deus.» Ele era absolutamente semelhante e estava ao lado, nem por baixo nem por cima, mas semelhante. Quando Deus criou o ser humano, ele criou a mulher a partir do flanco do homem a fim de que ela lhe seja semelhante. Ele não a formou a partir da cabeça, nem dos pés, a fim de que ela não esteja nem por cima nem por baixo dele, mas que ela lhe seja semelhante. Igualmente, a alma justa deve ser semelhante a Deus e estar perto de Deus, completamente semelhante, nem por baixo nem por cima. [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Os justos viverão eternamente 8

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«Os justos viverão.» Entre todas as coisas, nenhuma é tão amável nem tão desejável do que a vida. Igualmente, nenhuma vida é tão má e tão penosa que o ser humano não queira no entanto viver. Um texto diz: Quanto mais uma coisa está próxima da morte, mais ela é penosa. No entanto, tão má que seja a vida, ela quer viver. Porque comes tu? Porque dormes tu? Para viver. Porque queres tu bem ou honra? Tu sabes muito bem. Mas porque vives tu? Para viver, e tu não sabes no entanto porque tu vives. Tão desejável em si é a vida que a desejamos por ela própria. Aqueles que estão no inferno, dentro dos tormentos eternos, não quereriam perder a sua vida, nem os demónios nem as almas, porque a sua vida é tão nobre que ela flui diretamente de Deus para dentro da alma. Porque ela flui assim diretamente de Deus, eles querem viver. O que é a vida? O ser de Deus é a minha vida. Se a minha vida é o ser de Deus, é preciso que o ser de Deus seja o meu ser e o ser original de Deus o meu ser ori

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Os justos tomam a justiça tão seriamente que se Deus não fosse justo, eles não dariam mais importância a Deus que a uma fava, e eles estão tão firmemente estabelecidos na justiça e tão totalmente saídos deles próprios que eles não dão importância nem às penas do inferno nem às alegrias do reino celeste, nem ao que quer que seja. Sim, se todos os tormentos daqueles que estão no inferno, seres humanos ou demónios, ou todos os tormentos que alguma vez foram ou serão ainda sofridos sobre a terra estivessem ligados à justiça, eles não lhes dariam a menor importância, tanto eles aderem firmemente a Deus e à justiça. 1 Nada é mais doloroso e penoso ao ser humano justo que aquilo que é contrário à justiça: quer dizer, não ser o mesmo em todas as coisas. Como assim? Se uma coisa os pode alegrar e uma outra coisa os pode entristecer, esses não são justos; bem mais: se eles estão alegres num tempo, eles são alegres em todos os tempos; se eles são mais alegres num tempo e menos num outro, eles

Mestre Eckhart – Os justos viverão eternamente 5

Eu tive recentemente este pensamento: Se Deus não quisesse como eu, no entanto eu quereria como ele. Bastantes pessoas querem ter a sua vontade própria em todas as coisas; está mal, isso é um erro. Outros comportam-se um pouco melhor: eles querem bem o que Deus quer, eles não querem nada contra a sua vontade própria, se eles estivessem doente, eles quereriam bem que a vontade de Deus seja que eles fiquem bem. Assim, essas gentes queriam que Deus queira segundo a vontade deles, em vez de quererem segundo a vontade de Deus. É preciso admitir, mas não está bem. Os justos não têm absolutamente nenhuma vontade, aquilo que Deus quer lhes é completamente igual, tão grande quanto seja o desacordo. [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Os justos viverão eternamente 5

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Devemos também levar a nossa ajuda aos que estão no purgatório e edificar aqueles que ainda estão na vida. Quem faz isto é justo duma certa maneira, e num outro sentido são justos aqueles que recebem de Deus todas as coisas, quaisquer que elas sejam, da mesma maneira, quer sejam grandes ou pequenas, agradáveis ou penosas, e completamente da mesma maneira, nem mais nem menos, uma coisa como a outra. Se tu estimas que uma coisa é mais que a outra, é falso. Tu deves absolutamente alienar a tua vontade própria. 1 Notas Depois de ter dito o que dá o justo, Eckhart trata agora do modo como o justo recebe. Não se trata, para ele, do jogo das causas segundas: tudo o que acontece ao ser humano é-lhe enviado por Deus, qualquer que seja o intermediário. Tudo deve ser, portanto, acolhido como vindo de Deus, alienando absolutamente a vontade própria. [  ↑  ] [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Os justos viverão eternamente

