Mestre Eckhart – O amor de Deus manifestou-se por nós 5

  1. Por outro lado, é preciso que tu tenhas um coração puro, porque só é puro o coração que reduziu a nada todo o criado.
  2. Em terceiro lugar, tu deves estar livre do nada.
  3. Perguntam: o que arde no inferno?
  4. Os mestres dizem comumente que é a vontade própria que arde no inferno.
  5. Mas eu digo na verdade que é o nada que arde no inferno.
  6. Escuta esta comparação.
  7. Que se pegue num carvão ardente e o coloque sobre a mão.
  8. Se eu dissesse que o carvão queima a minha mão, eu seria bastante incorreto.
  9. Se eu quero falar com correção daquilo que me queima: é o nada que o faz, porque o carvão tem em si qualquer coisa que a minha mão não tem.
  10. Vejam, é esse mesmo nada que me queima.
  11. Se a minha mão tivesse em si tudo o que é o carvão e o que ele pode realizar, eu teria absolutamente a natureza do fogo.
  12. Aquele que pegasse então em todo o fogo que alguma vez ardeu e o sacudisse sobre a minha mão, isso não me poderia fazer mal.
  13. Eu digo igualmente: da mesma maneira que Deus, e todos aqueles que contemplam Deus, têm em si, dentro da verdadeira beatitude, aquilo que não têm aqueles que estão separados de Deus, esse nada atormenta as almas que estão no inferno mais do que a vontade própria ou qualquer fogo.1
  14. Eu digo na verdade: na medida em que o nada está agarrado a ti, nessa mesma medida tu és imperfeito.
  15. Se portanto tu queres ser perfeito, tu deves libertar-te do nada.

Notas

  1. Eckhart insiste sobre a necessidade de termos um coração puro, mas a comparação com o carvão está aqui mais desenvolvida do que no sermão 5a. O carvão queima a minha mão porque, transformado em fogo, tem em si qualquer coisa que a minha mão não tem. É esse nada, essa negação daquilo que possuem os bem-aventurados, a contemplação de Deus, que atormenta as almas no inferno, mais do que a vontade própria ou o fogo. [  ]
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