Vida de São Nuno - Entre Guerra e Paz

ENTRE GUERRA E PAZ (1389-1402)

  • 1389-02 e 03 - Cortes em Lisboa.
    Neste mesmo tempo, Castela iniciou negociações com Portugal, que tiveram por resultado tréguas por seis meses.
  • 1389-03-30 - Confirmação das doações a NunÁlvares Pereira, feitas por D. João, quando era Regedor e Defensor do Reino, assim de vilas, castelos, reguengos, terras, julgados, quintas, casais, herdades, como de outros quaisquer bens, rendas e direitos.
  • 1389-07-02 - Confirmação das doações feitas pelo Rei D. Fernando a NunÁlvares Pereira, de Alter do Chão e seu termo, Vila Formosa e Chancelaria, Assumar e seus termos, e da s jurisdições dos ditos lugares e das rendas e direitos deles.
  • 1389-08-23 - Findo o tempo das tréguas, sem outro resultado mais, o Rei lançou-se sobre Tui, na esperança de obtê-la por traição, por parte de alguns que lha ofereceram. Nisto, ele mesmo foi traído, e por isso começou então a pôr cerco à cidade. Assim Fernão Lopes. Não é a verdade toda; a realidade parece ser um pouco diferente.
    A política do Rei, neste período e nos anos seguintes, era obrigar os Castelhanos a aceitarem tréguas ou paz com Portugal. Toda a vez que estes se recusassem a aceitar tréguas, ou a lhes observar as condições, o Rei lançava-se sobre alguma cidade vizinha da fronteira. Assim foi cercar Tui, a fim de impôr a continuação das tréguas.
    Enquanto jazia no cerco desta cidade, corriam boatos sobre movimentos das forças castelhanas, para descercarem Tui. Preocupado, o Rei chamou o seu Condestável, alguns fidalgos da Estremadura e o concelho de Lisboa. Felizmente, «nom era asy», observa o Cronista.
    Um reflexo disto, talvez, é o que narra a Crónica do Condestável: Enquanto o Rei jazia sobre Tui, o Mestre de Alcântara invadiu a Beira, por Castelo Branco, com 300 lanças e numerosos besteiros.
    Nuno estava em Évora e convocou, sem demora, o seu Conselho e ordenou barrar-lhe o caminho. Os capitães não mostraram boa vontade, pois Nuno estava sem dinheiro para pagar-lhes o soldo. Com pouca gente, embora, partiu logo de Évora ao Crato, onde esperou os descontentes, que se atrasaram. Dali foi a Nisa e Barca de Ródão, onde atravessou o Tejo, fazendo além o seu acampamento.
    A altas horas da noite recebeu informações sobre o Mestre, que já se tornara a Alcântara, ao saber que o Condestável vinha ao encontro dele. Decepcionados, Nuno e os seus tiveram que voltar.
  • 1389-10-18 - O cerco deve ter continuado até o dia 18 de outubro, certamente, data do último despacho do Rei, feito no «arreai de sobre Tui».
  • 1389-11-29 - «Estando em Bragua», o Rei recebeu novamente os embaixadores de Castela, que lhe vieram falar em tréguas. Após as necessárias discussões com os embaixadores portugueses, chegaram a um bom resultado: tréguas de seis anos, concluídas no dia 29 de novembro.
    Os seis anos deveriam ser contados a partir do tratado de tréguas entre a Inglaterra e França e os respectivos aliados, por um prazo de três anos. Por isso Fernão Lopes acrescenta: «compridos os tres que amte desto el-Rey d'Imgraterra e el-Rey de Framça, por sy e por seus aliados aviam concordado, em que emtrava el-Rei de Castella e el-Rei de Purtugual, se em ella quisesse ser, e por outros tres alem destes». Este tratado fora concluído em 18 de junho deste mesmo ano.
  • 1390-07-30 - Nascimento do primogénito e herdeiro D . Afonso, em Santarém.
  • 1390-10-03 - Batismo do Infante. — Dom Nuno e o Mestre da Ordem de Cristo são os procuradores da homenagem prestada a D. Afonso, em Santa Maria de Alcobaça.
  • 1390-10-09 - Morte do Rei de Castela, D. João I.
  • 1391-01-26 - Confirmada uma doação feita pelo Condestável a João Gonçalves, do foro de Arco de Baúlhe, com todas as suas rendas e pertenças e portagens, que com ele andam, que é no julgado de Cabeceiras de Basto.
