Vida de São Nuno - A Revolução Nacional

A REVOLUÇÃO NACIONAL (1383-1385)

  • 1383-11-22 - Após ter recebido o aviso da Rainha, Nuno apresentou-se para assistir ao trintário de D. Fernando em Lisboa. Foi o único que se fez acompanhar de gente armada: 30 escudeiros, mais os homens de pé. Isto provocou logo um conflito com a Rainha, que tentou expulsar os escudeiros dos alojamentos, no que ficou mal sucedida.
  • 1383-11 - Terminadas todas as cerimónias fúnebres, Nuno andava muito preocupado com o futuro de Portugal: o trono estava vago, e quem defenderia o país? «E por espírito de Deus lhe veio o pensamento, que não pertencia a outrem, nem o devia, nem podia fazer, se não o Mestre de Avis». Mas concluiu também que, em tal caso, seria indispensável a eliminação de João Fernandes Andeiro, o fatídico Conde de Ourém, amante da Rainha D. Leonor.
    Comunicou estes seus pensamentos ao tio Rui Pereira que, por sua vez, os transmitiu ao Mestre. Houve um encontro entre os três, e Nuno ficou autorizado a dar seguimento ao projeto contra o Conde. No dia seguinte, porém, o Mestre mudou de parecer e, provisoriamente, suspendeu a sua ordem.
    Após o malogro de outra tentativa de ainda convencer o Mestre, Nuno abandonou a cidade e foi no encalço do irmão Pedro, que já estava em Pontével, onde este recebeu uma embaixada por parte da Rainha, com grandes promessas, o que descontentou fortemente a Nuno.
  • 1383-12-07 e depois? - Juntos continuaram a viagem até Santarém, onde Nuno se hospedou em Sta. Maria de Palhães. Em um dos seus passeios, perto da igreja de Sta. Iria, deu-se o episódio com o alfageme, que lhe corregeu uma espada magnífica e só lhe aceitaria pagamento, quando fosse Conde de Ourém.
  • 1383-12-06 - Poucos dias depois, chegaram notícias de Lisboa sobre o início da revolução: no dia 6 de dezembro o Mestre matara o Andeiro; o povo revoltara-se contra o Bispo D. Martinho, lançando-o da torre da Catedral e maltratando em seguida o seu cadáver, que lhes não merecia nenhum respeito, por ser de um cismático.
  • 1383-12-15 e 16 - A Rainha, após ter enterrado o Conde, fugira para Alenquer com toda a sua gente; finalmente, o Mestre tinha sido aclamado Regente e Defensor do Reino.
  • 1383-12-19 - Os três irmãos Pereira comentavam as notícias: Nun' Álvares todo a favor do Mestre; Pedro Álvares, frio e calculador, não via vantagem em aderir ao Mestre; Diogo Álvares hesitava, no fim deixou-se convencer por Nuno. Neste dia, Nuno separou-se do irmão Pedro e partiu para Lisboa. Em Pontével, Diogo arrependeu-se e voltou atrás. Sozinho, Nuno continuou com a sua tropa.
  • 1383-12-20 - Passou a noite em Eireira e na manhã seguinte falou abertamente com os seus sobre o seu projeto de apoiar a causa do Mestre contra o Rei de Castela. Todos concordaram. A seguir pernoitaram em Alverca, mas não dormiram muito, porque souberam que a Rainha tinha desejo de os prender.
  • 1383-12-21 - No dia seguinte chegaram a Lisboa. Nuno procurou imediatamente o Mestre.
  • 1383-12-23 - Dois dias depois, ao fazer-lhe outra visita, foi nomeado membro do Conselho.
