Vida de São Nuno - A Consolidação

A CONSOLIDAÇÃO (1385-1389)

  • 1385-04-06 - Nun'Álvares Pereira nomeado Condestável do Reino e Mordomo-mor; tinha então a idade de 24 anos, 9 meses e 12 dias.
  • 1385-04-07 - Confirmação e nova doação a Nun’Álvares, de alguns reguengos no termo de Lisboa: Frielas, Unhos, Camarate , Sacavém com seus termos, Ribeirão do Sal, pela guisa que os havia D. Leonor, com todos os frutos e rendas e direitos.
  • 1385-04-10 depois - Nuno foi enviado ao Porto, com uma ordem do Rei para os habitantes: que lhe preparassem uma frota a fim de ir combater os Castelhanos, que outra vez estavam sobre Lisboa.
    No Porto, Nuno encontrou sua esposa com a filha. Sem perder tempo, convocou os grandes da cidade e propôs-lhes o assunto da esquadra. Embora não conseguisse este seu intento, obteve um forte socorro em dinheiro para a sua campanha no Minho, quando a seguir lhes comunicou este projeto. A sua intenção era fazer romaria a Compostela. De passagem poderia tomar algumas vilas e castelos do Minho, que estava todo por Castela, e obter ainda cavalgaduras para os seus homens.
    Do Porto foi a Leça do Bailio, onde passou a noite. No dia seguinte, ao continuar a sua marcha, recebeu reforço de 40 escudeiros e de muita outra gente; e de todos os lados chegavam-lhe os animais tão desejados, ao todo cerca de 250 peças. Parou a par de Neiva, onde havia um castelo bem fortificado. Tomou-o, após um assalto renhido, em que morreu o alcaide, por rendição. O saque foi abundante, o que ajudou muito a campanha do Minho.
    A seguir passou por Darque e foi a Viana, com o desejo de a conquistar. De parte a parte, desenvolveu-se uma luta violenta e muitos da terra vieram ajudá-lo. Com as portas da cidade já em chamas e ele mesmo ferido, o alcaide capitulou. Nuno tomou posse da vila e ficou ali uns três dias, a fim de lhe organizar a administração.
    Ao continuar a sua expedição, sempre rumo ao norte, chegaram-lhe embaixadas de dois lugares minhotos, Vila Nova de Cerveira e Caminha: impressionados com a queda de duas fortificações tão sólidas como Neiva e Viana, apressaram-se a aderir à causa de Portugal; apenas pediram que Nuno enviasse alguma gente de confiança para ocupar as vilas, e não fosse ali o exército todo. Com prazer, o Condestável satisfez a esse pedido.
    Por não poder atravessar o rio Minho, Nuno demorou-se numa pequena aldeia (Valença?), junto ao rio, sem desistir do seu propósito de ir até Compostela. Enquanto aguardava uma oportunidade, a vila de Monção enviou-lhe um recado: viessem alguns escudeiros receber o lugar para Portugal; não mandasse, porém, as tropas. Nuno concordou e mandou ocupar a vila.
  • 1385-04-25 - Pouco tempo depois de Nun'Álvares ter seguido ao Porto, e a conselho deste, foi também D. João e teve ali uma grandiosa recepção por parte do povo, que lhe tinha sido tão leal desde o início da Revolução Nacional. Durante a sua permanência no Porto, de uns 13 dias pouco mais ou menos, o Rei ficou conhecendo a esposa do seu Condestável e a filha, que um dia seria a sua nora.
  • 1385-04-28 - Em recordação, talvez, desta visita, o Rei fez doação a Nuno e sua esposa D. Leonor Alvim, do castelo de Montalegre com a sua terra de Barroso, da terra de Pena e dos reguengos de Basto, do Arco de Baúlhe com suas terras e termos, direitos, frutos, foros e pertenças, reservando para si as alçadas das apelações.
  • 1385-05 - Foi no Porto, também, que se preparou o projeto de tomar, por surpresa, a vila de Guimarães.
  • 1385-05-07 - O assalto realizou-se no dia 7 de maio, provavelmente, e teve o êxito desejado. Começaram então o cerco do castelo.
    Este acontecimento deve ter tido uma repercussão enorme, pois no mesmo dia os Bracarenses pronunciaram-se a favor de Portugal e também eles iniciaram o cerco do seu castelo.
    Informado disso, o Rei avisou o seu Condestável, pedindo-lhe que viesse imediatamente a Braga. Nuno deixou a sua aldeia e juntou-se aos Bracarenses. Como os do castelo não se quisessem render, combateram-nos durante duas noites e um dia, sem cessar. No terceiro dia foi assinada a capitulação.
    Um novo apelo do Rei obrigou Nuno a ir a Guimarães, onde tentou entabular negociações sobre a rendição do castelo, sem resultado, porém. Por isso voltou a Braga.
  • 1385-05-18 a 22 - Durante o próprio cerco do castelo de Guimarães, o Rei chamou novamente o Condestável, agora para uma expedição conjunta contra Ponte do Lima, onde alguns bons Portugueses estavam a preparar uma entrada na vila por surpresa. Por pouco o projeto não falhou e, uma vez dentro do lugar, foi dura a luta contra as torres fortificadas. Um incêndio, finalmente, provocou a capitulação.
  • 1385-05-22 - No mesmo dia, ainda, o Condestável voltou a Braga, tendo por hóspede o seu Rei.
  • 1385-05-23 - No dia seguinte tornaram a Guimarães.
  • 1385-06 início - O castelo finalmente rendeu-se no começo de junho.