  • 1391-10-30 - Escambos feitos por NunÁlvares Pereira e confirmados pelo Rei: Nuno deu a João Rodrigues Pereira a terra de Basto com a sua jurisdição, rendas e direitos; recebeu deste a terra de Baltar, igualmente com a sua jurisdição, rendas e direitos. Outrossim deu a Lopo Dias de Azevedo a terra de Pena, com sua jurisdição, rendas e direitos, mais a terra de Bouças; recebeu dele Vila Nova de Anços, Pereira, as Nouras e o reguengo de Alviela, no termo de Santarém, com todas as suas rendas e direitos.
    A confirmação do Rei é de 1392, maio 11. O próprio contrato foi celebrado nos Paços de Barcelos, em 1391 outubro 30.
  • 1392-05-06 - Contrato entre o Rei e o Condestável sobre troca da jurisdição de Baltar pela de Vila Nova de Anços.
  • 1393-05-15 - Na festa da Ascensão, por iniciativa de Castela, foram renovadas as tréguas, por mais quinze anos, a serem contados deste dia.
  • 1393-11-10 - Elevação do Bispado de Lisboa à dignidade de Metrópole.
  • 1393-11 - A renovação das tréguas e a elevação de Lisboa a Metrópole levaram Nun'Álvares a considerar a guerra praticamente terminada: «não lhe pareceu isto trégua... mas gracioso começo de paz».
    Resolveu galardoar os seus fiéis e dedicados capitães e repartiu entre eles grande parte das suas terras e rendas. Cada um deles devia fornecer-lhe um certo número de escudeiros, sempre que fosse necessário para o serviço do Rei ou dele.
    Foi um gesto da mais pura tradição medieval, mas ia contra os interesses do próprio Rei e a nova orientação do país, elaborada pelo Doutor João das Regras. Este e outros, sempre invejosos do Condestável, chamaram a atenção do Rei para este facto.
    O Rei tinha três filhos, a Rainha estava esperando o quarto. Devia pensar no futuro deles. Dom João respondeu que já estava a considerar a possibilidade de comprar aos fidalgos todas as terras dadas em préstamo. E assim resolveu; convocou os fidalgos ao seu Paço da Serra, onde lhes comunicou as medidas tomadas para a execução deste projeto.
  • 1394-01 - Nuno foi e hospedou-se em Atouguia. Todos protestaram contra essa inovação; muitos abandonaram o seu serviço; alguns bandearam para Castela.
    Também Nuno protestou; também ele pensava em abandonar Portugal. Mas aderir à causa de Castela? isso nunca! Continuaria fiel ao Rei, apenas procuraria, com os seus, um sustento digno no serviço militar alhures.
    De Atouguia voltou, por Porto de Mós, a Estremoz. Convocados e cientes da nova situação, todos os capitães aprovaram a ideia do Condestável e começaram a preparar a sua ida para fora do país. Nuno dirigiu-se a Portel, a fim de ultimar os preparativos.
  • 1394-03 - Do Porto, o Rei observava tudo, com preocupação. Enviou um emissário, o Deão de Coimbra, que tentasse demover Nun’Álvares do propósito de sair de Portugal. Nem este, nem o Mestre de Avis, mandado a seguir, o conseguiram. Nuno respondia com humildade a todos os argumentos por eles usados; entendia, porém, que o Rei já não precisava dele, pois estava de acordo com Castela.
    O Bispo de Évora teve melhor êxito: Nuno prometeu-lhe reconsiderar as circunstâncias e comunicar o seu ponto de vista.
    Após largas discussões, o Rei concordou com o que lhe propuseram os dois intermediários do Condestável. A seguir, foi este pessoalmente ao Porto concluir as suas negociações.
    Manteve-se o princípio de vassalagem exclusiva do Rei. As terras deviam ser devolvidas ao Condestável, mas os beneficiados deste seriam agora vassalos do Rei e receberiam quotas, de acordo com o número de soldados que haviam de fornecer. O Condestável devia entregar ao Rei as terras, que lhe foram dadas em préstamo, podendo ficar com as outras.
  • 1395 - Indignado com a não observância, por parte dos Castelhanos, dos artigos concordados nas tréguas, D. João resolveu ocupar uma cidade em Castela, até que os Castelhanos se resolvessem a respeitar o acordo — medida aliás prevista no próprio tratado.
  • 1396-05-11 - Após nove meses de preparações secretas, Martim Afonso de Melo conseguiu tomar a cidade de Badajoz, por surpresa, na festa da Ascensão do ano de 1396.
