Mestre Eckhart – Os justos viverão eternamente 6
- Os justos tomam a justiça tão seriamente que se Deus não fosse justo, eles não dariam mais importância a Deus que a uma fava, e eles estão tão firmemente estabelecidos na justiça e tão totalmente saídos deles próprios que eles não dão importância nem às penas do inferno nem às alegrias do reino celeste, nem ao que quer que seja.
- Sim, se todos os tormentos daqueles que estão no inferno, seres humanos ou demónios, ou todos os tormentos que alguma vez foram ou serão ainda sofridos sobre a terra estivessem ligados à justiça, eles não lhes dariam a menor importância, tanto eles aderem firmemente a Deus e à justiça.1
- Nada é mais doloroso e penoso ao ser humano justo que aquilo que é contrário à justiça: quer dizer, não ser o mesmo em todas as coisas.
- Como assim? Se uma coisa os pode alegrar e uma outra coisa os pode entristecer, esses não são justos; bem mais: se eles estão alegres num tempo, eles são alegres em todos os tempos; se eles são mais alegres num tempo e menos num outro, eles estão errados.
- Aquele que ama a justiça adere a ela tão firmemente que aquilo que ele ama é o seu ser; ninguém o pode afastar, ele não presta atenção a mais nada.
- Santo Agostinho diz: «Onde a alma ama, ela está mais verdadeiramente do que lá onde ela dá a vida.»
- O nosso texto tem uma sonoridade simples comum, mas no entanto é com dificuldade que qualquer um compreende o que ele significa; no entanto ele diz a verdade.
- Aquele que compreende o ensinamento sobre a Justiça, e o justo, compreende tudo aquilo que eu digo.2
Notas
- Vem, em seguida, uma suposição no absurdo, um falso problema: se Deus não fosse justo, Eckhart tomaria, contra Deus, o partido da justiça, mas ele sabe bem que Deus e a justiça são inseparáveis. Ele disse-nos, no “Livro da Consolação Divina”, que a justiça é dada, desde o alto, ao ser humano justo: ele é justo na qualidade de filho da Justiça. [ ↑ ]
- Nada é mais penoso ao ser humano justo que «o não ser o mesmo em todas as coisas», esta mudança de atitude ao sabor dos acontecimentos é uma falta ao dever de justiça para com Deus. Eckhart atribui uma tal importância a este ponto da doutrina que acrescenta: «Aquele que compreende o ensinamento sobre a Justiça, e o justo, compreende tudo aquilo que eu digo.» Trata-se, com efeito, da relação íntima do ser humano com Deus na submissão absoluta e feliz da sua vontade. [ ↑ ]
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