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Livro da Vida Perfeita – Deixar-se encher por Deus

« Aquele que se deixa encher por Deus , diz-se, tem suficiente de todas as coisas. » Isto é verdadeiro. E, inversamente, aquele que encontra a sua satisfação em qualquer coisa – nisto ou naquilo – não se pode satisfazer com Deus. Aquele que se satisfaz com Deus não se satisfaz com nada a não ser com aquilo que não é nem isto nem aquilo, e que é Tudo. Porque Deus é Um e deve ser Um, Deus é Tudo e deve ser Tudo. O que não é Um não é Deus. O que é e não é Tudo – e para lá de tudo– não é Deus. Porque Deus é Um e para lá de tudo, Ele é Tudo e para lá de tudo. Aquele que se satisfaz com Deus satisfaz-se com o Um, e unicamente desse Um como sendo o Um. Aquele para quem Tudo não é esse Um e para quem o Um não é esse Tudo, aquele para quem todas as coisas e nada não são uma única e mesma coisa, esse não se pode satisfazer com Deus. Mas aquele para quem é bem assim, esse encontra em Deus o contentamento, e em mais nenhum lugar. Passa-se o mesmo com aquilo que se seg

Livro da Vida Perfeita – O nascimento de Cristo em nós

Quem conhece e compreende a vida de Cristo conhece e compreende também Cristo. Inversamente: quem não conhece a sua vida também não o conhece. Aquele que acredita em Cristo acredita que a sua vida é a mais nobre e a melhor. Se não acredita nisto, é porque não acredita em Cristo. Quanto mais há, no ser humano, da vida de Cristo, mais Cristo está nele. Quanto menos há nele da sua vida, menos Cristo está nele. Onde está a vida de Cristo, lá está Cristo. Onde não está a sua vida, lá também não está Cristo. Onde está a vida de Cristo, pode-se dizer o que disse São Paulo: « Eu vivo mas não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim. » (Ga 2, 20). Esta é a vida mais nobre e a melhor: onde está esta vida, lá vive e reside Deus Ele próprio e todo o bem. Como poderia haver uma vida melhor? Observa-se isto: quando se fala de «obediência», dum «ser humano novo», da «verdadeira luz», do «amor verdadeiro» e da «vida de Cristo», trata-se de uma única e mesma coisa. Onde está um deles,

Livro da Vida Perfeita – Não se procurar a si próprio

Enquanto o ser humano procura o seu próprio bem, enquanto ele procura o Melhor como sendo seu – como sendo para ele e por ele –, ele não o encontra. Enquanto for assim, não é o Melhor que ele procura. Como é que ele o poderia encontrar? Enquanto ele for assim, é ele próprio que ele procura, é ele próprio que ele imagina ser o Melhor. Enquanto ele se procura assim a ele próprio, ele não procura o Melhor – porque ele não é o Melhor. Em contrapartida, o ser humano que procura, que ama e que deseja o Bem enquanto que ele é o Bem, porque ele é o Bem e pelo único amor do Bem – e não como vindo de um eu ou como sendo «eu», «meu», «a mim» ou «para mim», etc. –, esse ser humano encontra-o. Porque ele procura-o justamente. Se ele o procura de outra forma, ele perde-se. Na verdade, é desta maneira que é preciso procurar, desejar e amar o verdadeiro e perfeito Bem. É desta maneira que o encontramos. É uma grande loucura quando um ser humano ou uma criatura imagina saber ou poder qualq

Livro da Vida Perfeita – Nada é contra Deus

« Existe então qualquer coisa que seja contra Deus e contra o Bem verdadeiro? » Não. Igualmente, não há nada que não tenha Deus, exceto o querer diferente da vontade eterna. E querer diferente da vontade eterna, é estar contra ela. A vontade eterna quer que só se ame e só se queira o Bem verdadeiro. Quando se ama outra coisa, está-se contra ela. Neste sentido, é verdade que quem está sem Deus está contra Deus. Na verdade, não existe nada que seja contra Deus ou contra o Bem verdadeiro. É preciso portanto compreender aqui a mesma coisa como se Deus dissesse: «Aquele que quer sem Mim, ou não quer como Eu, ou quer diferente de Mim, isso equivale a contra Mim. Porque tal é a minha vontade que ninguém queira diferente de Mim ou sem Mim. E sem a minha vontade não deve haver nenhuma vontade. Da mesma forma que sem Mim não há nem ser nem vida, nem isto nem aquilo, assim não deve haver nenhuma vontade sem Mim e sem a minha vontade.» Da mesma forma que na verdade todos os seres sã