    Por ordem do Rei, Nuno dirigiu-se a Elvas, a fim de combinar com Martim Afonso a guarda da cidade e dar-lhe toda a gente que fosse necessária.
  • 1397-08-15? - Chegada dos Carmelitas de Moura ao mosteiro de Santa Maria, em Lisboa, construído pelo Santo Condestável.
    Após a tomada de Badajoz, iniciaram-se novas negociações, laboriosas e infinitamente repetidas, sobre as cláusulas do tratado. Chegaram, finalmente, a uma nova convenção, que o Rei de Castela jurou aos Santos Evangelhos.
  • 1397-09 - Não obstante tudo isso, a réplica de Castela foi traiçoeira. Secretamente concentrou as suas forças para uma nova invasão em Portugal. Além disso, a sua frota capturou duas naus portuguesas, que vinham de Génova, carregadas de armas e outras coisas encomendadas.
    O Condestável avisou o Rei, que estivesse de prontidão.
    Os Castelhanos invadiram a Beira, incendiaram Viseu e saquearam toda a comarca. Dom João convocou a sua gente. Muitos fidalgos, porém, recusaram os seus serviços, em represália, pois continuavam fortemente descontentes em consequência das decisões que o Rei tomara sobre a devolução obrigatória das terras de préstamo.
    O próprio Nun’Álvares, ao receber a convocação, mandou responder, por duas vezes, que o Rei se não apoquentasse com essa invasão, pois já havia na terra vassalos a quem encomendar podia, se fossem contra ela, posto que ele — Condestável — não tomasse parte.
    Não obstante esta resposta contundente, reveladora da amargura que lhe ia na alma, esforçou-se por reunir uma boa tropa, de 1.200 lanças, que deixou em Évora, quando foi a Santarém, a fim de se encontrar com o Rei.
    Este estava profundamente anojado das recusas recebidas. Mas quando ouviu que Nun’Álvares se aproximava, foi ao encontro e deparou com ele entre Santa Maria de Palhães e Santa Iria. Ao vê-lo de cota e braçais, compreendeu que vinha para a luta. Comovido abraçou-o e exclamou: ora posso dizer que este é o primeiro homem de armas que nesta terra vi! Inteiramente reconciliados, ambos foram ao paço, traçar as linhas gerais da campanha contra os invasores.
    Nisto foi-lhes dada uma informação inesperada: o inimigo retirara com todo o saque. Resolveram, então, fazer uma invasão em Castela. Encontrar-se-iam novamente em Coimbra, para onde o Rei partiu imediatamente; Nuno voltou a Évora, onde havia deixado a sua tropa, e com ela seguiu igualmente para Coimbra.
  • 1397-10 - Ao estarem assim ocupados na preparação da projetada expedição, receberam a notícia de uma nova invasão castelhana, desta vez no Alentejo: haviam assaltado e saqueado Beja, Moura, Serpa, Campo de Ourique, e avançavam até perto de Alcácer.
  • 1397-10 e 11 - Abandonando os seus projetos, Dom João e Nun’Álvares deixaram Coimbra, passaram o Tejo perto de Punhete, mas antes que chegassem a Montargil foram informados da retirada dos Castelhanos.
    Decepcionados o Rei e o Condestável dirigiram-se, no dia seguinte, a Arraiolos e depois a Évora. Fariam agora a sua invasão em Castela? O Conselho não estava a favor, porque já era o tempo de inverno.
    Nuno estava furioso e revoltado com o Mestre de Santiago, de Castela, que assim lhe invadira a comarca, pois pouco tempo antes os dois concordaram em não invadirem o território um do outro, sem aviso prévio. E logo a seguir, o Mestre, aproveitando a ausência de Nuno, violara o acordo!
  • 1397-12 - Sem atender às condições desfavoráveis da época — era dezembro — convocou a sua gente, convidou o Mestre de Avis a acompanhá-lo na correria que tencionava fazer: que viesse também com a sua tropa. Este aceitou e chegou a Vila Viçosa, onde o Condestável já se encontrava. Após os treinos da tropa, partiram para Elvas, passaram por Ouguela e Alboter e pernoitaram junto à vila de Cáceres. «Era o mes de dezembro» e sofreram muito por causa do frio, observa o cronista. A vila foi tomada no dia seguinte. Com muitos prisioneiros e grande quantidade de gado continuaram até Arroio dei Puerco. Toda a circunvizinhança dos dois lugares sofreu importantes saques e roubos. Dos prisioneiros, porém, Nuno mandava soltar as mulheres.
