Mestre Eckhart – Quem me está a ouvir 4

É por isso que São Paulo diz: «Eu gostaria de estar eternamente separado de Deus, pelo meu amigo e por Deus.
Separar-se por um momento de Deus é estar eternamente separado de Deus; estar separado de Deus é o tormento do inferno.
Então, no que pensa São Paulo quando diz que gostaria de estar separado de Deus?
Ora, os mestres perguntam se São Paulo estava no caminho da perfeição ou se ele já estava na plena perfeição.
Eu digo que ele estava na plena perfeição, senão ele não poderia ter falado assim.
Quero explicar esta frase de São Paulo dizendo que ele queria estar separado de Deus.¹

Notas

Eckhart cita repetidamente, nas suas obras latinas assim como nas suas obras alemãs, as palavras de São Paulo aceitando ser separado de Deus por amor de Deus. A interpretação que ele dá aqui parece ir além daquilo que ele nos disse nas Instruções Espirituais e por duas vezes no Livro da Consolação Divina: amar a Deus no mais perfeito desinteresse, na mais perfeita pobreza de espírito. São Paulo renuncia a tudo o que pode obter de Deus, a tudo o que Deus lhe possa dar, mas Deus permanece para ele tal como ele é presentemente para ele próprio. As frases que se seguem sobre o um e sobre a união pura, a recordação do «qualquer coisa» na alma, indicam claramente que Mestre Eckhart entende com isso, em São Paulo, a união do «fundo» da alma com a Divindade, apesar dessas palavras não serem ditas. [ ↑ ]

São Nuno