  • 1383-12-25 - Deve ter sido pelo Natal, que Nuno recebeu a visita de sua mãe, D. Iria Gonçalves, que criticara muito a Pedro Álvares, por ter voltado sem o irmão. Andava preocupada com a aventura do filho ao lado do Mestre. Ela estava mais inclinada por D. Beatriz, a quem tinha acompanhado nas bodas como cuvilheira. Vinha com grandes promessas por parte de Castela: o condado de Viana e outras terras mais. Nuno rejeitou tudo: que Deus jamais permitisse que ele, Nuno, por promessas ou dádivas, fosse contra o país que o criara. Antes queria gastar seus dias e derramar seu sangue em defesa da Pátria!
    O próprio Mestre veio falar com ela, mas já não era necessário, pois com a bênção maternal confiou-lhe também o filho Fernão.
  • 1383-12-26 c. - O exemplo de Nuno e as suas palavras animaram o Mestre, que pôs agora de lado, definitivamente, o pensamento de ir à Inglaterra, como comunicou aos conselheiros. Imediatamente resolveram tomar uma atitude mais enérgica. O primeiro passo seria a conquista do Castelo de São Jorge, que dominava a cidade.
  • 1383-12-28 - O mestre cercou o castelo e Nuno foi falar com os defensores. Conseguiu estabelecer um prazo de quarenta horas para a capitulação.
  • 1383-12-30 - Dois dias depois, o castelo estava nas mãos do Mestre.
  • 1384-01-01 - O Mestre recebeu a homenagem de Almada, que prometeu apoiar a causa.
  • 1384-01-02 - Logo a seguir foi com Nuno a Alenquer, acompanhado de uma pequena tropa de 200 lanças e poucos homens de pé.
  • 1384-01-03 a 12 - Passaram a noite em Castanheira, e de madrugada chegaram à vila, onde à tarde começaram as escaramuças, que continuaram durante uns nove dias.
  • 1384-01-12 - No dia 12 de janeiro, chegou o Rei de Castela a Santarém; o Mestre julgou mais prudente voltar para Lisboa, a fim de defender a cidade. Nuno sugeriu um ataque ao próprio Rei, antes que o grosso das tropas chegasse. O Mestre discordou, por serem poucas as suas forças.
  • 1384-01-13 - E assim voltaram para Lisboa no dia seguinte.
  • 1384-01-14 a 31 - Seguiu uma quinzena de hesitações. De Santarém chegaram pedidos: subissem o Tejo a fim de atacar o Rei. Nuno estava a favor e o Conselho aprovou a ideia, para depois recuar: podia haver traição; além disso as barcas não podiam transportar um número suficiente de soldados, nem, provavelmente, navegar além de Muge.
    Nesta mesma quinzena, houve mais um desafio na vida de Nun'Álvares. Propriamente, fora dirigido ao Mestre, pelo Conde de maiorca. Nuno fez-se substituir ao Mestre, a quem não convinha aceitar tal duelo. Nem este, porém, se realizou, pois o Conde não lhe aceitou a substituição.
  • 1384-02-01 - No Tejo apareceram 7 navios inimigos, com mantimentos para as tropas castelhanas, que se supunham sobre a cidade.
  • 1384-02-03 - Ataque aos navios, seis dos quais foram confiscados.
  • 1384-02-05 - Nuno foi mandado a Sintra, com uma tropa de 300 lanças, a fim de prover a cidade de víveres. Apesar da presença dos Castelhanos, não encontrou nenhum estorvo e apropriou-se de muito gado e trigo.
  • 1384-02-06 - No dia seguinte, à noite, chegou-lhe um aviso de que vinha vindo, e já estava em Alenquer, um reforço inimigo de 1000 lanças. Os seus ficaram com medo; muitos desertaram nessa mesma noite, e os demais, 60 lanças, insistiram no outro dia, que se voltasse à cidade quanto antes.
  • 1384-02-07 - Nuno não teve pressa e até ficou à espera dos Castelhanos, com uma tropa auxiliar, que lhe viera da cidade com o tio Rui Pereira. Como o inimigo não aparecesse, reentraram na cidade, já no fim da tarde.
  • 1384-02-08 - Um dia depois chegou o tal exército, enviado pelo Rei de Castela, que fez o seu arraial no Lumiar.