  • 1385-05 - Enquanto o Rei estava no cerco de Guimarães e o Condestável no Minho, organizou-se em Castela uma tropa de 400 lanças, mais os homens de pé, que invadiu o país, roubando e saqueando Almeida, Pinhel, Trancoso e Viseu. Os fidalgos da Beira uniram-se e obrigaram os Castelhanos a uma batalha, perto de Trancoso, infligindo-lhes uma derrota total e completa. A tropa invasora tinha sido uma divisão do exército que Castela preparava para a sua campanha contra Portugal. A frota já estava sobre Lisboa, em parte desde março, e dificultou um pouco a chegada dos aliados Ingleses em 2 de abril. Estes foram enviados para o Alentejo.
  • 1385-06 - Ao receberem essas informações e calculando que a invasão do exército castelhano em formação se daria pelo Alentejo, o Rei e o Condestável resolveram cortar-lhes o caminho para Lisboa.
  • 1385-06-10 a 17 - Foram primeiro ao Porto a fim de juntarem mais gente.
  • 1385-06-21 a 25 - Depois estiveram alguns dias em Coimbra.
  • 1385-06-25 - E a seguir em Penela e Tomar.
  • 1385-07-03 e 04 - Durante poucos dias cercaram Torres Vedras, enquanto esperavam notícias e reforços de Lisboa.
  • 1385-07-05 a 06 - Como a cidade não pudesse ceder, para logo, homens armados, continuaram até Golegã (dia 5). No dia seguinte (6) fizeram a travessia do Tejo, no vau de Sta. Iria, junto a Santarém, baluarte principal das forças castelhanas em Portugal. Por conseguinte, a travessia foi feita com as tropas em prontidão rigorosa, alinhadas para um possível combate. E de fato houve uma forte escaramuça.
  • 1385-07-07 - Pernoitaram na lezíria da Condessa e ao oitavo dia (7) entraram em Muge. Aqui devem ter recebido informações mais concretas: a concentração das tropas castelhanas realizava-se, não em Badajoz, mas em Ciudad Rodrigo. A invasão seria, portanto, pela Beira. Atravessaram, por isso, novamente o Tejo ali mesmo, e acamparam perto de Cartaxo.
  • 1385-07-08 e 09 - A seguir (dia 8) foram até perto de Alenquer, onde reuniram o Conselho.
    O Rei ficaria à espera das tropas de Lisboa e mandaria chamar as da Beira, enquanto o Condestável fosse ao Alentejo, recrutar toda a gente possível. Depois se encontrariam em Abrantes.
  • 1385-07-10 - As tropas de Lisboa chegaram no dia 10 de julho; pouco depois o Rei deve ter ido a Abrantes, onde esperou por Nuno.
  • 1385-07-10 a 20 c. - Este demorou mais. Partindo de Alenquer, pousou em Muge no primeiro dia; depois um pouco além d e Salvaterra, e a seguir em Montemor o Novo, chegando finalmente a Évora, donde escreveu aos diversos capitães do Alentejo, pedindo que viessem quanto antes com as suas tropas.
  • 1385-07-20 a 31 c. - Reunida a maior parte, foi a Estremoz esperar o resto. Ao todo concentrou 500 lanças e 2000 peões.
  • 1385-07-31 - No último dia de julho, recebeu uma chamada urgente do Rei, chegasse imediatamente a Abrantes, com as suas tropas, pois os de Castela já estavam a caminho de Coimbra.
  • 1385-07 e 08 - De fato, o Rei de Castela invadira a Beira e, em agosto, estava em Coimbra.
  • 1385-07-30 - Diante disto, D. João reunira o seu Conselho, num Domingo, e nesse mesmo dia enviara o dito recado ao Condestável, que o recebeu no dia seguinte.
  • 1385-07-31 - Sem demora este convocou também o seu Conselho e comunicou-lhe as notícias recebidas. Resolveram partir.
  • 1385-01-01 a 03 - Em três dias de marcha s forçadas, pousando sucessivamente em Avis, Ponte de Sor e a duas léguas de Abrantes, alcançaram o arraial do Rei.
  • 1385-08-04 - No outro dia houve reunião do Conselho; a maioria declarou-se contrária a uma batalha. Nuno insistiu fortemente na sua necessidade, por motivos políticos e estratégicos; além disso, tal fora sempre a vontade do Rei e a finalidade da concentração das tropas. Recuar agora, seria uma vergonha, uma covardia, seria despedaçar os corações dos bons Portugueses que esperavam deles a sua defesa. Como o Rei hesitasse em lhe dar apoio, Nun’Álvares abandonou bruscamente o Conselho.
  • 1385-08-05 - Na madrugada do dia seguinte, chamou a sua tropa e deixou Abrantes, rumo a Tomar, sem dar satisfação a ninguém.
    Consternados e furiosos, os conselheiros tiveram uma nova reunião com o Rei. Este defendeu o Condestável e o seu ponto de vista: a batalha era indispensável de fato e confiava plenamente em Nuno para ela. Resolveram chamá-lo para uma nova discussão.
    Altiva foi a resposta de Nun’Álvares: Não sou homem de muitos pareceres e, como foi combinado não deixar passar os Castelhanos, vou pôr-lhes batalha. Se o Rei quiser tomar parte nela, mande-mo dizer e aguardá-lo-ei em Tomar. Dom João enviou um segundo correio: voltasse todavia, mas, se o não quisesse, fosse esperá-lo em Tomar. E assim, o Condestável continuou o seu caminho.
  • 1385-08-06 - Um dia depois, seguiu o Rei com o resto das tropas e uniram-se no arraial de Tomar.
  • 1385-08-07 a 10 - Onde se preparam para a batalha que estava iminente.
    A este mesmo tempo, o Rei de Castela deve ter chegado a Leiria, pois só aqui ficou certo de que os Portugueses resolveram pôr-lhe batalha.