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Devemos dar alegria aos anjos e aos santos. Ó maravilha para além de todas as maravilhas! Um ser humano pode, nesta vida, dar alegria àqueles que estão na vida eterna? Sim, na verdade! Cada santo tem um tão grande prazer e uma alegria tão inexplicável por todas as obras boas; por um bom querer ou um bom desejo, eles têm uma tão grande alegria que nenhuma boca é capaz de exprimir, nem um coração de imaginar, que grande alegria eles sentem com isso. Porque é assim? Porque eles amam Deus para além de toda a medida, eles têm tanto amor por ele que a honra dele lhes é mais querida que a beatitude deles próprios. Não apenas os santos e os anjos, bem mais: Deus ele próprio sente uma tão grande alegria como se estivesse nisso a sua beatitude, e o seu ser aí estivesse ligado, e a sua aprovação, e a sua satisfação. Pois bem! notem! Se nós não quiséssemos servir Deus por nenhuma outra razão que não fosse a grande alegria que sentem aqueles que estão na vida eterna, e Deus ele próprio, en

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A honra pertence a Deus. Quem são aqueles que honram Deus? São aqueles que saíram completamente deles próprios, que não procuram absolutamente nada que lhes seja próprio em nenhuma coisa qualquer que ela seja, grande ou pequena, que não consideram nada por baixo deles nem por cima deles, nem ao lado deles, nem em eles, que não visam nem bem, nem honra, nem aprovação, nem prazer, nem utilidade, nem interioridade, nem santidade, nem recompensa, nem reino celeste, e que saíram de tudo isso, de tudo o que lhes é próprio: essas gentes prestam homenagem a Deus, elas honram Deus verdadeiramente e dão-lhe o que é dele. 1 Notas Nós estamos agora bastante familiarizados com o pensamento de Eckhart para que os primeiros parágrafos do sermão já não nos surpreendam. São justos aqueles que dão a cada um aquilo que lhe é devido. Prestam honra a Deus aqueles que estão totalmente desprendidos deles próprios e de todas as coisas, que não procuram nem santidade, nem recompensa, nem reino celeste.

Mestre Eckhart – Os justos viverão eternamente 1

Sermão 6 - Os justos viverão eternamente «Os justos viverão eternamente e a sua recompensa está próxima de Deus.» Sabedoria 5,16 1 Notem bem o sentido desta frase; mesmo se ela tem uma sonoridade simples e comum, ela é muito digna de atenção e muito boa. «Os justos viverão.» Quem são os justos? Um texto diz: É justo aquele que dá a cada um aquilo que lhe pertence: aquele que dá a Deus o que lhe pertence, aos santos e aos anjos o que lhes pertence, ao seu próximo aquilo que lhe pertence. 2 Notas O ponto de partida do sermão é o versículo de Sabedoria 5, 16: «Iusti vivent in aeternum.» [  ↑  ] O sermão “Os Justos Viverão Eternamente”, na grande edição, é precedido dum texto reproduzido segundo um manuscrito da Biblioteca Nacional de Paris, ao qual os críticos não parecem até aqui ter prestado grande atenção. A primeira e a última frase aproximam-se, pelo seu conteúdo, dum texto do próprio sermão, mas é apresentado de uma forma, e pode-se dizer, numa atmosfera diferente. «

Mestre Eckhart – O amor de Deus manifestou-se por nós

Quem não vive pelo Filho está errado Cristo eleva e enobrece o ser humano Deus assumiu a natureza humana Amar igualmente a todos Ter um coração puro O fundo de Deus e do ser humano são o mesmo fundo Onde termina a criatura, Deus começa a ser As obras realizadas em pecado ficam perdidas Verdadeiramente permanecer no interior Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » O amor de Deus manifestou-se por nós

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As gentes pedem-me frequentemente: «Reze por mim!» Eu penso então: «Porque saem vocês? Porque não permanecem vocês em vocês próprios e não ficam vocês dentro do vosso próprio bem? E no entanto, vocês trazem toda a verdade essencialmente dentro de vocês.» Que Deus nos ajude para que nós possamos verdadeiramente permanecer no interior, de tal maneira que nós possuamos diretamente toda a verdade, sem diversidade, em verdadeira beatitude. Amém. 1 Notas Esta tradução foi realizada a partir da tradução francesa de Jeanne Ancelet-Hustache, «Maitre Eckhart - Sermons 1-30 - Tome I», Éditions du Seuil, Paris, 1974, p. 74-79. [  ↑  ] [ Anterior ] [ Índice ] [ ◊ ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » O amor de Deus manifestou-se por nós 9

