Mestre Eckhart – Os justos viverão eternamente 1

Sermão 6 - Os justos viverão eternamente

  1. «Os justos viverão eternamente e a sua recompensa está próxima de Deus.» Sabedoria 5,161
  2. Notem bem o sentido desta frase; mesmo se ela tem uma sonoridade simples e comum, ela é muito digna de atenção e muito boa.
  3. «Os justos viverão.»
  4. Quem são os justos?
  5. Um texto diz: É justo aquele que dá a cada um aquilo que lhe pertence: aquele que dá a Deus o que lhe pertence, aos santos e aos anjos o que lhes pertence, ao seu próximo aquilo que lhe pertence.2

Notas

  1. O ponto de partida do sermão é o versículo de Sabedoria 5, 16: «Iusti vivent in aeternum.» ]
  2. O sermão “Os Justos Viverão Eternamente”, na grande edição, é precedido dum texto reproduzido segundo um manuscrito da Biblioteca Nacional de Paris, ao qual os críticos não parecem até aqui ter prestado grande atenção. A primeira e a última frase aproximam-se, pelo seu conteúdo, dum texto do próprio sermão, mas é apresentado de uma forma, e pode-se dizer, numa atmosfera diferente.
    «Mestre Eckhart: O ser divino é o meu ser e o meu ser é o ser divino. Os estudantes não conseguiam compreendê-lo. Então o próprio Mestre Eckhart colocou-lhes uma questão, ele perguntou-lhes onde Deus está mais intensamente nele próprio e foi ele que respondeu à questão: Deus está mais intensamente em si próprio, como eu disse frequentemente, quando a alma é levada a uma quietude e a um despojamento dela própria, que ela é conduzida a um deserto onde ela não sabe nada dela própria, onde Deus se conhece como sendo a origem de tudo o que existe e contempla a sua natureza na nudez, onde a sua natureza se expande espiritualmente para dentro de todas as criaturas e dá o ser a todas as criaturas -, se portanto a natureza divina é a minha natureza, o ser de Deus é o meu ser e o meu ser é o ser divino. Deus está mais presente a todas as criaturas do que a criatura está presente a ela própria.»
    A sintaxe desafia a tradução. É bem o vocabulário eckhartiano, mas manejado por uma mão inexperiente. Não teria sido um dos estudantes presentes a esta cena que o teria reportado? No entanto, não é na exatidão formal que está o interesse deste texto. Nós temos o hábito de ver Mestre Eckhart na sua cadeira de pregador, na presença dos seus auditores e, mais frequentemente ainda, das suas auditoras. Ele está aqui entre os seus estudantes que não o compreendem. A união da alma a Deus é apresentada não segundo o modo doutoral, mas segundo uma experiência pessoal, vivida, parece, como se um dos próximos de Eckhart nos tivesse revelado o segredo do mestre. [  ]
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