  • 1384-02-10 - Surtida de uma pequena tropa da cidade aos campos de Alvalade, entre Olivais e Lumiar. Mais perto da cidade, a par da igreja de São Lázaro, o Mestre e Nun' Álvares prepararam uma cilada com 300 lanças. O inimigo, provocado pela tropa, saiu-lhe em perseguição; recuou, porém, quando deu conta da cilada.
  • 1384-02 fim - Quando estavam assim, já bem 15 dias, tomou-se a resolução de atacar o inimigo, que estava muito sossegado no Lumiar. O Mestre e Nuno juntaram toda a sua gente, saíram no dia seguinte e ... encontraram o arraial abandonado! Os Castelhanos haviam já fugido para Alenquer e Torres Novas.
    Nesses mesmos dias, ainda, solucionou-se um conflito que surgira em Almada, onde os maiorais desejavam entregar a vila à Rainha, contra a vontade da gente pequena. Nuno foi mandado para lá com 40 lanças. Postou-se à porta do castelo, de forma que ninguém podia entrar nem sair. Cheios de susto, todos compareceram. Nuno falou-lhes de tal maneira, que eles prometeram obediência ao Mestre. Este veio, recebeu as homenagens e tomou posse da vila.
  • 1384-03 1ª semana - O mês de março trouxe, além de uma profunda alteração no cenário da luta: a expansão organizada da revolução. As tropas castelhanas voltaram ao Lumiar. O Rei deixou Santarém (dia 10), garantiu as defesas de Alenquer (dia 11), Torres Vedras (12), úhidos (13); passou quatro dias no Bombarral (14-17) e fez conselho em Arruda, onde resolveram ficar nos arredores de Lisboa, fechar o cerco assim que chegasse a frota e fazer vir um reforço por terra, de Alcântara.
    Neste meio tempo, Nun’Álvares foi nomeado fronteiro-mar, ou comandante militar do Alentejo. Certamente antes do dia 17 de março, pois durante a estadia do Rei de Castela no Bombarral, deu-se o ataque a Alenquer, quando Nuno já estava ausente. Possivelmente antes do dia 6 de março, quando o Mestre lhe doou todos os bens confiscados ao traidor David Negro. Pois esta doação parece uma ajuda de custo para a campanha no Alentejo, onde os pequenos estavam a favor do Mestre contra os grandes, que guardavam os castelos para Castela.
    Nuno iniciou logo os seus preparativos para o novo posto, de tão grande importância: escolheu um bom núcleo de 40 escudeiros de confiança absoluta e mandou fazer o seu célebre estandarte. Além de uma tropa de 200 lanças, o Mestre deu-lhe plenos poderes, fazendo-o seu lugar-tenente em todos os sentidos: podia confiscar os bens dos traidores e fazer mercês e doações aos que lhe servissem fielmente.
  • 1384-03-07 c. - De Lisboa partiu para Almada. Aqui, ouviu notícias sobre a chegada de sete ou oito navios castelhanos e o ataque que o Mestre lhes desejava fazer. Nuno não se conteve, devia estar presente. Dirigiu-se a Cacilhas e aventurou-se à barra revolta, com seis escudeiros, num pequeno barco; fez duas abordagens, e os navios foram tomados, observa a Crónica do Condestável, sem outros pormenores da luta.
  • 1384-03-11 - Após essa proeza, voltou a Almada e continuou até Coina, onde o foi procurar o Mestre, a fim de almoçar com ele.
  • 1384-03-12 e 13 - A seguir, o Mestre tornou a Lisboa e Nuno dirigiu-se com os seus a Setúbal. Os moradores não os quiseram receber dentro da vila, pois preferiram manter-se neutros na luta que se travava entre o Mestre e o Rei de Castela. Obrigados assim a pousarem fora, Nuno aproveitou essa noite para um exercício da tropa. Por um rebate falso fez pensar que estivessem frente a uma força de 300 lanças. Alegrou-se muito ao verificar que os seus eram destemidos, dignos da sua confiança.
