Mestre Eckhart – Assim se manifestou o amor de Deus 4

  1. «Ele enviou-o para dentro do mundo»: «in mundum». Segundo um dos seus significados, «mundum» quer dizer ‘puro’.
  2. Tomem atenção! Deus não tem nenhum lugar, que seja mais particularmente dele, do que um coração puro e uma alma pura: lá, o Pai engendra o seu Filho tal como ele o engendra na eternidade, nem mais nem menos.
  3. O que é um coração puro? É puro o que está desprendido e separado de todas as criaturas, porque todas as criaturas sujam, porque elas são nada; porque o nada é uma deficiência e uma sujidade da alma.
  4. Todas as criaturas são um puro nada; nem os anjos, nem as criaturas, são alguma coisa.
  5. Elas sujam, porque elas são feitas de nada.
  6. Elas são e eram nada.
  7. Tudo o que é contrário às criaturas, e lhes causa desentendimento, é o nada.1
  8. Se eu pousasse um carvão ardente dentro da minha mão, eu sofreria.
  9. Isto vem unicamente do nada, e se nós fossemos libertos dele, nós não seriamos impuros.2

Notas

  1. Eckhart joga aqui com os dois sentidos da palavra «in mundum»: “mundo” e “puro”. Dentro dum coração puro, o Pai engendra o seu Filho assim como ele o engendra na eternidade, nem mais nem menos. Mas o que é um coração puro? O Mestre retoma o tema do desprendimento: é puro o coração desprendido de todas as criaturas, quer dizer do «nada». [  ]
  2. Encontramos aqui, pela primeira vez, uma das imagens que evocam o tema da dessemelhança: se eu pousasse um carvão ardente dentro da minha mão, eu sofreria porque o nada, quer dizer, tudo o que em mim é criado, se opõe à natureza do fogo. Se nós fossemos da mesma natureza do fogo, e portanto libertos do nada, nós não sofreríamos. Assim, o nada manifesta-se por aquilo que a criatura não tem. [  ]
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