    Inspeção e exercício das tropas. Tanto o Rei como o Condestável tiveram uma troca de cartas e avisos com o Rei de Castela e procuraram conhecer os efetivo e a disposição do inimigo.
  • 1385-08-11 - O exército português, ordenado e de prontidão, dirigiu-se a Ourém, onde o Condestável e a sua vanguarda se alojaram ao pé da vila, contra Atouguia das Cabras.
  • 1385-08-12 - No sábado foram a Porto de Mós.
  • 1385-08-13 - Domingo. Enquanto a tropa descansava, Nun’Álvares foi enviado na direção de Leiria, a fim de observar o inimigo que, porém, continuava invisível. Subiram vários outeiros e, se não deram com os Castelhanos, ficaram conhecendo o terreno. Não resta dúvida alguma, neste dia o competente e prudente Condestável deve ter escolhido o campo de batalha. A posição, extremamente favorável, dos Portugueses não tinha sido um lance de sorte. Além disso, as recentes descobertas arqueológicas provam claramente a preparação do terreno: todo um sistema frontal de defesas acessórias protegia um estrangulamento natural do planalto — lugar bem escolhido, onde haviam de estar as tropas nacionais. Mais adiante, dois pequenos ribeiros iam estorvar as alas castelhanas. Os fossos, as covas de lobo e a estacada, que tão dolorosa surpresa constituíram ao inimigo, foram preparados de antemão pelo astuto Condestável, com o auxílio de técnicos ingleses, que os havia na sua tropa; pois não foram despachados de Lisboa ao Alentejo?
    A escolha do terreno e a sua preparação táctica demonstram insofismavelmente o génio militar do Condestável. Apesar de ter apenas 25 anos, conhecia e aplicava a mais moderna estratégia do seu tempo, avidamente aprendida com os aliados ingleses, já desde o tempo de D. Fernando, quando com eles esteve em Lisboa, durante meio ano aproximadamente.
  • 1385-08-14 - Antes da madrugada: missas e comunhões. Ao alvorecer foram a caminho de Aljubarrota; Nuno, sempre na vanguarda, a indicar o sítio escolhido. Ocupado este, começaram a ordenar o exército para a batalha. Pelas 10 horas da manhã, estava tudo organizado.
    Pelo meio dia, aproximaram-se os Castelhanos, vindos de Leiria. Como se desviassem em direção de Aljubarrota, houve necessidade de mudar ligeiramente a posição dos Portugueses, que estavam de rosto contra Leiria e agora se viraram contra o mar. Os Castelhanos não vinham muito dispostos à luta. Por meio de parlamentários tentaram convencer Nun’Álvares da inutilidade de uma batalha e fizeram-lhe grandes promessas. Nuno repeliu-os.
    Mais tarde ainda, os Castelhanos reuniram mais uma vez o seu Conselho e discutiram largamente, se deviam, ou não, aceitar a batalha; se convinha lutar imediatamente, ou adiar a peleja até o dia seguinte. Já era a hora de véspera, quando o Rei finalmente se decidiu.

Batalha de Aljubarrota

Efetivos de ambos os exércitos:


Portugal
Castela
lanças
1.700
6.000
besteiros
800
8.000
peões
4.000
15.000
ginetes

2.000
Total
6.500
31.000
  • O choque das duas tropas inimigas iniciou-se, bem passada a hora de véspera.
    O primeiro ataque veio dos Castelhanos, pois lhes competia, como invasores. A sua tremenda superioridade rompeu a vanguarda portuguesa. Ao penetrarem nela os Castelhanos, as duas alas de Portugal alinharam-se atrás da vanguarda. O próprio Rei, assim que viu o perigo em que se encontrava o Condestável, fez avançar a retaguarda. Resultou um impacto medonho, uma luta violenta e rápida. Tombou a bandeira de Castela. Confusão entre os Castelhanos. Retirada. Debandada geral, com o Rei na frente, que galopou até meia noite, indo abrigar-se, aniquilado, a Santarém.
    Mesmo assim, a retaguarda ainda passou por um mau momento, quando uma das alas castelhanas a atacou por detrás. O Condestável, avisado pelo Rei, acudiu imediatamente e os peões cobraram ânimo, mesmo porque não podiam fugir em consequência do erro táctico que a ala cometeu ao envolvê-los desta maneira. Diante da derrota já geral, abandonou também ela o campo.
    Em menos de meia hora realizou-se esta façanha incrível. Os Castelhanos deixaram o campo com forças superiores em qualidade e em número aos efetivos lusitanos, que iniciaram a luta.
    Bem dissera Nuno: sei que sois mais numerosos e mais bem corregidos, maior, porém, é todo o auxílio que vem de Deus.
    Grande número dos fugitivos encontrou a morte às mãos do povo. Um espólio riquíssimo e enorme reserva de mantimentos ficaram para o exército português. E porque o grosso das forças castelhanas escapou do campo, o Condestável, sempre prudente , destacou muitos guardas, pois andava preocupado com uma possível volta do inimigo.
  • 1385-08-15 a 17 - Por isso mesmo, é pouco verossímil o que afirma Fernão Lopes, quando diz que Nuno, logo no dia seguinte — festa de Santa Maria de agosto — fez uma romaria a Sta. Maria de Ceissa em Ourém.
  • 1385-08-17 - Mais congruente parece-nos a versão da Crónica do Condestável, já que ao Rei cumpri a ficar três dias no campo da batalha, segundo o uso da Cavalaria medieval: «ao terceiro dia se foi o Conde em romaria a Santa Maria de Ceissa de Ourém, e tomou logo posse do lugar de Ourém, de que lhe el-Rei fizera mercê e doação... E o Condestável se tornou logo de Ourém para el-Rei, onde a batalha fora».