    Foi aqui, ainda, que constituiu o seu Conselho, nomeou os diversos oficiais, mandou preparar a sua capela e lhe indicou um pregador.
  • 1384-03-14 e 15 - De Setúbal foi, passando por Palmela, a Montemor o Novo, demorando-se aqui um dia e conseguindo atrair a vila à órbita do Mestre.
  • 1384-03-16 a 25 - No outro dia chegou a Évora, sede da comarca do Alentejo. Foi bem recebido e todos lhe prestaram a devida homenagem e obediência. Começou logo a desenvolver uma grande atividade, a fim de recrutar um maior número de gente. Cartas foram enviadas a todos os lugares da comarca.
  • 1384-03-26 a 04-03 - Continuou depois essas mesmas operações em Estremoz. A cooperação não foi lá tão espontânea. Teve que escrever mais cartas e insistir, viessem quanto antes as tropas necessárias para o serviço do Mestre. Era urgente! As forças castelhanas já se concentravam no Crato, a cada momento podia realizar-se a sua junção com as portuguesas de Pedro Álvares ao serviço de Castela.
  • 1384-04-04 - O resultado não correspondeu, nem ao trabalho, nem à expectativa. No alardo que fez, contou pouco mais de 1.300 homens ao todo. Além disso, estavam mal armados, desanimados e sem confiança no seu jovem chefe.
  • 1384-04-05 - Este teve que desenvolver todas as suas qualidades retóricas em conversas com os oficiais; finalmente todos aceitaram a luta.
  • 1384-04-06 - Quarta feira da Semana Santa. Batalha dos Atoleiros. Um exército de 5.000 homens, bem armados e treinados, é desbaratado por um tropel desorganizado e falto de experiência – mas que se recomendara a Deus, joelho em terra – em uma nova táctica militar, aplicada pela primeira vez na península ibérica. Nuno lançou-se em perseguição dos fugitivos e só obrigado pelo anoitecer voltou ao campo. Já muito tarde, foi dormir em Fronteira.
  • 1384-04-07 - No dia seguinte tentou provocar um grupo de Castelhanos, que se refugiara em Monforte. Estes não quiseram sair da vila, embora Nuno esperasse o dia todo e mais a noite.
  • 1384-04-08 - Como se tratasse de lugar bem fortificado, desistiu de um possível cerco e foi em romaria a Santa Maria de Assumar. Era Sexta feira Santa. Encontrou a igreja horrivelmente profanada, pois os Castelhanos a haviam usado como estrebaria. Pessoalmente ajudou a tirar fora o esterco e limpar a igreja.
  • 1384-04-09 - Sábado Santo, tomou a vila de Arronches e mandou tomar Alegrete, por um escudeiro seu.
  • 1384-04-10 a julho - Passou a Páscoa em Arronches. A seguir licenciou grande parte dos seus soldados e foi visitar Estremoz, Évora e Montemor o Novo.
  • 1384-06-01 - Em recompensa da vitória obtida nos Atoleiros, que repercutiu tão profundamente no ânimo dos soldados e se constituiu a base da confiança que começaram a ter nas brilhantes qualidades tácticas do jovem comandante, o Mestre fez-lhe «pura doação entre vivos» das terras do condado de Ourém, com as vilas e lugares que lhe pertenciam. Mas ainda sem o título de conde, que lhe foi conferido mais tarde, após a batalha de Aljubarrota. Deu-lhe mais Vila Viçosa, Borba, Estremoz, Montemor o Novo, Almada, Colares, Evoramonte, Unhes, Frielas, Camarate e Bouças.
  • 1384-05-14 - A frota, preparada pelo Mestre, deixou Lisboa e foi unir-se à frota que estava no Porto.
  • 1384-05-26 - A frota castelhana começou a chegar sobre Lisboa.
  • 1384-05-28 - O Rei de Castela fechou o cerco por terra.
  • 1384 maio e junho - No Norte, combate aos Galegos, que invadiram o Minho; em seguida a frota lusitana percorreu as costas da Galiza.
