Imitação de Cristo - 3.45. Que não devemos acreditar em todos, e que é difícil manter uma medida sábia nas nossas palavras
- Alma: «Ajudai-me, Senhor, na tribulação, porque a salvação não vem dos seres humanos» (Salmos 60(59), 11).
- Quantas vezes procurei em vão a fidelidade onde pensava que a encontraria?
- E quantas vezes a encontrei onde menos esperava?
- Vaidade portanto é esperar nos seres humanos.
- Mas vós sois, meu Deus, a salvação dos justos.
- Abençoado sejais, Senhor, em tudo o que nos acontece.
- Somos fracos e mutáveis, uma ninharia nos seduz e nos abala.
- Quem é o ser humano tão vigilante e tão reservado, que nunca cai em nenhuma surpresa, nem em nenhuma perplexidade?
- Mas aquele, meu Deus, que confia em vós, e que vos procura na simplicidade do seu coração, não vacila tão facilmente.
- E se ele passar por alguma aflição, se estiver envolvido nalgum constrangimento, vós logo o resgatareis ou o consolareis, porque vós não abandonais para sempre aquele que espera em vós.
- O que há de mais raro do que um amigo fiel, que não se afasta quando o infortúnio oprime o seu amigo?
- Senhor, somente vós sois constantemente fiel, e nenhum amigo é comparável a vós.
- Oh! Que sabedoria no que dizia esta santa alma: «O meu coração está estabelecido e fundado em Jesus Cristo» (Santa Ágata).
- Se fosse assim comigo, eu ficaria menos perturbado com medo das pessoas, e menos movido com as suas palavras maliciosas.
- Quem pode prever, quem pode desviar todos os males que estão para vir? Se aqueles que previmos muitas vezes ainda doem, o que será daqueles que nos atingem inesperadamente?
- Porque, infeliz que sou, não tomei precauções mais seguras para mim?
- Porque também tive tanta credulidade nos outros?
- Mas nós somos seres humanos, e nada mais que pessoas frágeis, apesar de muitos acreditarem em nós ou nos chamarem de anjos.
- Em quem acreditarei, Senhor, senão em vós?
- Vós sois a verdade que não engana e que não pode ser enganada.
- Pelo contrário, «todo ser humano é mentiroso» (Salmos 62(61), 9), fraco, inconstante, frágil, principalmente nas suas palavras; de modo que dificilmente se pode acreditar, mesmo no que parece mais verdadeiro do que ele diz.
- Com quanta razão vós, sabiamente, nos advertistes para desconfiarmos das pessoas; porque «os inimigos do ser humano são os da sua própria casa» (Miquéias 7, 2; Mateus 10, 36); e para que se alguém dissesse: «Cristo está aqui, ou está ali» (Mateus 24, 23), não devíamos acreditar.
- Uma experiência difícil iluminou-me; fico feliz se ela me servir para me tornar menos insensato e mais vigilante!
- Seja discreto, alguém me disse, seja discreto; o que eu lhe digo é só para si. E enquanto eu estou calado e acredito no segredo, ele mesmo não consegue guardar o silêncio que me pediu; mas no momento em que ele me trai, trai-se a si mesmo e vai-se embora.
- Afastai de mim, Senhor, essas confidências enganosas; não permitais que eu caia nas mãos dessas pessoas indiscretas, ou que me pareça com elas.
- Colocai na minha boca palavras invariáveis e verdadeiras; e que a minha língua seja estranha a todo artifício. Do que não consigo suportar nos outros, devo proteger-me cuidadosamente.
- Oh! como é bom, como é necessário para a paz, o calar-me sobre os outros, o não acreditar em tudo indiscriminadamente, nem repetir tudo sem reflexão, o descobrir-me apenas a poucas pessoas, o buscar-vos sempre como testemunha do meu coração, o não me deixar levar por qualquer vento de palavras, mas desejar que tudo dentro de mim e fora de mim se realize conforme a vossa vontade.
- Mais, é um caminho seguro, para conservar a graça celeste, o fugir do que tem brilho aos olhos das pessoas, o não buscar o que parece atrair a admiração delas, o trabalhar arduamente para adquirir o que produz fervor e corrige a vida!
- A quantas pessoas foi funesta uma virtude conhecida e louvada cedo demais!
- Quantos frutos, pelo contrário, outras tiraram duma graça preservada em silêncio durante esta vida frágil, que não é mais do que uma tentação e uma guerra contínua!
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