Mestre Eckhart – Os justos viverão eternamente 6

  1. Os justos tomam a justiça tão seriamente que se Deus não fosse justo, eles não dariam mais importância a Deus que a uma fava, e eles estão tão firmemente estabelecidos na justiça e tão totalmente saídos deles próprios que eles não dão importância nem às penas do inferno nem às alegrias do reino celeste, nem ao que quer que seja.
  2. Sim, se todos os tormentos daqueles que estão no inferno, seres humanos ou demónios, ou todos os tormentos que alguma vez foram ou serão ainda sofridos sobre a terra estivessem ligados à justiça, eles não lhes dariam a menor importância, tanto eles aderem firmemente a Deus e à justiça.1
  3. Nada é mais doloroso e penoso ao ser humano justo que aquilo que é contrário à justiça: quer dizer, não ser o mesmo em todas as coisas.
  4. Como assim? Se uma coisa os pode alegrar e uma outra coisa os pode entristecer, esses não são justos; bem mais: se eles estão alegres num tempo, eles são alegres em todos os tempos; se eles são mais alegres num tempo e menos num outro, eles estão errados.
  5. Aquele que ama a justiça adere a ela tão firmemente que aquilo que ele ama é o seu ser; ninguém o pode afastar, ele não presta atenção a mais nada.
  6. Santo Agostinho diz: «Onde a alma ama, ela está mais verdadeiramente do que lá onde ela dá a vida.»
  7. O nosso texto tem uma sonoridade simples comum, mas no entanto é com dificuldade que qualquer um compreende o que ele significa; no entanto ele diz a verdade.
  8. Aquele que compreende o ensinamento sobre a Justiça, e o justo, compreende tudo aquilo que eu digo.2

Notas

  1. Vem, em seguida, uma suposição no absurdo, um falso problema: se Deus não fosse justo, Eckhart tomaria, contra Deus, o partido da justiça, mas ele sabe bem que Deus e a justiça são inseparáveis. Ele disse-nos, no “Livro da Consolação Divina”, que a justiça é dada, desde o alto, ao ser humano justo: ele é justo na qualidade de filho da Justiça. [  ]
  2. Nada é mais penoso ao ser humano justo que «o não ser o mesmo em todas as coisas», esta mudança de atitude ao sabor dos acontecimentos é uma falta ao dever de justiça para com Deus. Eckhart atribui uma tal importância a este ponto da doutrina que acrescenta: «Aquele que compreende o ensinamento sobre a Justiça, e o justo, compreende tudo aquilo que eu digo.» Trata-se, com efeito, da relação íntima do ser humano com Deus na submissão absoluta e feliz da sua vontade. [  ]
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