    Neste mesmo dia ainda, cumprido o uso ritual dos três dias, e por tornar-se insuportável o «fedor dos mortos», ambos se dirigiram a Alcobaça.
  • 1385-08-18 - Aqui receberam notícias sobre a fuga do Rei de Castela: chegara a Santarém à meia noite do fatídico dia 14; nessa mesma noite mandara preparar uma barca; chegara a Lisboa no dia 15, e de lá partira a Sevilha no dia 17, numa das galés da sua frota. Ouvindo isso, partiram imediatamente a Santarém e encontraram a vila já em mãos portuguesas.
  • 1385-08-20 - Confirmação das doações já feitas a Nun’Álvares e outras novas: Vila Viçosa, Borba, Estremoz, Evoramonte, Portel, Montemor o Novo, Almada, Setúbal com os seus reguengos, Frielas, Unhos, Camarate, Colares com os seus reguengos e termos, o serviço real dos judeus em Lisboa e seus termos, o condado de Ourém com suas terras, lugares e vilas, Porto de Mós, Rabaçal, Bouças, Alvaiázere, Terra de Pena, Terra de Basto, Arco de Baúlhe, Terra de Barroso; e em préstamo Silves e Loulé.
    Neste mesmo dia é criado Conde de Ourém, pois, embora já possuísse as terras deste condado desde 1384-06-01, só hoje recebeu o título de Conde. As duas Crónicas são explícitas neste ponto. A do Condestável diz: «e estando el-Rey em Santarém, fez o Condestabre /!/ de Ourem, porque ajnda nom era senom Comdestabre». Na Crónica de D. João, Fernão Lopes reproduz o acordo entre o Rei e o Condestável acerca deste ponto: querendo o Rei oferecer-lhe o título de Conde, Nun’Álvares aceitou-o sob a condição de ninguém mais ser criado Conde durante a sua vida. Aceita esta condição, o Rei conferiu-lhe o título «como se custuuma de fazer»
  • 1385-08-23 - Doação dos direitos de Guimarães a Nun’Álvares, «em prestamo, em quanto sua mercê fosse»; também de Ponte de Lima, Valença, Vila Real, Chaves, Bragança e Atouguia, com todos os seus termos, rendas e pertenças.
  • 1385-09 início - Enquanto o Rei continuou em Santarém, até o dia 9 de setembro, encontramos o Condestável, já «no começo do mês de setembro», em Évora, segundo Fernão Lopes, ocupado em preparar uma expedição pela própria Castela, a fim de aproveitar a confusão do país tão duramente provado, para desferir-lhe um novo golpe. De todos os lados chamou os seus «alentejões», que deviam concentrar-se em Estremoz, aonde ele seguiu depois. Conseguiu reunir uma tropa de 1.000 lanças e 2.000 peões e besteiros.
  • 1385-10-02 - Partiu de Estremoz numa segunda feira, dois de outubro, passou por Vila Viçosa e Elvas, atravessou o Guadiana perto de Badajoz, e fez ali o seu acampamento.
  • 1385-10-03 - No dia seguinte chegou a Almendral.
  • 1385-10-04 a 15 - Em outro dia foi até Parra. Aqui o Mestre de Alcântara ameaçou fazer um ataque, porém ao aparecer Nun’Álvares, embora com pouca gente, afastou-se logo.
    De Parra foi a Zafra; no caminho encontrou-se novamente com o Mestre, que vinha descendo da serra. Fugiu mais uma vez, quando Nuno se dirigia para ele.
    Sem outro estorvo atravessou Fonte do Mestre e chegou a Vila Garcia, cujos habitantes já haviam fugido espavoridos. Até o castelo, por sinal bem fortificado, jazia completamente abandonado. Vila e castelo foram saqueados à vontade.
    Após ter recebido os desafios a uma batalha, por parte de numerosos capitães e dos Vinte e Quatro de Sevilha, Nuno pensava ir em romaria a Santa Maria de Guadalupe . Ao considerar, porém, os prejuízos que a sua gente, forçosamente, ia causar a essas terras de Santa Maria, mudou de ideia e movimentou-se rumo a Magacela. Uma terceira vez o Mestre de Alcântara, já com uma tropa bem maior, tentou cortar-lhe o caminho. Ao vê-lo, o Condestável desviou em direção a ele. Mais não foi preciso para o Mestre se retirar.
  • 1385-10-16 - Nuno continuou até Vila Nova de Serena e ultrapassou Mérida a caminho de Valverde, com o Mestre sempre a observar-lhe os movimentos, sem ousar atacá-lo.
    À beira do Guadiana fez o seu acampamento e pôs guardas no arraial.
  • 1385-10-17 e 18 - Batalha de Valverde. Pelos prisioneiros, Nuno ficou sabendo que as forças de toda a Andaluzia, de Sevilha e de Córdova, de Jaen, da Mancha e do Aragão estariam reunidas no dia seguinte, para um combate que esperavam fosse decisivo. Seriam ao todo 33.000, mais gente do que em Aljubarrota, embora menos treinada.
    O dia seguinte, Nuno procurou o vau, perigoso mas único, a uma légua e meia do arraial, afim de fazer a travessia do Guadiana.
    A situação era delicadíssima: estava no meio de dois troços do exército inimigo, que ocupavam as encostas que ladeavam o rio, de um e outro lado. Mais de 20.000 empurravam-no, mais de 10.000 esperavam-no além da ribeira. Por entre grandes escaramuças chegou ao vau; alinhou aqui a sua tropa e, para desimpedir o local, teve que lutar duramente . A seguir, fez passar a vanguarda, voltou atrás e guiou a travessia de toda a carriagem e da retaguarda.