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Agora, coloca-se a questão: essa nobre vontade escorre de tal forma que ela não possa mais regressar? Os mestres dizem comumente que ela nunca regressa na medida em que ela escorreu com o tempo. Mas eu digo: Quando essa vontade se afasta um instante dela própria, e de todo o criado, para se voltar para a sua primeira origem, a vontade encontra-se no seu modo reto e livre, e ela é livre, e nesse instante, todo o tempo perdido é de novo reintegrado. 1 Notas Para o especialista Josef Quint, a questão levantada no fim deste sermão, e que não tem paralelo no sermão 5a, pertence a um outro contexto. Ela relaciona-se ao problema tratado no sermão 44 e que ocupa inteiramente aquele sermão. Esse sermão esclarece o nosso texto. Nós lemos neste sermão 5b: «Essa nobre vontade escorre de tal forma que ela não possa mais regressar?» Dito de outra forma: as obras realizadas fora do estado de graça ficam definitivamente perdidas? Eis alguns pontos essenciais da argumentação no sermão 44. S

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Onde termina a criatura, Deus começa a ser. Ora Deus não exige mais nada de ti a não ser que tu saias de ti próprio, segundo o teu modo de ser de criatura, e que tu deixes Deus ser Deus em ti. A mínima imagem criada que se forma em ti é tão grande quanto Deus é grande. Porquê? Porque ela é para ti um obstáculo a um Deus total. Precisamente lá onde a imagem entra, Deus deve afastar-se, e toda a sua Divindade. Mas quando essa imagem sai, Deus entra. Deus deseja tanto que tu saias de ti próprio, segundo o teu modo de criatura, como se toda a sua beatitude dependesse disso. Pois bem! caro ser humano, qual é o teu preconceito quando tu concedes a Deus de ser Deus em ti? Sai totalmente de ti próprio, por Deus, e Deus sairá totalmente dele próprio, por ti. Quando ambos saírem de vocês próprios, aquilo que fica é o Um, na sua simplicidade. Dentro desse Um, o Pai engendra o seu Filho na sua fonte mais íntima. Lá se expande o Espírito Santo e lá jorra em Deus uma vontade que pertence

Mestre Eckhart – O amor de Deus manifestou-se por nós 6

É por isso que este pequeno texto que eu aqui vos apresentei diz isto: «Deus enviou o seu Filho único para o mundo»; vocês não devem entender isto como um mundo exterior, onde ele comia e bebia conosco, vocês devem entendê-lo do mundo interior. 1 Tão verdadeiramente que, na sua natureza simples, o Pai engendra naturalmente o seu Filho, também verdadeiramente ele o engendra dentro do mais íntimo do espírito, e é esse o mundo interior. Aqui, o fundo de Deus é o meu fundo, e o meu fundo é o fundo de Deus. Aqui eu vivo segundo o meu ser próprio, como Deus vive segundo o seu ser próprio. Para aquele que alguma vez lançou num instante um olhar para dentro desse fundo, para esse ser humano mil marcos de ouro vermelho cunhado são como um heller falso. É a partir desse fundo mais íntimo que tu deves operar todas as tuas obras, sem «porquê». 2 Eu digo-o em verdade: todo o tempo que tu realizas as tuas obras pelo reino celeste, ou por Deus, ou pela tua eterna beatitude, quer dizer a partir

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Por outro lado, é preciso que tu tenhas um coração puro, porque só é puro o coração que reduziu a nada todo o criado. Em terceiro lugar, tu deves estar livre do nada. Perguntam: o que arde no inferno? Os mestres dizem comumente que é a vontade própria que arde no inferno. Mas eu digo na verdade que é o nada que arde no inferno. Escuta esta comparação. Que se pegue num carvão ardente e o coloque sobre a mão. Se eu dissesse que o carvão queima a minha mão, eu seria bastante incorreto. Se eu quero falar com correção daquilo que me queima: é o nada que o faz, porque o carvão tem em si qualquer coisa que a minha mão não tem. Vejam, é esse mesmo nada que me queima. Se a minha mão tivesse em si tudo o que é o carvão e o que ele pode realizar, eu teria absolutamente a natureza do fogo. Aquele que pegasse então em todo o fogo que alguma vez ardeu e o sacudisse sobre a minha mão, isso não me poderia fazer mal. Eu digo igualmente: da mesma maneira que Deus, e todos aqueles que contem