  • 1384-06-11 antes - Tomada de Ourém pelo Mestre da Ordem de Cristo.
  • 1384-06-24 - A frota toda no Porto, por ocasião da festa de S. João.
  • 1384-07 início - Mais ou menos nessa época, Nun’Álvares deve ter recebido a ordem do Mestre de convocar soldados e embarcar com eles na frota, que estava no Porto. Nuno aprontou-se e escreveu aos do Porto, que em breve aí estaria. Partiu de Évora, demorou-se um dia em Tomar e almoçou com o Mestre da Ordem de Cristo. Ao chegar a Coimbra, comunicaram-lhe que a frota já estava em Buarcos. Despachou outro recado, pedindo mais uma vez que o esperassem. Pela segunda vez, porém, os chefes da frota não quiseram esperar e, por inveja dele, até apressaram a saída.
    Poucos dias Nuno se demorou em Coimbra. Na volta visitou novamente Tomar. Foi a Torres Novas, a fim de se encontrar com um amigo, que desejava conquistar para a causa do Mestre, sem o conseguir. Tornou a Tomar, onde reuniu o seu Conselho, propondo-lhes a ideia de irem a Lisboa e atacar o arraial castelhano. Enviariam um recado ao Mestre para ele sair da cidade num momento sincronizado. Os conselheiros, porém, não aprovaram a proposta e Nuno conformou-se com eles.
    Depois passou por Punhete; aqui recebeu a informação de que um grupo de Castelhanos havia de passar por ali perto, a caminho de Castela, com muitas coisas roubadas. Contente, foi esperá-los na ribeira de Alperraião e, além de os aliviar desse tesouro, infligiu-lhes pesadas perdas. Em seguida, voltou para Évora.
  • 1384-07-17 - Chegada da frota do Porto a Cascais.
  • 1384-07 fim - Em Évora, Nuno recebeu uma carta do Mestre de Avis, com notícias sobre a chegada da frota e a impossibilidade de uma batalha. Com todos esses homens a mais, os mantimentos minguavam assustadoramente. Que Nuno viesse quanto antes atacar o arraial de Castela. As tropas da cidade sairiam à mesma hora.
    Era o que Nuno mais esperava. Novamente, porém, o Conselho mostrou-se desfavorável: o projeto era arriscado; não acreditavam que Lisboa estivesse em tão grande miséria que fosse preciso aventurar tanto. A contra-gosto, Nuno respeitou-lhes o parecer.
    Nessa mesma última semana de julho, fez tomar o castelo de Monsaraz.
    Quando o Rei de Castela soube que Nuno não tinha vindo na frota, despachou ordens de capturá-lo vivo ou morto, pois esse homem era um perigo para a continuação do cerco.
    O primeiro que tentou «ir buscá-lo» foi João Rodrigues de Castanheda. Este estava em Badajoz com 300 lanças. Ao saber disto, Nuno partiu de Évora ao encontro dele. Debalde, os Castelhanos tentaram impedir-lhe a travessia do Guadiana. Após uma luta violenta, eles refugiaram-se na cidade, donde não se atreveram a sair, embora Nuno os esperasse durante muito tempo. Por fim tornou a Elvas.
  • 1384-08-01 - Almada, na impossibilidade total de continuar a defesa, entregou-se a Castela.
  • 1384-08-08 - Com a peste a dizimar-lhe o arraial, o Rei de Castela tentou entrar em acordo com o Mestre de Avis, mas este repeliu-lhe todas as propostas. Tentativa de traição, por parte do Conde Pedro de Castro, filho do Conde de Arraiolos.
  • 1384-08-15 - Parece que a segunda tentativa de «ir buscar» Nun’Álvares deve ter-se dado depois das negociações de Castela com o Mestre de Avis, e na altura da conspiração do Conde Pedro. Desta forma, Nuno seria impedido de socorrer a cidade. Desta vez, foram encarregados Pero Sarmiento e Pedro Álvares, o próprio irmão de Nuno. Juntar-se-iam com 600 lanças às forças de João Rodrigues de Castanheda, que estavam no Crato.
