Vida de São Nuno - Preparação

NUN'ÁLVARES PEREIRA

A SUA CRONOLOGIA E O SEU ITINERÁRIO

PREPARAÇÃO (1360-1383)

  • 1360-06-24 - Nascimento de Nun'Álvares, provavelmente em Flor de Rosa. Seus pais eram Álvaro Gonçalves Pereira, freire professo da Ordem do Hospital e Prior do Crato, e Iria Gonçalves de Carvalhal, «uma mui boa e mui nobre mulher».
  • 1361-07-24 - Precisamente um ano e um mês depois, o Rei D. Pedro I concedeu a legitimação ao pequeno Nuno, dispensando com ele em todas as leis em contrário: já podia agir como um fidalgo, receber doações válidas e firmes, aceitar heranças dos pais e dos parentes, assim em testamento como sem ele, como se lidimamente nado fosse.
  • 1360-1373 - Durante treze anos Nuno foi educado na casa do pai, «a grã viço», isto é, segundo as normas da Cavalaria Cristã da Idade Média. Tinha um sabor especial pelas coisas virtuosas e gostava de ler obras sobre a Cavalaria, entre as quais preferia a história de Galaaz, o casto herói da Távola Redonda. Seu pai amava-o ternamente, pois era respeitoso e obediente.
  • 1372-12 a 1373-04 - Guerra contra Castela, cujas tropas invadiram Portugal, avançaram por perto de Santarém, vindo ocupar Lisboa.
  • 1373-02 - Nesse momento, o Rei D. Fernando estava em Santarém; com ele encontravam-se Álvaro Gonçalves Pereira e alguns dos seus filhos, entre estes Nuno, rapaz de seus 13 anos.
    Nuno recebeu aqui a sua primeira missão militar: reconhecer as forças inimigas. A patrulha nada descobriu. Interrogado, porém, Nuno respondeu que os Castelhanos lhe pareciam uma massa sem disciplina, um bom capitão com poucos soldados bem treinados os venceriam facilmente.
    Encantada com a resposta, a Rainha D. Leonor escolheu-o por seu escudeiro e quis, pessoalmente, armá-lo cavaleiro.
  • 1373-1376 - A pedido do pai, D. Fernando acolheu Nuno na Corte, para completar a formação. O tio materno, Martim Gonçalves de Carvalhal instruiu-o no manejo das armas. Durante este estágio dispunha de uma boa casa assim de homens como de bestas e outras coisas, que convinham a seu estado.
  • 1376-05-29 - Nuno recebeu uma carta de doação, pela qual D. Fernando deu-lhe em préstamo a sua terra de Pena, com todos os seus termos, rendas e frutos novos, para toda a sua vida.
    Esta medida, parece, visou a organização do estado de vida, pois neste mesmo ano o pai tratou de casar Nuno, que tinha então dezesseis anos e meio, segundo a sua Crónica. Escolheu-lhe uma noiva, D. Leonor de Alvim, de reconhecida nobreza, donzela embora já viúva, e que possuía muitos bens Entre Douro e Minho.
    Nesta época, Nuno passava algumas semanas em casa do pai e estava longe de pensar num casamento; acalentava antes o ideal de conservar-se virgem como Galaaz. Diante das insistências dos pais, do Rei e dos amigos, conformou-se com o casamento.
  • 1376-08-15 - Acompanhou o pai a Vila Nova da Rainha, onde estava o Rei, e ali celebrou-se o casamento.
  • 1376-08-16 - No dia seguinte, os noivos partiram para Bonjardim da Beira, para uma curta lua de mel.
  • 1376-09 - A seguir fixaram a sua residência na Quinta da Pedraça, em Cabeceiras de Basto.
  • 1376-1381 - Vida familiar de Nun'Álvares Pereira, como de um fidalgo rural. Mantinha uma pequena tropa de 15 escudeiros e uns 20 ou 30 homens de pé. Administrava a sua casa e vivia feliz com a sua esposa. Nasceram-lhe dois filhos, que logo morreram, e uma filha, Beatriz.
  • 1379 - Por este tempo, «a cabo de uns tres anos», diz Fernão Lopes, a contar do casamento de Nuno, faleceu o idoso Prior de Crato, em Amieira. A família toda, 9 filhos e 9 filhas, reuniu-se para as solenes exéquias e acompanhou o corpo a Flor de Rosa, à igreja de Santa Maria, onde foi inumado. Sucedeu-lhe no priorado o filho mais velho, Pedro Álvares.
  • 1381-06 - A renovada aliança com a Inglaterra provocou o rompimento das relações com Castela. Em defesa do território do Alentejo, Pedro Álvares foi nomeado fronteiro-mor em Portalegre.
  • 1381-07 - D. Fernando chamou também Nun'Álvares, para estar com o irmão em Portalegre. Este obedeceu imediatamente e fez-se acompanhar de 25 escudeiros e 30 homens de pé.