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Eu digo ainda outra coisa e mais importante: aquele que se quer situar diretamente dentro da nudez dessa natureza deve ter escapado a tudo o que ele tem de pessoal, por forma a que ele queira tanto bem ao ser humano que vive do outro lado do mar, que ele nunca viu com os seus olhos, como ao ser humano que está ao pé dele e seja seu amigo íntimo. 1 Todo o tempo que tu queres à tua pessoa mais bem do que ao ser humano que tu nunca viste, tu estás verdadeiramente errado e tu nunca lançaste por um instante um olhar para dentro da simplicidade desse fundo. Tu podes bem ter visto a verdade numa reprodução da imagem, como num símbolo, mas não era o melhor. Notas A natureza humana, que Cristo revestiu, é comum a todos, portanto devemos amar igualmente todos os seres humanos e querer tanto bem quer ao nosso amigo íntimo, quer ao ser humano que vive «do outro lado do mar.» [  ↑  ] [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » O am

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Eu digo outra coisa que vai mais longe: não somente Deus se fez homem, mas mais: ele assumiu a natureza humana. Os mestres dizem comumente que todos os seres humanos são, na sua natureza, igualmente nobres, mas eu digo na verdade: todo o bem que todos os santos possuíram, e Maria, Mãe de Deus, e Cristo segundo a sua humanidade, é meu bem próprio nessa natureza. 1 Ora vocês podem perguntar-me: visto que eu tenho, nessa natureza, tudo o que Cristo me pode oferecer, segundo a sua humanidade, donde vem que nós exaltemos e veneremos Cristo como Nosso Senhor e nosso Deus? É porque ele foi um mensageiro de Deus para conosco e nos trouxe a nossa beatitude. A beatitude que ele nos trouxe era nossa. Lá onde o Pai engendra o seu Filho dentro do fundo mais íntimo, essa natureza aí está ao mesmo tempo incluída. Essa natureza é uma e simples. Qualquer coisa pode bem aqui aparecer no exterior e qualquer coisa ser aí agarrada, mas não é esse Um. Notas Se verdadeiramente este sermão é um r

Mestre Eckhart – O amor de Deus manifestou-se por nós 2

Se existisse em qualquer parte um monarca rico que tivesse uma filha bela e que ele a desse ao filho de um pobre homem, todos aqueles que pertencessem a essa família seriam elevados ou enobrecidos. Ora um mestre diz: Deus fez-se homem, devido a isso todo o género humano é elevado e enobrecido. 1 Nós podemos portanto nos rejubilar que Cristo, nosso irmão, se tenha elevado pelo seu próprio poder acima de todos os coros dos anjos e esteja assentado à direita do Pai. Esse mestre falou acertadamente, mas, na verdade, eu não atribuiria a isso muito valor. Que me importa ter um irmão que seja um homem rico enquanto eu sou ao mesmo tempo um pobre homem? Que me importa ter um irmão que seja um homem sábio enquanto eu sou ao mesmo tempo um insensato? Notas Como no sermão 5a, o primeiro desenvolvimento trata da nobreza que Cristo conferiu à natureza humana ao assimilá-la a si próprio. Eckhart introduz aqui uma imagem que nós não encontramos no sermão precedente: a do rei que dá a sua f

Mestre Eckhart – O amor de Deus manifestou-se por nós 1

Sermão 5b - O amor de Deus manifestou-se por nós O amor de Deus manifestou-se por nós, 1 e tornou-se visível para nós, porque Deus enviou o seu Filho único para o mundo, a fim de nós vivermos com o Filho, e dentro do Filho, e pelo Filho, porque todos aqueles que não vivem pelo Filho estão verdadeiramente errados. 2 Notas O ponto de partida deste sermão é o versículo de 1 João, 4, 9 « In hoc apparuit caritas dei in nobis. » [  ↑  ] Este sermão, que comenta o mesmo texto da Escritura que o sermão precedente, apresenta aproximadamente a mesma estrutura. O especialista Josef Quint pensa que este sermão poderia ser um rearranjo do sermão 5a destinado a suprimir, ou pelo menos a atenuar, algumas das expressões assinaladas pelos críticos. [  ↑  ] [ ◊ ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » O amor de Deus manifestou-se por nós 1