    Disso Nuno foi informado por seus espiões, que operavam em Lisboa e no Crato. Encontrava-se ainda em Elvas e transportou-se rapidamente em direção de Cano, a fim de impedir a junção das tropas. Perto de Ameial, junto à fonte de Figueira, passou a noite. No dia seguinte continuou a marcha, e já estava além de Avis, quando recebeu o recado de que Pero Sarmiento e Pedro Álvares haviam passado por ali no dia anterior. Chegara tarde! Regressando, novamente por Cano, voltou a Évora.
    Enquanto andava preocupado com esse movimento de tropas, veio-lhe uma carta do Mestre a confirmar as informações recebidas: Pero Sarmiento e Pedro Álvares deixaram o arraial de Lisboa, com 600 lanças. Unidos às forças do Crato, dispunham-se a combater Nuno. Que estivesse atento.
    Este já lhes conhecia os efetivos: 2.500 lanças, além de muitos outros homens (provavelmente 12.000 ao todo). Por isso mandou recrutar mais gente. Conseguiu reunir 530 lanças e 5.000 homens de pé.
    Os Castelhanos avançaram até Arraiolos, donde provocaram Nun’Álvares, «que aparecesse quanto antes, para apanhar». No dia seguinte, aproximaram-se mais. Nuno deixou Évora e armou o seu campo uma légua adiante, um pouco além da quinta de Oliveira. Esperou, em vão, pelos Castelhanos. Passou a noite no mesmo lugar e de manhã avançou mais uma légua, até Divor, aonde chegaram também os Castelhanos e o cercaram completamente, mas sem querer começar a batalha. Ao contrário, prometeram-lhe grandes mercês e honras se se quisesse bandear para Castela. Nuno mandou responder: que não perdessem o tempo assim inutilmente, estava à espera deles, já que o desafiaram.
    Esperou até à noite, debalde. Ao anoitecer, os Castelhanos recolheram as tropas e recuaram. Nuno aproveitou-se disso e levou a sua tropa a Évora. Era uma noite de tempestade. Alguns perderam-se no caminho e foram parar ao arraial castelhano. Outros ficaram nas vinhas, contentando-se com uvas; foram encontrados pelo inimigo.
    Ao reunir a tropa, de madrugada , Nuno percebeu que grande parte desertara. Além disso, soube que os Castelhanos já estavam em Viana. Teve intenção de ir-lhes no encalço com as 300 lanças que sobraram; desaconselharam-lho. Dois dias depois, teve notícias de que os do Crato tomaram posse de Arraiolos, entregue por alguns traidores, e dispersaram os soldados. Que Sarmiento, Pedro Álvares e Castanheda estavam a caminho de Lisboa com 700 lanças. Preparou-se para atacar esta tropa. Não o conseguiu, pois ela dispersou-se também, ao ter informação deste projeto, à noite, no Porto do Carro.
    Quando Sarmiento e o Prior de Crato chegaram ao arraial de Lisboa, o Rei exprobrou-lhes amargamente a covardia.
    Desgostoso, Nuno voltou a Évora. Mandou os seus espiões a Almada, a fim de vigiarem Sarmiento e Castanheda, ora destacados lá no castelo.
  • 1384-08-29 - Calculou o seu tempo, reuniu 300 lanças, mais os necessários homens de pé e moveu-se até Palmela, onde preparou o ataque.
  • 1384-08-30 - Noutro dia teve a sorte de caçar um grande porco, que mandou entregar, na manhã seguinte, a Pero Sarmiento, avisando-o assim da sua presença. À noite saiu de Palmela e, querendo evitar Coina, onde havia uma guarda castelhana, atravessou a charneca de Azeitão, rumo a Sovereda e Almada, aonde chegou de manhã, mais tarde do que tinha calculado, por ter errado o caminho.
