Imitação de Cristo - 3.23. Das quatro coisas importantes para conservar a paz

Cristo: Meu filho, agora vou ensinar-te o caminho da paz e da verdadeira liberdade.
Alma: Fazei, Senhor, como dizeis; pois é agradável para mim ouvir-vos.
Cristo: Aplica-te, meu filho, a fazer a vontade dos outros e não a tua.
Prefere sempre ter menos do que mais.
Procura sempre o último lugar, e estar abaixo de todos.
Deseja sempre e reza para que a vontade de Deus seja feita perfeitamente em ti.
Aquele que faz isto, está na via da paz e do repouso.
Alma: Senhor, esses breves preceitos encerram uma grande perfeição.
Eles contêm poucas palavras; mas elas estão cheias de sentido, e são abundantes em frutos.
Se eu fosse fiel em observá-las, não cairia tão facilmente na perturbação.
Porque, sempre que perco a calma e a paz, reconheço que me desviei dessas máximas.
Mas vós, que tudo podeis, e que desejais sempre o progresso das almas, aumentai em mim a vossa graça, para que, obedecendo ao que mandais, eu possa realizar a minha salvação.

Senhor meu Deus, «não vos afasteis de mim; meu Deus, vinde em meu auxílio» (Salmos 71(70), 12), porque uma multidão de pensamentos diversos me assalta, e grandes terrores agitam a minha alma.
Como vou passar por tantos inimigos sem ser ferido? Como vou vencê-los?
«Eu irei adiante de ti», diz o Senhor, «e humilharei os soberbos da terra.
Abrirei as portas da prisão e te revelarei os mais ocultos segredos» (Isaías 45, 2-3).
Fazei, Senhor, de acordo com a vossa palavra; e que todos os pensamentos maus fujam diante de vós.
A minha única esperança, a minha única consolação nos males que me ameaçam é refugiar-me em vós, confiar-me a vós, invocar-vos do fundo do meu coração, e esperar com paciência pelo vosso socorro.

Iluminai-me interiormente, ó bom Jesus!
Fazei brilhar a vossa luz no meu coração, e dissipai todas as suas trevas.
Parai o meu espírito errante, e quebrai a violência das tentações que me impelem.
Estendei o vosso braço para mim, e domai estas feras furiosas, esta avidez devoradora, «para que eu encontre a paz na vossa força» (Salmos 122(121), 7), e que os vossos louvores ressoem sem cessar no vosso santuário, numa consciência pura.
Ordenai aos ventos e às tempestades; «dizei ao mar: Acalma-te; ao vento: Não sopres, e haverá uma grande calma» (Marcos 4, 39).
«Enviai a vossa luz e a vossa verdade» (Salmos 43(42), 3), para que elas brilhem sobre a terra; porque eu não sou mais do que uma terra estéril e tenebrosa, até que vós me iluminais.
Derramai do alto a vossa graça, banhai o meu coração com o orvalho celeste, regai com as águas férteis da piedade esta terra árida, para que produza frutos bons e salutares.
Elevai a minha alma, abatida sob o peso dos seus pecados, transportai todos os meus desejos para o céu, para que, tendo bebido na fonte das bênçãos eternas, não possa mais pensar nas coisas da terra sem desgosto.
Afastai-me, separai-me de todas as consolações fugitivas das criaturas, porque nenhuma coisa criada pode satisfazer ou saciar plenamente o meu coração.
Uni-me a vós pelo vínculo indissolúvel do amor, porque só vós bastais para aquele que vos ama, e tudo o resto sem vós não é nada.

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São Nuno