    Dali voltou para Portugal, passando por Valência de Alcântara, sem encontrar quem lhe estorvasse o caminho. Em Aramenha, termo de Marvão, cada um recebeu a sua parte do espólio da expedição, e todos voltaram para as suas casas.
  • 1398 - Nuno deteve-se por algum tempo em Portalegre e depois cm Vila Viçosa, onde o esperavam a sua mãe e a filha
  • 1398-02 a 05 - Pouco tempo teve para coordenar as fronteiras da comarca. Uma doença séria atacou-o e perturbou-lhe gravemente, não apenas o ritmo da vida, senão ainda todo o modo de ser. Dores lancinantes — febre — profunda melancolia — trituravam-lhe corpo e alma. Esgotamento e cólica hepática, seria a diagnose moderna.
    Avisou o Rei da impossibilidade, em que se encontrava, de guardar devidamente o Alentejo. Este respondeu que se não preocupasse com isso, tratasse antes de recuperar a saúde.
    Os médicos de Évora mandaram-no para Lisboa. Piorou: a comida provocava náuseas — as visitas punham-no fora de si, deixavam-no completamente descontrolado. Carregado numa liteira saiu de Lisboa. Mãe e filha acompanhavam-no desoladas. Em Palmela, o seu desfalecimento era tal, que o levaram a uma quinta em Alfarrara, lugar saudável e sossegado.
    Finalmente, um dos médicos enviados pelo Rei descobriu a natureza do mal e o doente começou a melhorar. Ao sentir-se mais disposto, Nuno já não aguentou a vida do campo, precisava voltar para Évora. Foi a Setúbal e tomou uma barca, para ir a Alcácer. Uma tempestade obrigou-o a interromper a viagem. Aproveitou o tempo de espera a experimentar a sua força. Era fraco ainda, receava não ter força suficiente para uma expedição contra Castela. Puxou do cutelo e pôs-se a cortar mato... Ainda era válido... a Castela pois! E contente e animado foi a Alcácer e dali a Évora.
    Em Évora desenvolveu logo uma grande atividade epistolar, convidando o Mestre de Santiago de Portugal, o Tenente do Crato e o Almirante a tomarem parte numa entrada em Castela, e convocando todos os capitães do Alentejo, do Algarve e da Estremadura.
  • 1398-05-17 - Ao ter informações sobre as grandes forças concentradas pelo Mestre de Santiago de Castela — 2.000 lanças, 800 ginetes e numerosos besteiros e peões — , escreveu-lhe uma carta, comunicando cavalheirescamente a sua próxima chegada; teria ido antes, se não tivesse sido impedido por sua doença.
    Preocupado, o Mestre começou a recrutar ainda mais soldados, pela Andaluzia toda.
    A tropa do Condestável contava 1.800 lanças, 200 ginetes, 300 besteiros de cavalo, além dos peões e outros besteiros, que seriam 5.000. Ao todo, quase 7.500 homens, que enfrentariam uns 15.000 Castelhanos.
  • 1398-05-30 - O Condestável deixou Estremoz, onde fizeram a concentração dos convocados, e partiu rumo a Castela, até perto de Badajoz, onde pôs o seu arraial na margem do Guadiana.
  • 1398-05-31 - Alardo das tropas e manobras.
  • 1398-06-01 - Véspera da SS.ma Trindade. A tropa avançou sob o calor tremendo da época. Encontraram muito povo, mas nenhum soldado.
    Como os Castelhanos tivessem queimado os mantimentos, Nuno mandou uma patrulha correr a terra, em busca de gado e trigo. A patrulha chegou ao castelo de Vila Alva, onde o Mestre havia passado a noite — já não estava. Foi à Fonte do Mestre — mas o arraial do Mestre já fora levantado e posto junto ao castelo da Feira, bem na serra. Com muito gado uniu-se novamente à tropa, que tinha chegado a Vila Alva. Apenas a ala direita vira alguns ginetes do Mestre. Ao assentarem, porém, o arraial, eles apareceram e houve, então, a primeira escaramuça.
    Nesta tarde foi entregue uma mensagem do Mestre para o Condestável: estava em Feira e provocava-o para uma batalha. Nuno mandou responder, que com prazer aceitava a batalha. Sugeriu que fosse na próxima segunda feira, no vale de Almeda. O escudeiro, encarregado desta resposta de Nuno, entregou, em particular, mais outra mensagem ao Mestre de Santiago, em que este era repreendido pela quebra da palavra dada, de não invadir o Alentejo sem aviso prévio. Chorando, o Mestre explicou a sua tragédia: fora obrigado a isso pelo Rei e o Mestre de Alcântara, sob pena de perder o mestrado.
