Mestre Eckhart – Quem me está a ouvir 5

O mais elevado e o mais extremo a que o ser humano pode renunciar, é renunciar a Deus por Deus; ora São Paulo renunciava a Deus por Deus; ele renunciava a tudo o que podia obter de Deus, renunciava a tudo o que Deus lhe podia dar e a tudo o que poderia receber de Deus.
Quando renunciou a isso, ele renunciou a Deus por Deus e Deus permaneceu com ele, tal como ele está presente a si mesmo, não recebido ou adquirido, mas no ser puro que Deus é em si mesmo.
Ele nunca deu nada a Deus, ele nunca recebeu nada de Deus, é um um em unidade e uma união pura.
Aqui, o ser humano é um ser humano verdadeiro, e nenhum sofrimento se pode abater sobre esse ser humano, tal como não se pode abater sobre o ser de Deus; assim, como eu já disse muitas vezes, há qualquer coisa na alma tão aparentada com Deus que é um com ele, e não unida a ele.
É um, essa coisa não tem nada de comum com nada, e ela também não tem nada de comum com tudo o que é criado.
Tudo o que é criado é nada.
Ora, essa coisa está longe de todas as coisas criadas e estrangeiras a ela.
Se o ser humano fosse inteiramente assim, seria totalmente incriado e incriável; se tudo o que é corpóreo e deficiente fosse assim compreendido na Unidade, não seria outra coisa senão a própria Unidade.¹
Se eu me encontrasse nesse ser por um momento, eu não daria mais importância a mim do que a um verme.

Notas

Não voltaremos a explicar os termos «incriado» e «incriável». Este sermão Quem me está a ouvir é um daqueles onde se encontram essas expressões. Ver o Anexo Incriado e Incriável. [ ↑ ]

São Nuno