Mestre Eckhart – Eles estão mortos 1
Sermão 8 - Eles estão mortos
- Lemos sobre os mártires: «Eles estão mortos sob a espada.»1
- Nosso Senhor diz aos seus discípulos: «Felizes são vocês por sofrerem qualquer coisa pelo meu nome.»
- É dito: «Eles estão mortos.»
- Eles estão mortos significa, primeiramente, que aquilo que sofremos no mundo e neste corpo tem um fim.
- Santo Agostinho diz: Toda aflição, toda obra penosa tem fim, mas a recompensa que Deus dá em troca é eterna.
- A segunda coisa a considerar, é que toda esta vida é mortal, que nós não devemos temer toda a aflição e todo o sofrimento que nos acontecem, porque eles terão fim.
- Em terceiro lugar, nós devemos nos comportar como se estivéssemos mortos, por forma que nem prazer nem desentendimento nos toquem.
- Um mestre diz: Nada pode tocar o céu, quer dizer: é um ser celeste, o ser humano para quem todas as coisas não têm suficiente importância para que o possam tocar.
- Um mestre diz: Visto que todas as criaturas são tão indigentes, porque é que elas afastam o ser humano, tão facilmente, de Deus?
- A alma, no que ela tem de mais indigente, tem no entanto mais valor que o céu e todas as criaturas.
- Ele responde: Isso resulta do ser humano prestar pouca atenção a Deus.
- Se o ser humano prestasse atenção a Deus como devia, seria quase impossível que ele desfalecesse alguma vez.
- Que o ser humano se deve comportar neste mundo como se estivesse morto, esse é um bom ensinamento.
- São Gregório diz que ninguém pode possuir muito de Deus se não está fundamentalmente morto para este mundo.2
Notas
- O ponto de partida do sermão é o versículo de Aos Hebreus 11, 37: «In occisione gladii mortui sunt.» [ ↑ ]
- Nas notas da sua tradução em alemão moderno (1955), Josef Quint fez um comentário a este difícil sermão. Este comentário foi repetido em termos quase idênticos na grande edição. Apesar de certos manuscritos não conterem a parte final, ele considera-a autêntica. Eis a tradução do seu texto na grande edição:
«A parte final, a partir de “É preciso estar fundamentalmente morto”, não pode ser, a meu ver, uma adição ulterior porque é apenas ela que desenvolve organicamente, a partir daquilo que precede, a técnica de «estar fundamentalmente morto», a ética da transformação da vida comum em uma vida no ser. À parte das breves exposições liminares sobre o sofrimento e o condenável agarrar à criatura, o pregador expõe, nas partes precedentes do sermão, uma ampla especulação sobre o ser. O objetivo é demonstrar a preeminência do ser metafísico sobre a vida terrestre, e da unidade da vida e do ser dentro do ser divino. Apenas então, a parte final, tomando por base a precedente especulação sobre o ser, ensina como trazer de volta, praticamente, ao seu lugar, a alma que se perdeu na vida dos sentidos, em contacto com o mundo das criaturas, dispersa dentro das contradições, em direção a uma vida dentro do ser que reúne na unidade todas as contradições, e isto, graças à luz do intelecto onde nada morre, assim como também nada morre dentro do ser divino para lá do tempo. É apenas por esta ética, desenvolvida a partir da metafísica, que o sermão forma um conjunto completo.» [ ↑ ]
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