    De volta com o recado do Mestre, já noite, o escudeiro encontrou Nuno a rezar o Ofício.
  • 1398-06-02 - Festa da SS.ma Trindade : «O Conde, meu Senhor, não tem em costume andar caminho ao Domingo, muito mais pouco pelejar», explicara o escudeiro aos Castelhanos, quando fora propor que a batalha fosse na segunda feira.
  • 1398-06-03 - Segunda feira. Bem cedo, «ouvidas as Missas», Nun’Álvares dirigiu as suas tropas ao vale de Almeda e alinhou-as para a batalha. Esperou, em vão, o dia todo pelos Castelhanos e pernoitou no próprio vale.
  • 1398-06-04 - Terça feira. Acercou-se mais do castelo de Feira, onde alinhou novamente as suas forças para uma possível batalha. Ninguém apareceu...
    Ao ver tanto medo, Nuno foi até ao pé do monte, pedindo que viessem até ele para a batalha concordada. Ele não podia ir lá acima, por não haver lugar apropriado para uma peleja. O Mestre mandou pedir que Nuno se fosse embora, por amor de Deus, pois já estavam bastante envergonhados. Em compensação trataria de arranjar uma boa trégua para Portugal.
    Voltar atrás?! Nuno resolveu ir adiante, já que o castelo em si era impugnável. Foi até Zafra, onde encontrou bastante mantimento e bons vinhos, que até causaram alguma desordem no arraial.
  • 1398-06-05 - Quarta feira. Enquanto Nuno seguia com a sua tropa a Burquilhos, mandou um contingente de 600 lanças em foragem pelos arredores. Em Burquilhos já estavam alguns milhares d a gente do Mestre. Junto à vila armou o seu arraial, e ninguém o veio molestar.
  • 1398-06-06 - Festa do Corpo de Deus. Como se não estivesse em campanha militar, rodeado de inimigos, e em terra alheia, o Santo Condestável comemorou este dia com uma grandiosa procissão eucarística pelo arraial, «em bom sossego e ordenado regimento, como se fosse em uma cidade...».
    Estupefatos primeiro, anojados a seguir, os Castelhanos observavam esse espetáculo inédito. Viam nisso um desprezo para Castela, uma desonra!
    Pouco depois chegou a tropa que fora em foragem. Vinha de Salvaterra, com prisioneiros e grande quantidade de gado e outros animais. Os de Burquilha animaram-se a tirarem uma desforra. Saíram da vila e atacaram a tropa. Nuno saiu com os seus do arraial e tiveram uma grande e prolongada peleja.
  • 1398-06-07 - No dia seguinte, Nuno foi novamente ao encontro do Mestre de Santiago, que estava em Jerez de los Caballeros. Como este não quisesse sair da vila, Nuno continuou a marcha até perto de Vila Nova de Barca Rota.
  • 1398-06-08 - Passando por Vila Nova, foi em direção de Olivença; parou a meio caminho, quando recebeu uma mensagem do Mestre: que o esperasse, porque queria ter com ele.
  • 1398-06-09, 10 e 11 - Nuno esperou três dias e estava disposto a esperar mais, quando foi informado da desistência do Mestre, que já dissolvera as tropas.
  • 1398-06-12 - Depois isso, continuou até Olivença, com numerosos prisioneiros e enorme quantidade de animais.
  • 1398-06-13 - Chegou a Vila Viçosa, onde estavam a mãe e a filha. Correra durante 15 dias por Castela e penetrou bem 20 léguas dentro do reino.
    Após ter coordenado as fronteiras e os seus negócios em Évora, foi descansar um pouco em Montemor o Novo.
  • 1398-07-10 c. - O descanso não se prolongou muito — poucos dias apenas — visto que um recado do Rei o chamava a novas atividades militares.
  • 1398-03 e 04 - Desde o início da primavera, o Rei estava a preparar, no Porto, uma grande expedição, para invadir a Galiza. Em fins de abril partiu para Ponte do Lima, onde faria a concentração das suas forças. O alardo mostrou que havia reunido 4.000 lanças e muitos besteiros, o que significa uma tropa de 20.000 homens, aproximadamente.
