Mestre Eckhart – Agora sei verdadeiramente 1
Sermão 3 - Agora sei verdadeiramente
- «Agora sei verdadeiramente que o Senhor enviou o seu anjo.» (Atos dos Apóstolos, 12, 11)1
- Logo que Pedro foi liberto, das cadeias do seu cativeiro, pelo poder de Deus altíssimo, disse: «Agora eu sei verdadeiramente que Deus me enviou o seu anjo e me libertou do poder de Herodes e das mãos dos inimigos.»
- Nós invertemos esta frase e dizemos: Porque Deus me enviou o seu anjo, eu conheço verdadeiramente.
- «Pedro» quer dizer ‘conhecimento’.
- Já o disse frequentemente: o conhecimento e o intelecto unem a alma a Deus.
- O intelecto penetra dentro do ser puro, o conhecimento precede; o conhecimento corre adiante e fura para que o Filho único de Deus nasça.
- Nosso Senhor, diz em Mateus, que ninguém conhece o Pai senão o Filho.
- Os mestres dizem que o conhecimento depende da semelhança.
- Alguns mestres dizem que a alma é composta por todas as coisas porque ela tem a possibilidade de conhecer todas as coisas.
- Isto parece insensato, mas no entanto é verdade.
- Os mestres dizem: O que eu devo conhecer deve me estar absolutamente presente e semelhante ao meu conhecimento.
- Os santos dizem que no Pai está o ‘poder’, a ‘igualdade’ no Filho e a ‘união’ no Espírito Santo.
- E é porque o Pai está absolutamente presente ao Filho e que o Filho lhe é absolutamente idêntico que ninguém conhece o Pai senão o Filho.2
Notas
- O ponto de partida do sermão é o versículo dos Atos dos Apóstolos, 12, 11: «Nunc scio vere, quia misit domius angelum suum.» [ ↑ ]
- Neste sermão, Mestre Eckhart continua a abordar o conhecimento e a vontade que unem a alma a Deus.
Como faz notar Josef Quint, Eckhart emprega habitualmente um dos termos ‘verstantnisse’ (bekantnisse/conhecimento), ‘vernünfticheit’ (vernunft/intelecto), de sentido próximo, quando ele os quer colocar em oposição à vontade. No início deste sermão 3, pelo contrário, ele atribui um papel diferente à ‘bekantnisse’ (conhecimento) e à ‘vernünfticheit’ (intelecto). O conhecimento faz o furar, corre adiante, faz entrar o intelecto no ser puro, quer dizer, no Deus sem véu, na Divindade. O conhecimento (bekantnisse) é uma princesa, dirá mais adiante o pregador, parecendo identificá-la ao intelecto visto que ele atribui aqui, apenas ao conhecimento (bekantnisse) os papeis que ele tinha anteriormente repartido entre o conhecimento (fazer o furar) e o intelecto (encontrar Deus sem véu). [ ↑ ]
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