Mestre Eckhart – Quem me está a ouvir 6

Deus dá tanto, a todas as coisas, e quando elas fluem de Deus, elas são iguais; sim, anjos e seres humano e todas as criaturas fluem de Deus, iguais na sua primeira difusão.
Quem pegasse nas coisas, na sua primeira difusão, pegaria em todas as coisas como iguais.
Se elas já são iguais no tempo, elas são muito mais iguais em Deus, na eternidade.
Se considerarmos uma mosca, em Deus, ela é muito mais nobre, em Deus, do que o anjo mais elevado é, em si mesmo.¹
Portanto, todas as coisas são iguais em Deus e são Deus ele próprio.
Deus sente tanta alegria nessa igualdade que ele derrama completamente a sua natureza e o seu ser nessa igualdade em si mesmo.
Ele sente alegria nisso da mesma maneira que quem faz correr um cavalo de guerra num campo verde completamente plano e unido: a natureza do cavalo seria a de se empenhar totalmente com todas as suas forças aos saltos no campo; seria para ele uma alegria e seria a sua natureza.
Da mesma forma, é uma alegria e uma satisfação para Deus quando ele encontra a igualdade; é uma alegria para ele derramar plenamente a sua natureza e o seu ser na igualdade porque ele é a própria igualdade.²

Notas

O desenvolvimento a seguir fala da unidade que existia em Deus quando todas as coisas eram iguais nele, fluindo dele na sua primeira difusão. Ele diz, familiarmente, neste sermão que, em Deus, a mosca é muito mais nobre do que o anjo mais alto é, em si mesmo. [ ↑ ]
Depois desta comparação simples, eis agora uma, inesperada, duma poesia ousada e grandiosa. Para evocar a alegria de Deus contemplando em si os arquétipos das suas criaturas, Eckhart apresenta-nos a imagem dum nobre corcel saltitando num campo verde, plano e unido, empenhando-se ali com todas as suas forças. [ ↑ ]

São Nuno