    Concertadas as suas forças, levou a vanguarda para a frente. Sucessivamente, ocupou três outeiros, desalojando deles os Castelhanos, que fugiam de um para outro, de forma que Nuno tinha que enfrentar um número cada vez maior. Por duas vezes esteve em perigo a sua retaguarda.
    Já na encosta da serra, onde estava o grosso da hoste castelhana, e sob uma chuva de setas, lanças e pedras, confortou e animou os seus, sem parar nenhum momento, não obstante estar, ligeiramente, ferido no pé.
    De repente, deram pela falta de Nuno. Procuraram-no angustiados, pois a situação perigava, até o encontrarem, um pouco afastado, por entre penhascos, absorto em oração. O primeiro recebeu por resposta: «ainda não é tempo». O segundo criticou-o: que não era agora tempo de rezar — fizesse andar a bandeira! Este nem resposta obteve. E lá adiante continuavam a ferir e matar as setas, as lanças e as pedras...
    Terminada a sua oração, chamou o seu alferes, apontou a bandeira do Mestre de Santiago de Castela e deu ordem de chegar até lá com a sua bandeira.
    Exortou a tropa: «Amigos, avante!» Imediatamente subiram a ladeira. Numerosos Castelhanos, com o Mestre na frente , desceram ao encontro deles e iniciaram a batalha, que foi particularmente renhida, por causa da enorme superioridade dos Castelhanos. Os Portugueses conseguiram romper as linhas — o Mestre caiu nesta luta — e enfiaram-se como um bloco maciço no meio dos inimigos, que tinham ficado no alto da serra. O outro Mestre, o de Alcântara, foi o único a tentar reagir, mas todos o abandonaram. O Condestável perseguiu os fugitivos por uma légua, e à noite tornou ao arraial de Valverde, «dando muitas graças a Deus, que lhe em terra de seus inimigos dera tamanha vitória deles».
    Toda a batalha tinha durado dois dias. «de sol a sol em pelejar».
  • 1385-10-19 - «Em outro dia partiu o Conde, caminho de Portugal». Ao passar ao pé de Mérida, onde havia muitos refugiados, estes saíram da vila a observá-lo. Nuno mandou um contingente a eles, e não o «quiseram atender». E esse dia chegou a Senerra. D e Badajoz vieram muitos olhar a hoste mas não fizeram nada.
  • 1385-10-20 - «Dali partio o Conde outro dia por se vir dormir a Elvas .» Toda a campanha durou «dezoito dias» e rendeu uma grande quantidade de gado e outros animais. Além disso, havia um bom número de prisioneiros.
  • 1385-10-08 - Enquanto o Condestável andava nessa campanha, o Rei conferiu-lhe o título de Conde de Barcelos, doando-lhe as terras desta vila e seu termo, com todos os direitos, rendas e jurisdições.
  • 1385-10 fim - Ao chegar à sua comarca do Alentejo, Nuno comunicou a Dom João os resultados da sua expedição e da batalha de Valverde, pedindo ao mesmo tempo perdão de ter agido sem a necessária licença.
  • 1386-01-11 a 02-15 - O Rei começou o cerco d a vila de Chaves. Preocupado com a defesa do Reino e um possível ataque de Castela, com o fim de livrar Chaves, o Rei convocou as tropas do país. As cartas chegaram durante o correr do mês de fevereiro; as tropas, provavelmente, estariam em exercício a partir de março, pois Lisboa deu soldo, aos seus soldados, para os meses de março, abril e maio.
    Também o Condestável, assim que recebeu o recado, chamou a sua gente. Reunida a sua tropa, partiu para o Porto, onde esperou a chegada do grosso da tropa.
  • 1386-03 - Do Porto foi a Castelãos, onde armou o seu arraial, que deixou entregue ao tio Martim Gonçalves de Carvalhal.
  • 1386-03 e 04 - Ele mesmo dirigiu-se a Chaves, onde ficou com o Rei no cerco da vila.
  • 1386-04-17 - O Rei fez doação a Nun’Álvares das rendas dos tabeliães da comuna dos Judeus de Lisboa.
  • 1386-05 início - A vila de Chaves capitulou ao fim de quatro meses de cerco, aproximadamente. O Rei doou-a ao Condestável.
    De volta no seu arraial de Castelãos, Nuno tentou a rendição de Bragança, por meio de negociações, sem o conseguir, porém.
    Após ter feito uma romaria a Santa Maria de Azinhoso, começou a executar um projeto, que há muito tinha em mente. Expulsou do arraial todas as mancebas e proibiu o jogo, não atendendo à grande resistência dos seus comandados.
  • 1386-05-06 c. - E quando o Rei chegou de Chaves, Nuno fez com que ele introduzisse a mesma proibição também no seu arraial.
  • 1386-05-07 a 20 - De Castelãos foi a Valariça, termo da Torre de Moncorvo, onde se reuniram os dois exércitos do Rei e do Condestável: 4.500 lanças (o que supõe uma tropa de 25.000 homens, mais ou menos). E este alardo foi o maior que até então se tinha visto em Portugal, acrescenta Fernão Lopes.
    Os dias, passados em Valariça, serviram para preparar uma nova campanha militar por terras castelhanas. Sendo Fernão Lopes, novamente, muito omisso na indicação das datas, vamos respigá-las, mais uma vez, no Livro 1 da Chancelaria de D. João I:
  • 1386-05-24 - Romaria do Rei a Santa Maria de Oliveira em Guimarães.
  • 1386-05-26 - Atravessado o Douro, foram até Osealhão.