  • 1384-09-01 - Mesmo assim surpreendeu a vila, que saqueou à vontade, confiscando grande número de cavalos, quantidade de armas e outras coisas de valor.
    A seguir reuniu a tropa toda nos morros vizinhos, com a sua bandeira desfraldada e as trombetas a atroarem triunfantemente.
    Espantou-se o arraial castelhano — os da cidade olhavam com preocupação: mais um contingente inimigo?
    Quando Sarmiento chegou apressado à praça, que devia ter defendido, Nun’Álvares já estava a almoçar em Coina. De tarde repartiu a grande presa e tornou a Palmela. À noite mandou acender grandes fogueiras no castelo. Foi então que os da cidade compreenderam que Nuno ali estava; alegres responderam aos sinais, iluminando por sua vez o paço real.
  • 1384-09-03 - O Rei de Castela resolveu levantar o cerco, forçado pela grande mortandade que lhe causara a peste, que até atacou a Rainha.
  • 1384-09-04 - No dia seguinte pôs fogo ao arraial e seus arredores.
  • 1384-09-05 - Na manhã set. 5 da segunda-feira abandonou finalmente Lisboa, retirando-se a Torres Vedras. Ia triste e cheio de furor rogou pragas contra a cidade: «Oh Lisboa! Lisboa; tanta mercê me faça Deus, que ainda te veja lavrada de ferros de arados!»
  • 1384-09-06 - Ação de graças em Lisboa.
  • 1384-09-23 a 30 - Quando Nun'Álvares soube que o Rei de Castela ainda estava em Santarém, com pouca gente, nasceu-lhe o propósito de atacá-lo e nesse sentido foi falar com o Mestre, na última semana de setembro, não obstante a frota castelhana, que continuava a cercar a cidade. Desceu de Palmela ao cabo de Montijo, onde o esperava um barco. Embora bem pudesse evitar a frota, fez questão de passar por meio dos navios e ao estar entre eles mandou soar as trombetas, causando assim uma grande confusão. E aos que lhes perguntavam «quem era?», respondiam «Nun’Álvares!», pois ninguém era capaz de lhes impedir a passagem.
    Após o desembarque em Lisboa, foi a Nossa Senhora da Escada assistir à sua Missa e em seguida procurou o Mestre. Durante os dias, que esteve em Lisboa, tiveram muitas reuniões sobre a situação do país e as providências que cumpria se tomassem.
  • 1384-10-01 - Realizou-se um grande comício na igreja d e São Domingos, em que o Mestre de Avis expôs a situação e as dificuldades que ainda iam encontrar. Que eles mesmos — fidalgos e povo — tomassem as suas resoluções.
    Resolveram que convinha fazer uma nova aclamação do Mestre como Regente e Defensor do Reino; todos deviam prestar-lhe homenagem, ou juramento de fidelidade; todos os concelhos, prelados e fidalgos seriam convocados para as Cortes em Coimbra.
  • 1384-10-06 - Juramento de fidelidade — privilégios para Lisboa. Neste dia, o Mestre e Nuno concordaram em irem atacar o Rei de Castela. Nuno esperaria pelo Mestre em Palmela, aonde voltou depois de tudo estar assentado.
  • 1384-10-14 - O Rei retirou-se para Castela, em verdadeiro cortejo fúnebre, levando os numerosos mortos ilustres.
  • 1384-10-16 - Ao receber esta notícia, Nuno deixou Palmela e voltou para Évora, passando por Setúbal.
  • 1384-10-24 e 25 - Tentativa fracassada do Mestre de ir sobre Sintra.
  • 1384-10-28 - A frota castelhana abandonou Lisboa e Almada.
  • 1384-10-30 - O Mestre mandou cercar Torres Vedras.
  • 1384-10-31 - Três dias depois da largada da frota, o Mestre recebeu, mais uma vez, a homenagem da vila de Almada.
  • 1384-11-11 a 12-18 - O Mestre no cerco de Alenquer, que se rendeu em 10 de dezembro «avemdo já seis domaas que chegara sobre Allamquer».
