Imitação de Cristo - 3.20. Da confissão da sua fraqueza e das misérias desta vida

  1. Alma: «Confessarei, contra mim, a minha iniquidade» (Salmos 32(31), 5); confessarei a vós, Senhor, a minha fraqueza.
  2. Frequentemente, uma ninharia me abate, e me lança na tristeza.
  3. Proponho-me agir com força; mas à menor tentação que surge, caio numa grande angústia.
  4. Frequentemente, é uma coisa mínima, e desprezível, que me causa uma tentação violenta.
  5. E, quando não sinto nada dentro de mim, e acredito que estou um pouco em segurança, às vezes vejo-me abatido por um ligeiro sopro.
  6. Vede então, Senhor, a minha impotência e a minha fragilidade, que tudo se manifesta aos vossos olhos.
  7. Tende piedade de mim e «tirai-me da lama, para que não fique enterrado» (Salmos 69(68), 14) e submergido nela para sempre.
  8. O que frequentemente causa a minha dor e a minha confusão diante de vós, é cair tão facilmente e ser tão fraco contra as minhas paixões.
  9. Apesar delas não conseguirem arrancar-me um pleno consentimento, as suas solicitações cansam-me e sobrecarregam-me.
  10. E é um grande aborrecimento para mim viver assim sempre em guerra.
  11. Acima de tudo, reconheço nisto a minha fraqueza, que as mais horríveis imaginações se apoderam do meu espírito com muito mais facilidade do que o abandonam.
  12. Poderoso Deus de Israel, defensor das almas fiéis, dignai-vos lançar um olhar sobre o vosso servo aflito e metido em trabalhos, e estai perto dele para o ajudar em tudo o que ele empreender.
  13. Enchei-me com uma força toda celeste para que o velho homem, essa carne pecaminosa que ainda não está totalmente sujeita ao espírito, não prevaleça e não domine, contra a qual devemos combater até ao último suspiro, nesta vida carregada de tantas misérias.
  14. Ah! o que é esta vida, cercada por todos os lados por tribulações e tristezas, cercada por armadilhas e inimigos!
  15. Se somos libertos duma aflição ou tentação, uma outra lhe sucede; e ainda estamos a combater contra a primeira, já outras surgem inesperadamente.
  16. Como se pode amar uma vida cheia de tanta amargura, sujeita a tantos males e calamidades?
  17. Como se pode chamar mesmo de vida ao que gera tantas dores e tantas mortes?
  18. E, no entanto, nós a amamos, e muitos buscam nela a sua felicidade.
  19. Censuram, frequentemente, o mundo por ser enganador e vão; e, no entanto, saímos dele com dificuldade porque ainda estamos dominados pela avidez da carne.
  20. Certas coisas inclinam-nos para amar o mundo, outras para desprezá-lo.
  21. Inspiram o amor ao mundo «o desejo da carne, a cobiça dos olhos, e o orgulho da vida» (1 João 2, 16); mas as tristezas e misérias que os seguem produzem, justamente, o ódio e o desgosto pelo mundo.
  22. Mas, ai! o prazer mau triunfa sobre a alma entregue ao mundo: ela repousa com delícias na escravidão dos sentidos porque não conhece, nem provou, as suavidades celestes, nem o encanto interior da virtude.
  23. Mas aqueles que, desprezando o mundo perfeitamente, se esforçam por viver para Deus sob uma santa disciplina, não desconhecem as divinas doçuras prometidas à verdadeira renúncia, e vêem com clareza quanto o mundo, enganado por ilusões diversas, se extravia perigosamente.
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