  • 1386-05-27 - Presença em Almendral.
    A seguir, foram a Almeida; tomaram a vila e o castelo.
  • 1386-06-06 - Aqui estavam certamente no dia 6 de junho.
    Ao entrarem em Castela, o Rei dividiu o exército em três corpos, cada um com o seu próprio chefe e itinerário.
  • 1386-06-08 a 13 c. - Como de costume, o Condestável ficou com a vanguarda. Na companhia dele iam o Mestre de Cristo, os irmãos Martim e Gonçalo Vasques, João Fernandes Pacheco e outros aliados, que eram ao mesmo tempo os seus rivais, já desde as Cortes de Coimbra.
    Estes, por despeito, adiantaram-se à tropa, querendo tomar, por conta própria, alguns lugares, pouco fortes embora, a fim de empanarem a glória de Nuno. Ocuparam Fiolosa. San-Felice, porém, recusou-se a recebê-los, só se entregaria ao Condestável. Assim, tiveram que esperar por ele. Nuno foi admitido na vila, enquanto os outros podiam ficar fora.
    Furiosos, conspiraram contra o Condestável. Convidá-lo-iam a um almoço e provocariam uma discussão. Posto que lhes conhecesse a intenção, Nuno aceitou o convite e combinou com alguns, que estivessem de prontidão na vizinhança da tenda do Mestre de Cristo.
    Durant e a refeição, João Fernandes Pacheco falou-lhe desabridamente, mas Nuno não se deixou provocar, respondeu sempre com bons modos, sem se alterar.
    De tarde, continuaram até Fuenteguinaldo, onde se demoraram três dias. Dali foram a Robleda e chegaram a Cória, ponto combinado par a o reencontro dos três corpos, antes dos outros.
  • 1386-06-14 a 30 - O Rei fez questão de cercar essa vila pequena, sem importância e sem riqueza, contra o parecer do Condestável e de muitos outros. O tempo encarregou-se de dar razão a estes. Não houve progresso nenhum e as doenças obrigaram o Rei a levantar o cerco.
  • 1386-07-02 - Reentraram em Portugal e em Penamacor dissolveram as suas tropas.
  • 1386-07-05 - O contingente de Lisboa foi recebido nesta cidade, com grandes festas, em 15 de julho.
    O Condestável, antes de voltar para a sua comarca, nessa mesma época portanto, partiu em romaria a Santa Maria do Meio, em Sertã; a seguir visitou Ourém e só depois se retirou para o Alentejo.
  • 1386-07-25 - Chegada dos aliados ingleses à Corunha, sob o comando do Duque de Lencastre, pretendente à coroa de Castela
  • 1386-10 - Nuno, chamado pelo Rei a fim de assistir ao encontro com o Duque, partiu do Alentejo e juntou-se ao Rei, que já estava em Ponte da Barca.
  • 1386-11-01 - O Rei e o Condestável tiveram o seu primeiro encontro com o Duque, em Ponte do Muro, entre Melgaço e Monção.
  • 1386-11-02 a 06 - Conferências em Ponte do Muro. O Rei comprometeu-se a acompanhar o Duque de Lencastre numa expedição contra Castela, onde este esperava ser aclamado rei. Foi contratado também o casamento de D. João com D. Felipa de Lencastre, filha do Duque.
  • 1386-11-07 - Banquete de confraternização luso-inglesa.
  • 1386-11-08 - Por ordem do Rei, Nuno voltou ao Alentejo, a fim de convocar toda a gente disponível da comarca, para a expedição.
  • 1386-12-07 a 15 - O Rei com o Condestável em Évora; depois ambos viajaram ao Porto, aonde havia chegado a Infanta D. Felipa de Lencastre.
  • 1387-02-02 - Casamento do Rei D. João I com D. Felipa de Lencastre, que só neste mesmo dia é comunicado aos fidalgos e aos concelhos do Reino, que são convidados para a festa oficial no próximo dia 14.
  • 1387-02-05 - Nun'Álvares recebe a doação dos padroados das igrejas dos seus territórios: «que elle aia os padroados e as apresentações de todallas igrejas que som nas suas terras».
  • 1387-02-14 - Festas oficiais do casamento do Rei, no Porto. Nuno foi o Mestre-sala.
  • 1387-02-20 a 03-24 - No primeiro dia da Quaresma, as tropas deixaram a cidade do Porto e dirigiram-se a Babe.
  • 1387-03-25 - O dia 25 de março marcou o início da expedição. O Rei dispunha de um exército de 10.000 homens; o do Duque já contava pouco mais de 1.200, pois muitos tinham morrido. Como sempre, Nuno reservou-se o direito de comandar a vanguarda, embora o Rei tivesse pensado em confiá-la ao Duque. Atravessaram o rio de Maçãs, fronteira entre Portugal e Castela, e foram até Alcanizes.
  • 1387-03-30 e 31 - Na véspera do Domingo de Ramos chegaram a Tabara e fizeram aqui a sua festa.
  • 1387-04-01 e 02 - Marcha sobre Benavente, em ordem de batalha.
  • 1387-04-03 a 10 - Na vizinhança deste lugar ficaram uns oito dias, por causa da Semana Santa e da Páscoa. Nos dois dias de Páscoa, houve competições e jogos com os habitantes e soldados da vila, que terminaram numa briga, por os Castelhanos insultarem o Rei Dom João. Nos outros dias fizeram escaramuças e foragens nos arredores.
  • 1387-04-11 - «Passados já oito dias», foram a Matilha.
  • 1387-04-12 - No dia seguinte passaram a ribeira de Recovão, onde pousaram.
  • 1387-04-13 - No outro dia continuaram até Roalles. Cobraram este lugar.