    Por ordem do Rei, preparou-se uma expedição contra Badajoz. As tropas concentraram-se em Vila Viçosa e marcharam sobre Elvas, passando por Vila Boim. Descoroçoado, porém, pela notícia de que D. João, Infante de Portugal, vinha com um grande reforço para os Castelhanos, o Conselho dissolveu as tropas, e cada um voltou para a sua própria fronteira em 11 de julho.
  • 1381-07-15 a 08-09 - Quatro dias depois, os Castelhanos chegaram a Elvas e a vila ficou cercada durante vinte e cinco dias.
  • 1381-08 - Nun’Álvares andava muito aborrecido com a atitude passiva da hoste lusitana. Resolveu desafiar o filho do Mestre de Santiago, de Castela, fronteiro de Badajoz. Este aceitou o repto para uma luta de dez contra dez. Nuno recebeu os necessários salvos-condutos e, quando tudo estava preparado para a ida a Badajoz, o irmão Pedro comunicou-lhe a decisão do Rei: proibição absoluta do duelo, e os dois irmãos são chamados à presença de D. Fernando. Em Lisboa, bem recebidos pelo Rei, Nuno tentou convencer a este da utilidade do duelo. Até pediu a intervenção do Conde de Cambridge e do Condestável das tropas inglesas, que aí estavam desde 19 de julho. Tudo em vão: D. Fernando não se deixou influir.
  • 1381-08 - A chegada dos aliados ingleses provocou uma mudança na política religiosa de D. Fernando, que abandonou o Papa cismático. No dia 19 de agosto jurou obediência ao Papa Urbano VI e celebrou os esponsais da sua filha Beatriz com Eduardo, filho do Conde de Cambridge.
  • 1382-03-07 - A frota de Castela surgiu no Tejo para sitiar Lisboa, cuja defesa está em mãos inertes e incompetentes.
  • 1382-04 - Para remediar essa situação, Pedro Álvares é nomeado fronteiro da cidade, para onde são transferidos todos os outros irmãos, e entre eles Nuno. Agora as escaramuças começaram a ficar mais frequentes.
  • 1382-07 - Uma quase custou a vida a Nun'Álvares. Saíra ele por conta própria, pela porta de Sta. Catarina, a fim de castigar os Castelhanos, que regularmente desembarcavam em procura de uvas e outras frutas. Reunira um grupo de 54 e surpreendeu um troço de Castelhanos junto à porta de Alcântara, que logo debandou e se lançou à água. Ao voltar à cidade, pelas alturas de Santos, encontrou um forte contingente de 250 soldados, que descera da frota. Por mais que Nuno fizesse, os seus recusavam a luta e já iam fugindo. Sozinho atacou o grosso da tropa. Partida a sua lança, distribuiu golpes com a espada. Estava cercado e sobre o seu corpo choviam lançadas, pedras e virotões. Varado por uma lança, o cavalo caiu e Nuno, preso na cilha, sempre a se defender com a espada. Parecia o fim, mas neste momento os seus cobraram coragem e um clérigo, Vasques Eanes do Couto, salvou-lhe a vida, cortando a cilha. Dura foi a refrega, até chegar socorro da cidade. Muitos Castelhanos morreram ou ficaram presos. Aos Portugueses, a surtida custou apenas 15 cavalos, posto que houvesse um bom número de feridos.
  • 1382-07-06 a 31 - Desde 6 de julho, D. Fernando estava em Elvas, à espera das tropas castelhanas, que chegaram a Badajoz só no último dia do mês.
    O Rei tinha deixado ordens, que Pedro Álvares continuasse com todos os seus em Lisboa, por causa da frota inimiga no Tejo. Isto desagradou profundamente a Nuno, que desejava estar na batalha, que era iminente. Como não conseguisse licença do irmão, fugiu de Lisboa, de noite, pela porta de São Vicente, com cinco escudeiros.
  • 1382-08 - Ao chegar a Elvas, quando a batalha já estava concertada, apresentou-se imediatamente ao Rei, que o recebeu com grandes louvores.
  • 1382-08-10 - Nuno, porém, não teve sorte, pois pouco depois os Reis fizeram as pazes.
    Terminada, assim, a guerra, Nun'Álvares deve ter voltado para a sua quinta, onde o esperava a esposa com a filha.
  • 1383-04-02 - Escrituras do casamento entre a Infanta D. Beatris e D. João I de Castela, em Salvaterra de Magos.
  • 1383-05-14 - Festejaram-se a bodas em Elvas, para as quais foram convidados todos os fidalgos e grandes do Reino. Os irmãos Nuno e Fernão encontraram os seus lugares já ocupados. Despeitado, Nuno derrubou uma mesa e os dois retiraram-se calmamente. Vingaram-se desta forma das caçoadas de que foram alvo. Impressionado, o Rei de Castela comentou: «homem que tal fez, tem coração para mais».
  • 1383-10-22 - Morte de D. Fernando. Toda a nobreza é convocada para o trintário em Lisboa.
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