Imitação de Cristo - 3.22. Da lembrança das bênçãos de Deus
- Alma: «Senhor! abri o meu coração à vossa lei» (2 Macabeus 1, 4), e «ensinai-me a andar na via dos vosso mandamentos» (Salmos 119(118), 35).
- Fazei com que conheça a vossa vontade, e que recorde na minha memória, com grande respeito e séria atenção, todos os vossos benefícios, para que vos preste dignas ações de graças.
- No entanto, eu sei, e confesso, que não consigo reconhecer dignamente o menor dos vossos favores.
- Estou abaixo de todos os bens que vós me concedestes; e quando considero a vossa elevação infinita, o meu espírito abisma-se na vossa grandeza.
- Tudo o que nós temos em nós, no nosso corpo, na nossa alma, tudo o que possuímos, quer dentro quer fora, na ordem da graça ou da natureza, fostes vós quem o deu; e os vossos benefícios recordam-nos constantemente a vossa bondade, a vossa ternura, a imensa liberalidade que vós usais para conosco, vós de quem vêm todos os bens.
- Porque tudo vem de vós, apesar de um receber mais, e o outro menos; e sem vós, ficaríamos para sempre privados de todo bem.
- Aquele que recebeu mais, não se deve gabar do seu mérito, nem se elevar acima dos outros, nem insultar aquele que recebeu menos; porque, é o melhor e o maior, aquele que atribui o mínimo a si mesmo, e que dá graças com mais fervor e humildade.
- E aquele que considera ser o mais vil e o mais indigno de todos, é o mais apto para receber grandes dons.
- Aquele que recebeu menos, não se deve nem lamentar, nem reclamar, nem invejar contra aqueles que receberam mais, mas antes olhar apenas para vós, e louvar com toda a alma a vossa bondade, sempre pronta para distribuir os seus dons tão abundantemente, tão gratuitamente, sem acepção pelas pessoas.
- Tudo vem de vós, e assim vós deveis ser louvado por tudo.
- Vós sabeis o que convém ser dado a cada um, porque este recebe mais, aquele outro menos; não compete a nós este discernimento, mas a vós que pesais todos os méritos.
- Por isso, Senhor meu Deus, considero uma graça singular que vós me concedestes poucos desses dons que aparecem no exterior e que atraem os louvores e a admiração das pessoas.
- E certamente, considerando a nossa indigência e a nossa abjeção, longe de sermos abatidos, longe de concebermos qualquer dor, qualquer tristeza, devemos antes sentir uma suave consolação, uma grande alegria; porque vós escolhestes, meu Deus, para vossos amigos e vossos servos, os pobres, os humildes, aqueles que o mundo despreza.
- Tais foram os vossos próprios apóstolos, a quem «constituístes príncipes sobre toda a terra» (Salmos 45(44), 16).
- Eles passaram por este mundo sem reclamar, puros de toda astúcia e até do pensamento do mal, tão simples e tão humildes que «se regozijavam em sofrer injúrias por vosso nome» (Atos 5, 41), e que abraçaram com amor tudo o que o mundo abomina.
- Nada deve causar tanta alegria, àquele que vos ama e que conhece o preço dos vossos benefícios, do que o cumprimento da vossa vontade e dos vossos desígnios eternos para com ele.
- Ele encontra nisto um contentamento, uma consolação, que faz com que consinta tão voluntariamente em ser o mais pequeno, enquanto que outros desejam com ardor ser os maiores; que ele seja tão tranquilo, tão satisfeito no último lugar quanto no primeiro lugar.
- E que, sempre pronto a sofrer o desprezo, as rejeições, se considera tão feliz por não ter nome, não ter reputação, tanto quanto os outros desejam gozar das honras e das grandezas do mundo.
- Porque a vossa vontade, e o zelo da vossa glória, estão para ele acima de tudo, e agradam-lhe e consolam-no mais do que todos os dons que vós lhe destes, e que ainda lhe podeis vir a dar.
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