  • 1387-04-14 a 05-08 - Alguns dias depois foram a Valderas, que se lhes rendeu igualmente.
  • 1387-05-09 a 12 - Após duas semanas de permanência nesta vila, dirigiram-se a Vila Lobos, que ficou cercada durante três dias. No quarto dia, os da vila tentaram uma surtida; perderam, porém, tanta gente no assalto ao arraial, que se renderam.
    Nesta paragem, o Condestável envolveu-se duas vezes em escaramuças. A primeira vez, para socorrer 17 portugueses que, durante mais de uma hora, aguentaram uma luta contra 400 lanças e muitos peões castelhanos. Estes, ao perceberem o socorro, retiraram apressadamente.
    Da outra vez fora mandado em foragem a Fafilla. Na volta, andando ele na retaguarda, soldados franceses de Vilhalpando, ao serviço de Castela, roubaram-lhe a parte que ia mais avançada. Nuno atrás deles. O capitão da vila saiu-lhe ao encontro com 1.000 lanças. Como Nuno insistisse em avançar, achou mais prudente bater em retirada.
    A campanha não estava dando o resultado esperado pelo Duque de Lencastre: os lugares de Castela não se pronunciavam a favor dele e o seu Rei evitava sagazmente uma batalha; os próprios ingleses já não aguentavam o clima e desertavam. Facilmente, Dom João I convenceu o Duque da inutilidade de continuar a expedição desta maneira. Resolveram voltar, mas por caminho diferente. Não queriam dar a impressão de desistirem da guerra.
  • 1387-05-12 a 14 c. - Foram a Villalpando, onde estiveram alguns dias, e finalmente vieram ao Douro, contra Santa Maria do Viso.
  • 1387-05-15 - No dia seguinte atravessaram o rio.
  • 1387-05-16 - No outro dia acamparam em Corrales.
  • 1387-05-17 - Um dia depois, ao atravessarem o Tormes, entre Salamanca e Ledesma, e a caminho de Ciudad Rodrigo, as tropas do Infante português, D. João, incomodavam a retaguarda dos Lusitanos, onde estava o Rei, que se queixou disso. Nuno completou primeiro a travessia da sua força toda, em seguida caiu de rijo sobre o Infante. Matou 15 dos soldados deste e prendeu 48.
  • 1387-05-18 a 28 - Neste mesmo sítio armaram o seu arraial. Durante os dias que aqui passaram, os Ingleses organizaram vários jogos com os Franceses, que estavam por Castela; conheciam-nos pessoalmente de outras campanhas e estes traziam-lhe pão e vinho. Isto deve ter sido por ocasião da festa de Pentecostes. Há um despacho deste arraial, de Martilha, a par de Salamanca, do dia 26 de maio, festa de Pentecostes.
    Entrementes, o Infante português reuniu vários capitães e formou uma tropa de 4.000 lanças.
  • 1387-05-28 c. - Quando os Portugueses levantaram o arraial e a sua vanguarda, já perto de Ciudad Rodrigo, ia atravessar o Agueda, os Castelhanos caíram-lhes em cima e tentaram isolar a retaguarda, não o conseguindo porém.
  • 1387-05-29 - Do acampamento, que fizeram aquém do rio, e do qual há um despacho do dia 29, em Aleoiellas, saiu mais um grupo de Ingleses que, com salvo-conduto de Castela, foi a Gasconha.
  • 1387-05-31 c. - Dali vieram ao Vale da Mula.
  • 1387-06-01 - No dia seguinte chegaram a Almeida. Estavam novamente em Portugal.
    Dissolvido o exército, Nuno foi enviado ao Alentejo. O Duque dirigiu-se a Coimbra a fim de visitar a filha; estando em Trancoso, recebeu uma embaixada por parte do Rei de Castela e chegou a um acordo com ela.
    O Rei foi em romaria a Guimarães, 30 léguas distante e que andou a pé, em cumprimento de uma promessa feita a Santa Maria de Oliveira antes de entrar em Castela.
  • 1387-06 fim - A seguir, visitou Porto e já estava em caminho para Coimbra, quando adoeceu gravemente em Curval, no fim do mês de junho.
  • 1387-07 início - O Condestável e mais outros fidalgos foram chamados. O Rei fez o seu testamento e a consternação era geral. Então ia terminar assim toda essa campanha pela independência de Portugal? Mas o Rei salvou-se. Nuno deixou-o, quando já estava bom, e voltou para Évora, passando por Vila Nova de Ourém.
  • 1387-07 a 11 - Depois do restabelecimento do Rei, a família real passou uma temporada em Coimbra e, a seguir, no Porto.
  • 1387-09-25 c. - Donde o Duque partiu no fim do mês de setembro.
    A estar certa a ordem, seguida por Fernão Lopes, teremos para outubro uma série de medidas que visavam a reorganização do país, e a convocação das Cortes de Braga, para o mês de novembro.
  • 1387-11 e 12 - Cortes em Braga, a que Nuno assistiu como Condestável do Reino e como procurador da Nobreza, por insistência dos fidalgos, que lhe pediram defendesse algumas pretensões junto ao Rei. Posto que a contragosto, Nuno desempenhou-se dessa tarefa, prestando-se a ser porta-voz dos cavaleiros, que todos estavam presentes. A causa patrocinada desagradou muito ao Rei, que lhe respondeu com pouco caso. Ora, nenhum dos fidalgos teve a nobreza de apoiar as razões do Condestável. Magoado, este observou: «Quem serve ao comum, não serve a nenhum», e propôs-se nunca mais aceitar tal encargo.
