Mestre Eckhart – Quem me está a ouvir 8

O ser humano que está assim estabelecido na vontade de Deus não quer nada para além do que é Deus, e do que é a vontade de Deus.
Se ele estivesse doente, ele não quereria estar bem.
Toda a dor é para ele uma alegria, toda a multiplicidade é para ele uma simplicidade e uma unidade, se ele estiver verdadeiramente estabelecido na vontade de Deus.
Sim, se até mesmo fosse um tormento do inferno, seria uma alegria e uma felicidade para ele.
Ele está liberto e saído de si mesmo, e ele tem que se libertar de tudo o que tem que receber.
Se o meu olho tem que ver a cor, ele tem que estar livre de todas as cores.
Se eu vejo uma cor azul ou branca, a visão do meu olho que vê a cor, aquilo mesmo que vê, é idêntico ao que é visto pelo olho.
O olho no qual eu vejo Deus é o mesmo olho no qual Deus me vê a mim: o meu olho e o olho de Deus é um só olho, e uma visão, e um conhecimento, e um amor.¹

Notas

Como os anjos, o ser humano deve estabelecer-se na vontade divina. A condição é que ele esteja completamente liberto daquilo que o toca, assim como o olho tem que estar liberto de toda a cor para ver as cores. A identidade da visão e da coisa vista oferece ao pregador uma nova comparação para estabelecer a identidade entre Deus e o ser humano: «O olho no qual eu vejo Deus é o mesmo olho no qual Deus me vê e mim: o meu olho e o olho de Deus é um só olho, e uma visão, e um conhecimento, e um amor.» [ ↑ ]

São Nuno