Mestre Eckhart – Jesus entrou num castelo 5

  1. É raro que certos esposos produzam mais de um fruto por ano.
  2. Mas eu penso, desta vez, noutros esposos: penso em todos aqueles que estão ligados com apego à oração, ao jejum, às vigílias e a todos os tipos de exercícios e de austeridades exteriores.
  3. Todo o apego a uma obra qualquer que te retira a tua liberdade de estar à disposição de Deus, neste momento presente, e de o seguir só a ele na luz pela qual ele te convida a agir ou a omitir, livre e novo em cada momento presente, como se tu não tivesses, não quisesses, nem pudesses fazer nada mais – todo o apego, a qualquer obra projetada que te retire essa liberdade constantemente nova, eu chamo-lhe agora ‘um ano’, porque a tua alma não produz nenhum fruto se ela completou a obra que tu empreendeste com apego e se tu também não tens confiança em Deus, nem em ti próprio, a menos que tu não tenhas completado a obra que tu empreendeste com apego, sem o qual tu não terás paz.
  4. É por isso que tu também não dás fruto, se tu não completaste a tua obra.
  5. É a isso que eu designo por ‘um ano’ e o fruto é no entanto pequeno porque ele foi produzido com apego à obra, e não na liberdade.
  6. Eu chamo àqueles de ‘esposos’ porque eles estão ligados pela apropriação.
  7. Eles têm poucos frutos e para além disso esses frutos são pequenos, assim como eu disse.1

Notas

  1. Eckhart insiste mais uma vez na necessidade do desprendimento, não apenas com respeito às ‘imagens’, mas também quanto às ‘obras’. Da mesma forma que os esposos não podem produzir mais do que um «fruto» por ano, também o intelecto não desapropriado produzirá pouco fruto; pelo contrário, se ele não estiver agarrado ao ser próprio, esse «fruto» será produzido mil e mil vezes. O Pai eterno engendra o seu Filho dentro da alma e a alma entrega-lho por seu turno. [  ]
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