  • 1387-11-13? - Durante a celebração das Cortes, Nun’Álvares recebeu a notícia do falecimento de sua esposa, D. Leonor Alvim, que residia com a filha no Porto. O Condestável partiu imediatamente para lá, acompanhado de numerosos fidalgos. D. Leonor foi sepultada no mosteiro das Domínicas em Vila Nova de Gaia. Beatriz, a sua filha menor, foi confiada aos cuidados da avó, D. Iria Gonçalves de Carvalhal, em Lisboa.
    Nuno voltou a Braga e continuou a assistir às Cortes. Os amigos começaram logo a planejar um novo casamento para ele. Até o Rei e a Rainha estimularam esses projetos. Nuno tinha apenas 27 anos, era riquíssimo, a figura mais importante do Reino e, por isso mesmo, um partido sumamente desejável. A pessoa preferida era D. Beatriz de Castro, filha do Conde D. Álvaro Pires de Castro, sobrinha de D. Inês de Castro e viúva, embora donzela, de Afonso Henriques, primo do Rei de Castela. No intuito de fugir a todas essas instâncias inoportunas, Nuno solicitou e obteve licença de deixar Braga e as Cortes.
  • 1387-12 - Estando o Condestável sossegadamente em Évora, em dezembro, como insinua a ordem observada por Fernão Lopes na sua Crónica de Dom João I, veio-lhe a notícia de que o Mestre de Santiago, o de Castela, reunia uma tropa para assaltar a região de Estremoz e Vimieiro. Prontamente foi a Estremoz e convocou os seus soldados, a fim de ir ao encontro do Mestre e cortar-lhe o caminho. Quando o Mestre percebeu esse movimento, dissolveu a sua tropa. Contrariado e decepcionado, Nuno fez o mesmo e já se dispunha a voltar para Évora. Neste momento chegou uma chamada urgente de Beja e Serpa: viesse sem demora, pois o Conde de Niebla tencionava atacar Campo de Ourique, com 700 lanças e grande número de besteiros e peões!
    O Condestável estava praticamente sem soldados, mas, com os poucos que lhe restaram, largou para lá, sem perda de tempo; poderia chamar outros mais nas frontarias, se necessário fosse. Atravessou a serra de Ossa, passou por Redondo e encontrava-se em Monsaraz, quando foi informado de que, nessa mesma manhã, o Conde de Niebla saqueara Vidigueira e Vila de Frades, e levava presos os seus habitantes a Vila de Fresno, além da fronteira.
    Com a sua tropa e mais alguns, que conseguira reunir em Monsaraz, Nuno correu a noite toda e, de madrugada , lançou-se sobre a vila desprecavida. Após uma luta violenta, em que Nuno ficou ferido numa coxa, conseguiu livrar todos os prisioneiros. Numerosos Castelhanos e Gascões foram mortos e enorme quantidade de armas e cavalos, ouro, prata e azêmolas caiu nas mãos dos Portugueses.
  • 1387-12 - A esta altura, o Rei estava em Lisboa e alegrou-se muito com as novas recebidas.
  • 1388-01-31 a 03-25 - No dia 31 de janeiro, o Rei chegou sobre Melgaço, cuja capitulação se deu depois de 53 dias de luta renhida, e no dia 25 de março o Rei entrou na cidade.
  • 1388-05-20 a 06-23 - «Partio el-Rei de Monçaom e veio-se a Lixboa e leixou hi a Rainha, por hir cerquar Campo maior...», continua Fernão Lopes, após ter historiado a tomada de Melgaço.
    De fato, veio a Lisboa, mas só na segunda quinzena de maio, e demorou-se aqui pouco mais de um mês, como mostram os Livros da Chancelaria de Dom João I: a data inicial dos despachos é 20 de maio, a data final é 23 de junho.
  • 1388-06-26 a 09-15 - A partir do dia 26 de junho, o Rei encontrava-se em Évora, onde passou os meses de julho e agosto, e parte de setembro.
  • 1388-09-15 - No dia 15 de setembro iniciou-se o cerco de Campo maior.
  • 1388-10-13 - O cerco levou quase um mês, até 13 de outubro, quando o lugar foi tomado à força.
  • 1388-11-01 - O castelo, porém, continuou a luta até o dia 1 de novembro, quando o seu alcaide entabulou negociações com o Condestável: entregaria o castelo dentro de 30 dias, se o Rei de Castela não enviasse socorro.
  • 1388-11-15 - Durante este tempo de espera, o Rei fez doação da vila de Chaves a Dom Nuno Álvares Pereira, Condestabre: «toda nossa jurdiçam e mero e misto império ... em esta vila e termo, em escambo por outras jurdições, que elle nos leixou d'outras villas, de que lhe nos fizemos mercee, segundo todo mais compridamente hé contheudo no priuillegio de escambo, que lhe sobr’ ello demos...».
  • 1388-12-01 - Rendição do castelo de Campo maior. E «deu el-Rei o castelo a Martim Afonso e partiu dali e veio-se a Lisboa para fazer Cortes», escreve Fernão Lopes.
  • 1388-12 - Quanto ao Condestável, este foi visitar Ourém, Porto de Mós e Aljubarrota. Provavelmente, terá viajado em companhia do Rei, até estes lugares, portanto na primeira semana de dezembro.
    Em Aljubarrota deu início à construção da Capela de Santa Maria e São Jorge, no local em que se feriu a batalha real em redor da sua bandeira.
  • 1389-02 a 03 - Depois mandou fazer o mosteiro e a igreja de Santa Maria em Lisboa, dizem as duas Crónicas. Por Pereira de Sant'Ana sabemos que esta obra se começou logo a seguir, preparada, sem dúvida, quando Nuno estava em Lisboa para as Cortes. Pois a primeira pedra foi lançada em julho de 1389.
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