  • 1384-12 a 1385-02-13 - O Mestre no já iniciado cerco de Torres Vedras. Tomada da vila e do castelo de Portel por Nun’Álvares, com o auxílio de alguns habitantes do lugar. Um clérigo mandou fazer chaves falsas e à hora combinada Nuno e os seus, que vieram por Torre dos Coelheiros, entraram na vila. Não conseguiram tomar imediatamente o castelo, que só se rendeu no dia seguinte. Feitas as alterações necessárias na administração da vila, Nuno voltou par a Évora.
  • 1384-12 2ª quinzena - Quando o Mestre estava no cerco de Torres Vedras, Nuno dirigiu-se de Évora a Elvas, pois recebera recado de que algumas pessoas importantes tramavam a entrega da vila a Castela. Mandou-as a Torres Novas, onde o Mestre os recebeu bem e segurou ao seu serviço.
    Ao estar assim em Elvas a sossegar a vila, chegou ali uma delegação de Vila Viçosa. Ofereceram-lhe, falsamente insinua Fernão Lopes, uma oportunidade de tomar esse lugar por traição. Ao anoitecer deixou Elvas e foi até Arraial, onde passou o resto da noite. Bem de madrugada , mandou adiante o irmão Fernão Pereira com Álvaro Coitado. Estes tentaram entrar pela porta da Torre, sem saberem que o inimigo já estava à espera deles. Uma laje, lançada de cima pela abertura da abóbada, esmagou Fernão e o seu escudeiro. Álvaro conseguiu alcançar a porta, mas ficou ferido e preso.
    Nisto chegou Nuno com os seus. Não puderam fazer mais nada e retiraram-se até Borba. No dia seguinte pediu o corpo de Fernão e foi enterrá-lo no convento de São Francisco, em Estremoz.
    Depois voltou com mais gente e vários engenhos e iniciou o cerco do lugar. Houve algumas escaramuças. Compreendendo, porém, que não podia tomar a vila, forte e bem abastecida, e que não convinha sacrificar os seus homens, levantou o cerco e tornou a Estremoz.
    Aqui planejou a libertação de Álvaro Coitado. Ao saber a data certa em que este ia ser transportado a Olivença, mandou atacar a escolta que o levava, com feliz resultado.
  • 1385-01 - De volta em Évora, Nuno recebeu uma chamada do Mestre, que ainda estava no cerco de Torres Vedras.
  • 1385-01-08 - Descoberta uma conjuração contra o Mestre. Três conspiradores conseguiram fugir.
  • 1385-01-09 - O quarto foi executado no dia seguinte.
  • 1385-01 - Nuno, apenas viera de Évora com 60 homens, ouviu essa notícia em Lisboa, e ainda como os quatro capitães castelhanos de Santarém, Alenquer, Óbidos e Sintra estavam em entendimentos com esses conspiradores e através deles com o defensor de Torres Vedras, para todos fazerem um ataque simultâneo ao arraial português. Sem perder tempo, Nuno armou a sua pequena tropa e foi juntar-se ao Mestre. Este saiu a recebê-lo e durante três dias mantiveram as suas tropas de rigorosa prontidão. Os Castelhanos, porém, não apareceram.
  • 1385-01-21 - Alenquer virou novamente a favor de Castela.
  • 1385-01 fim - O Mestre e Nuno resolveram continuar o cerco de Torres Vedras por mais quinze dias apenas, a fim de irem então às Cortes de Coimbra. Entrementes, Nuno mandou chamar as suas tropas alentejanas.
  • 1385-02-14 c. - O Mestre e Nuno levantaram o cerco e dirigiram-se a Coimbra, passando por Óbidos, Alcobaça e Leiria.
  • 1385-03-03 - Chegada a Coimbra — início das Cortes de Coimbra.
  • 1385-04-06 - O Mestre de Avis aclamado como Rei Dom João I de Portugal.
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