Mestre Eckhart – Jesus entrou num castelo 11

  1. Vejam, notem bem! Tão um e simples, acima de todo o modo, é este pequeno castelo forte dentro da alma, do qual eu falo e no qual eu penso, que esta nobre potência (o intelecto) de que eu falei não é digna de lançar uma única vez, durante um instante, um olhar dentro deste pequeno castelo forte, e a outra potência (a vontade) também não, de que eu falei, na qual Deus arde e brilha com toda a sua riqueza e todas as suas delícias, não ousa nunca para lá olhar; tão verdadeiramente um e simples é este pequeno castelo forte, tão elevado acima de todo o modo e de todas as potências é este um único, que nunca potência nem modo, nem Deus ele próprio não podem olhar para lá.
  2. Com toda a verdade, e tão verdadeiro como Deus viver, Deus ele próprio nunca a penetrará um instante, ainda nunca a penetrou com o seu olhar, segundo que ele possui um modo e a propriedade das suas Pessoas.
  3. Compreende-se isto facilmente, porque este um único é sem modo e sem propriedade.
  4. É por isso que, se Deus a tiver alguma vez de penetrar com o seu olhar, isto custar-lhe-á todos os seus nomes divinos e a propriedade das suas Pessoas.
  5. É preciso que ele as deixe todas no exterior para que o seu olhar lá penetre.
  6. É preciso que ele seja o Um na sua simplicidade, sem nenhum modo nem propriedade, lá onde ele não é, neste sentido, nem Pai, nem Filho, nem Espírito Santo, e onde ele é, no entanto, uma qualquer coisa que não é nem isto nem aquilo.1

Notas

  1. Eckhart fala agora do «castelo da alma» conforme o texto do sermão. Esse castelo é tão um e simples quanto Deus é um e simples em si próprio. Esse castelo não designa portanto nada de outro senão o «nada» dentro da alma do sermão precedente. Apesar de Deus engendrar o seu Filho único dentro do intelecto e da vontade, não é aí que Deus e a alma se reúnem mais intimamente. Essas duas nobres potências não são dignas de lançar um olhar para essa «qualquer coisa» dentro da alma. Deus ele próprio não penetra lá senão despojando-se de todos os seus nomes divinos, é a Divindade, o Um sem modo, «anterior» à difusão das Pessoas. [ ↑ ]
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