  • 1398-06-01 e 02 - Dali «moveo caminho de Monçaom ... e foj dormir a Choças».
  • 1398-05-04 e 05 - A travessia do Minho, feita alguns dias depois, numa noite escura, foi desastrosa: perderam umas 500 pessoas!
  • 1398-05-07 a 07-09 - «Passou o Minho e cobrou Salvaterra e cheguou a Souto maior, e desde hy veio poer arraial sobre Tuy», resume Fernão Lopes.
    Foi durante o cerco desta cidade, que o Rei teve informações sobre movimentos das tropas castelhanas, com o fim de fazer interromper o cerco. Por isso avisou imediatamente o seu Condestável, apenas regressado de uma expedição por Castela.
    De fato, o Conselho de Castela estava descontente, por a grande Castela estar tão humilhada por uns poucos Portugueses, que lhe corriam livremente as terras, saqueavam e ocupavam lugares. Urgia uma reação enérgica.
    A frota de Santander e a de Sevilha receberam ordens de irem sobre Lisboa. O Infante português, D. Dinis, foi proclamado Rei de Portugal, na esperança de assim se provocar uma cisão entre os portugueses. Este devia preparar uma invasão na Beira. O próprio Rei de Castela tentaria afastar Dom João do cerco de Tui. O Mestre de Santiago assaltaria o Alentejo; assim poderia vingar-se do Condestável e impedir que este fosse socorrer ao Rei.
    De tudo isto Nun’Álvares recebeu relatos por intermédio dos seus espiões, e ficou sem saber o que fazer primeiro. Convocou o seu Conselho em Évora e, posto que encontrasse dificuldades, por parte de alguns grandes, já cansados das intermináveis guerras, conseguiu reunir a sua tropa graças à boa vontade do seu dedicado lugar-tenente Martim Afonso de Melo.
    Nessa época D. Dinis invadiu a Beira, com uma tropa constituída principalmente de Portugueses dissidentes. Foi o que fez resolver Nun’Álvares a ir primeiro sobre ele e continuar depois até Tui.
    De Évora, pois, foi ao Crato e dali, levando consigo o Prior, que estava em desunião com o Rei e suspeito de traição, sucessivamente a Nisa e Castelo Branco. Ao saber que D. Dinis estava na Covilhã, após ter percorrido a Beira, Nuno escreveu-lhe uma carta. Criticou-lhe, violentamente, a traição contra a Pátria, e disse que em breve estaria com ele.
    A carta não chegou ao destino, pois o Infante já fugira para Castela, quando soube da vinda do Condestável. Ele mesmo e os seus Portugueses queriam arriscar uma batalha. Mas não lho permitiram os conselheiros castelhanos, que temiam tanto o grande Nun’Álvares.
  • 1398-05-02-20 c. - Pesaroso, o Condestável resolveu ir a Tui. Mandou voltar Martim Afonso para a defesa do Alentejo, e ele mesmo foi à Covilhã, Guarda e Viseu, para o descanso da tropa.
    Entrementes, chegara a frota castelhana sobre Lisboa, 55 unidades ao todo. Deram uns tiros e ancoraram perto do Restelo. Todos os habitantes saíram da cidade e mantiveram-se em guarda ao longo do Tejo, até Cascais, de forma que nenhum Castelhano pudesse saltar em terra. Tendo vindo para cercar, a frota ficou cercada, sem poder fazer nada. Após alguns dias levantaram as âncoras e largaram do Tejo.
  • 1398-07-25 - Tomada de Tui, na festa de São Tiago.
  • 1398-07-26 - D. Afonso, o filho ilegítimo do Rei e futuro genro do Condestável, foi armado cavaleiro na Catedral de Tui.
  • 1398-08 - A seguir, o Rei tornou ao Porto, aonde Nuno o foi ver; conseguiu que o Rei se reconciliasse com o Prior do Crato.
    Enquanto Nuno estava com o Rei no Porto, veio um recado de Moura, pedindo auxílio contra o seu alcaide Álvaro Gonçalves, que a tencionava entregar a Castela. O Rei ordenou que o Condestável fosse lá, sem demora, e cercasse a vila e o castelo.
    Nuno dirigiu-se a Coimbra, aonde chamou a sua tropa, que deixara em Viseu. Em seguida, passou por Ourém, em romaria a Santa Maria de Ceissa. Aqui recebeu novo aviso do Rei: fosse a Moura, a toda a pressa, e cercasse a vila. De Ourém foi a Évora e depois a Portel. A esta vila mandou vir o alcaide de Moura, com um salvo-conduto. Pela sua boa maneira de falar solucionou o conflito a contento de todos, salvando a honra de Álvaro Gonçalves e conservando segura a vila. Não foi preciso um cerco, e Nuno voltou para Évora.
