Imitação de Cristo - 3.46. Que devemos confiar em Deus, quando somos assaltados por palavras injuriosas
- Cristo: Meu filho, fica firme e tem esperança em mim.
- Afinal, o que são meras palavras?
- São um barulho vão: elas ferem o ar, mas não quebram a pedra.
- Se tu és culpado, lembra-te que o teu desejo deve ser o de te corrigires. Se a tua consciência não te censura de nada, pensa que deves sofrer com alegria essa leve dor por Deus.
- É o mínimo que, de vez em quando, tu suportes algumas palavras, tu que ainda não consegues suportar provações mais duras.
- E porque é que essas pequenas coisas atingem o teu coração, se não é porque tu ainda és carnal, e demasiado ocupado com os julgamentos das pessoas?
- Temes o desprezo, e por isso não queres ser censurado pelos teus erros, e procuras desculpas para encobri-los.
- Perscruta melhor o teu coração, e reconhecerás que o mundo ainda vive em ti, assim como o vão desejo de agradar às pessoas.
- Porque, a tua relutância em seres humilhado, confundido pelas tuas fraquezas, prova que tu não tens uma humildade sincera, que tu não estás «verdadeiramente morto para o mundo, e que o mundo não está crucificado para ti» (Gálatas 6, 14).
- Escuta a minha palavra, e ficarás pouco inquieto com todas as palavras das pessoas.
- Quando elas disserem contra ti tudo o que a malícia mais negra consegue inventar, como é que isso te prejudicaria, se tu deixasses isso passar como uma palha levada pelo vento?
- Perderias um único fio do teu cabelo?
- Aquele cujo coração não está fechado em si mesmo, e que não tem Deus sempre presente, é facilmente perturbado por uma palavra de censura.
- Mas aquele que confia em mim, e que não se apoia no seu próprio julgamento, não temerá nada das pessoas.
- Porque sou eu que conheço, e que julgo, o que é secreto.
- Eu conheço a verdade de todas as coisas, quem fez a injúria, e quem a padeceu.
- Aquela palavra, veio de mim; aquele evento, fui eu quem o permitiu «para que fossem revelados os pensamentos de muitos corações» (Lucas 2, 35).
- Eu julgarei o inocente e o culpado; mas com um julgamento secreto, antes, eu quis testar um e o outro.
- O testemunho das pessoas muitas vezes engana, mas o meu julgamento é verdadeiro; permanecerá e não será abalado.
- Na maioria das vezes, está escondido e poucas pessoas o descobrem em cada coisa; no entanto, ele nunca erra, e não pode errar, embora nem sempre pareça justo aos olhos dos insensatos.
- É, portanto, a mim que deves reportar o julgamento sobre tudo, sem nunca confiares no teu próprio parecer.
- «O justo não se perturbará, aconteça-lhe o que acontecer» (Provérbios 10, 21) pela ordem de Deus.
- Pouco lhe importará que seja acusado injustamente. E se outros o defenderem e conseguirem justificá-lo, ele também não conceberá uma alegria vã.
- Porque ele se lembrará «que sou eu quem sonda os corações» (Salmos 7, 9), e que eu não julgo pelo exterior, nem pelas aparências humanas.
- Aquilo que parece louvável ao julgamento das pessoas, é muitas vezes criminoso aos meus olhos.
- Alma: Senhor, meu Deus, juiz infinitamente justo, forte e paciente, que conheceis a fragilidade humana e a sua inclinação para o mal, sede a minha força e toda a minha confiança; porque a minha consciência não é suficiente para mim.
- Vós sabeis aquilo que eu não sei; assim, eu devo rebaixar-me sob todas as censuras e suportá-las com paciência.
- Perdoai-me, na vossa bondade, todas as vezes em que eu não agi dessa maneira, e dai-me mais abundantemente a graça que me ensina a sofrer.
- Porque, eu devo contar muito mais com a vossa grande misericórdia para obter o perdão, do que com a minha aparente virtude, para justificar o que a minha consciência oculta.
- «Apesar de eu não me censurar de nada, não fico, no entanto, justificado por isso» (1 Coríntios 4, 4); porque sem a vossa misericórdia, «nenhum ser humano se encontrará justo na vossa presença» (Salmos 143(142), 2).
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