  • 1398-09-01 - Nova doação ao Condestável, dos bens que pertenceram a Gil Vasques da Cunha, que se levantara contra o Rei: Paiva, Tendais e Lousada, com termos, rendas e direitos; não dos bens que estavam na comarca de Viseu, que já foram doados a outrem.
  • 1398-10 - Fracassada, desta maneira, toda a sua ofensiva, Castela resolveu reatar as negociações sobre as tréguas com Portugal. Mandou, nesse fim, um embaixador genovês, Micer Ambrósio, ao Porto, falar com Dom João I, que não desejava outra coisa. Concordaram em que todas as questões pendentes seriam discutidas e dirimidas por plenipotenciários: quatro de Castela e quatro de Portugal. Entre estes estavam o Bispo de Coimbra e o Condestável do Reino.
  • 1399-01 - No princípio de janeiro foi publicada uma suspensão das operações de guerra, até meados do mês de março.
  • 1399-02-08 - Início das negociações, em Olivença.
  • 1399-08 início - As exigências exorbitantes de Castela causaram a ruptura das negociações. Conseguiram, tão somente, concertar uma nova trégua de nove meses.
    Descontente, por ter perdido quase dez meses, o Condestável voltou para Évora, onde estava o Rei. De Évora, o Rei partiu para Lisboa, e o Condestável para Almada.
  • 1400 início - O seu titular fugira para Castela. Tanto o Rei, como o Condestável, tinham os seus candidatos para essa dignidade, cuja apresentação o Rei já havia prometido a Nun’Álvares. Agora, porém, desejava conferir o posto ao aio dos Infantes. Nuno insistiu em apresentar o seu, que era cavaleiro da Ordem, e conseguiu que o Rei permitisse que os próprios freires decidissem o pleito, por eleições capitulares. Elegeu-se o candidato de Nuno. Este estava em Porto de Mós e foi entender-se imediatamente com o Rei, a Santarém, que confirmou a posse do priorado.
  • 1400-04 - As tréguas corriam para o fim, quando Castela mandou dizer não estar interessada numa renovação.
    Ao ver-se, mais uma vez, em estado de guerra, o Rei convocou o Conselho em Santarém, chamando também o Condestável, que a essa altura descansava em Porto de Mós e pela região de Ourém. Resolveram ir ocupar Alcântara. Nuno recebeu a ordem de voltar para Évora, fazer os preparativos necessários e recrutar toda a gente do Alentejo e do Algarve. O Rei fez o mesmo quanto ao resto do país.
  • 1400-05-03 - As duas tropas juntaram-se perto do Crato: 4.000 lanças, além de um grande número de peões e besteiros.
  • 1400-05-08? - Seguiram caminho por Meadas e Valença e, num sábado de maio (dia 8?), lançaram-se sobre Alcântara. Após alguns dias começaram a escassear os mantimentos e impunha-se ir em foragem pela terra. Como se tratasse de uma empresa arriscada, devido à presença de muita gente armada, que vinha acudir à vila cercada, o Conselho indicou o próprio Condestável.
  • 1400-05-17 - Este aceitou a incumbência e, numa segunda-feira, saiu do arraial. Andou, ao todo, 16 léguas; passou por Cáceres e Montanches e parou junto a uma ribeira, chamada Boteja.
  • 1400-05-18-19 - Dali mandou o Prior do Crato e Martim Afonso de Melo percorrer, cada um uma parte dessa comarca; ambos voltaram dois dias depois com grande número de prisioneiros e enorme quantidade de gado («muy muytos»).
  • 1400-05-20 - No dia seguinte iniciou a volta, completando-a inesperadamente. Pois ao chegar a Brozas, recebeu uma chamada do Rei: viesse a Alcântara, sem demora, porque uma tropa de 2.500 lanças queria descercar a vila. Assim, Nuno continuou a sua marcha até ao arraial.
  • 1400-05-25 - O cerco não ia adiante, era impossível isolar a vila completamente.
  • 1400-05-29 a 06-09 - Após alguns dias, resolveram voltar para Portugal, onde dissolveram as suas tropas.
  • 1400-06 - Quando já estavam em Alter do Chão, o Rei pediu ao Condestável o favor de encarregar-se da justiça em todo o território do Alentejo e do Algarve.
    Como comandante militar dessa região, Nuno sabia quanto era necessário que alguém reprimisse os abusos, as injustiças e as violências, provocadas pela guerra infindável. Aceitou a responsabilidade, e com a sua costumada energia atacou a corrupção, sem distinção de pessoas, conseguindo que, em pouco tempo, voltassem a reinar a ordem e o sossego.
    A sua áspera inteireza afastou muitos amigos. Quando teve de proceder contra um fidalgo, protegido do Rei, e este lhe pedia que o não justiçasse, Nuno renunciou ao cargo.
  • 1400-09 a 12 - Enquanto o Rei estava em Braga, morreu-lhe o filho primogénito e herdeiro, o Infante D. Afonso.
    O Condestável mandou guardar luto oficial e organizou solenes exéquias em Montemor o Novo, onde estava; não assistiu a elas pessoalmente, devido a uma doença grave.
  • 1401-03 e 04 - Recuperada a saúde, foi a Leiria, onde todos deviam prestar homenagem ao Infante D. Duarte, como a primogénito e herdeiro do trono e Senhor natural.
    Em Leiria, também, nessa mesma época, foi tratado o casamento de Beatriz, a filha do Condestável, com D. Afonso, o filho natural do Rei.
    Vários pretendentes já haviam solicitado a mão de Beatriz. O Rei, porém, ia adiando a sua licença, dizendo a Nuno, «que de todo bem e honrra que a sua filha viese, lhe prazeria muito; porém, que se nam triguase a ello, caa per ventura Deos lhe encaminharia pera ella outro milhor e mais homrrado casamento...».
    Concordado assim o casamento, para grande alegria do Condestável, começaram os preparativos necessários.
  • 1401-10-20 - Legitimação de D. Afonso: «o mais compridamente que nos podemos fazer e o el pode ser. E esta despensaçam, em todo, nem em parte, nom faça prejuízo a meus filhos...».
  • 1401-11-01 - Em Frielas lavrou-se o instrumento da doação, «que fez o Conde Nuno Aluarez a sua filha Dona Briatiz de terras, quando casou com o Conde Dom Afonso, filho dei Rey»: vila e castelo de Chaves com os seus termos, terra e julgado de Monte Negro, castelo e fortaleza de Montalegre, terra de Barroso, Baltar, Paços e Barcelos, que são Entre Douro e Minho e Trás os Montes, com os seus termos, coutos e honras, com todas as jurisdições cíveis e criminais, com todos os padroados das igrejas, e com todos os seus direitos e pertenças; além disso, a doação das quintas de Carvalhosa, Conas, Canedo, Sarrãos, Gondinhães, São Félix, Trorã, Casais de Bustelo, Moreira e Pousada.
    Todos esses bens eram para eles e os seus descendentes em linha reta, sempre em uma pessoa só. Se o Conde Afonso morresse primeiro, tudo seria para D. Beatriz. Se esta morresse antes, todos esses bens seriam para o seu filho primogénito. Se ela morresse sem descendência varonil, o próprio Nuno, em sua vida, seria o herdeiro dela; depois da morte de Nuno, os seus herdeiros. E se algum descendente morresse sem herdeiros varonis, os bens voltariam do mesmo modo.
    Este instrumento de tão larga doação tem a data de 1 de novembro de 1401.
    Ao doar o condado de Barcelos aos noivos, Nuno solicitou ao Rei que desse a Afonso o título de Conde de Barcelos.
  • 1401-11-08 - A pedido de D. Afonso, o Rei confirmou a doação feita, no dia 8 de novembro de 1401
    As bodas foram celebradas em Lisboa, com grandes festividades, a que assistiram «todollos Senhores e pessoas notáveis do Regno.
    Após a última campanha por terras castelhanas, com o malogro do cerco de Alcântara, houve um período de indecisão: para ambas as partes a guerra tornava-se pesada, mas Castela não podia esquecer, tão ligeiramente, os numerosos mortos que caíram nas batalhas; a dor e o espírito de vingança eram ainda muito fortes.
  • 1402-06 - Finalmente, em 1402, no dia 1 de junho, uma quinta-feira, foram iniciadas novas negociações. Desta vez em Segóvia.
  • 1402-11-28 - Embora não chegassem a um acordo definitivo, quanto à paz, após muitas e laboriosas conferências e consultas, concluíram um Tratado de tréguas por 10 anos, em 28 de setembro de 1402.
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