Livro da Vida Perfeita – Estar de guarda

A falsa luz é o diabo, e o diabo é essa luz. Isto pode ser observado no diabo. Ele acredita ser Deus, ele quer sê-lo e ser tido como tal: em tudo isto ele se engana, e tão profundamente que ele pensa não se enganar. Passa-se o mesmo com a falsa luz, com o seu amor e com a sua vida. O diabo gostaria de enganar todos os seres humanos, puxá-los para ele e para o seu e torná-los semelhantes a ele, e ele dispões para esse efeito de bastantes artifícios e artimanhas. Passa-se o mesmo com a falsa luz. E como ninguém será capaz de mudar o diabo, ninguém será capaz de mudar essa luz. Tudo isto vem do diabo e da natureza acreditarem que eles não podem ser enganados e que eles estão na melhor via. Esse é o mais perverso e o mais prejudicial dos enganos. O diabo e a natureza são portanto um: quem venceu a natureza também venceu o diabo, e quem não venceu a natureza também não venceu o diabo. Quer nos viremos para a vida mundana (a natureza) quer para a vida espiritual (o diabo), ficam

Livro da Vida Perfeita – Vida santa e vida natural

Tudo o que, no ser humano verdadeiramente santificado, pertence ao Amor divino é tão simples, tão justo e tão puro que nunca foi possível defini-lo pela palavra ou pela escrita. Nunca se conheceu nada acerca disso, a não ser que isso existe. Se isso não existisse não se poderia aceder-lhe, e ainda menos conhecê-lo. Inversamente, a vida natural, sendo subtil, ágil e fina, é múltipla e complexa. Ela procura e encontra tantas manhas, falsidades e enganos – tudo isto para seu próprio benefício – que não se pode, aqui também, nada dizer ou nada escrever. Toda a falsidade é enganada, e todo engano se engana primeiro a ele próprio: é também o que acontece a essa falsa luz e a essa vida natural. Porque aquele que engana será enganado, como já explicamos. Nessa vida natural e nessa luz falsa, e no amor delas, encontra-se tudo o que pertence ao diabo e lhe é próprio, tão completamente que não é mais possível distinguí-los. [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início

Livro da Vida Perfeita – O amor da vida nobre

Nessa luz e nesse amor, ama-se todo o bem no Um e enquanto Um; ama-se o Um em tudo e em todos os bens: é por isso que se deve amar aí tudo o que se pode verdadeiramente chamar «bom» como a virtude, a ordem, a sabedoria, a justiça, a verdade, etc. Tudo o que pertence a Deus e ao Bem verdadeiro é aí amado e louvado. Mas tudo o que lhes é contrário e estranho é aí doloroso e penoso, e sentido como sendo pecado – e é, na verdade, pecado. O ser humano que vive na verdadeira luz e no verdadeiro amor vive a vida mais nobre, a melhor e a mais digna que já alguma vez existiu e que alguma vez existirá. Essa vida deve ser amada e louvada mais que qualquer outra vida. Ela estava – e ela está – em Cristo na sua maior perfeição: e sem ela ele não teria sido Cristo. E esse amor, que ama essa vida nobre e todo o bem, faz com que realizemos e suportemos voluntariamente e de bom coração tudo o que temos que suportar, que realizar e tudo o que se deve produzir, por necessidade ou por obrigaç

Livro da Vida Perfeita – Estado do ser humano santificado

Tudo o que se produz num ser humano verdadeiramente santificado – duma maneira ativa ou passiva – se produz nessa luz e nesse amor: neles, por eles e regressando para eles. Lá existe e reside um estado de satisfação e de tranquilidade, livre de todos os desejos de saber e de ter mais ou menos, de viver ou de morrer, de ser ou de não ser, etc.: tudo isso é uma única e mesma coisa, e não nos queixamos de mais nada, senão do pecado. O que é o pecado, já o dissemos antes. É querer outra coisa para além do simples e perfeito Bem, da vontade una e eterna. É querer sem, ou contra, esse Bem e essa única vontade. Tudo o que resulta daí – mentira, engano, injustiça, falsidade, todos os vícios: numa palavra, tudo o que é chamado de pecado –, tudo isso provém de querermos outra coisa para além de Deus e do Bem verdadeiro. Se não houvesse outra vontade para além da única vontade, não haveria pecado. É por isso que se pode dizer que toda a vontade própria é pecado e não é mais nada: é d

Livro da Vida Perfeita – O amor do Um pelo Um

Quando a verdadeira luz e o verdadeiro amor estão num ser humano, o verdadeiro Bem é conhecido e amado por ele próprio. No entanto, ele não se ama aí para si próprio, por si próprio ou como si próprio, mas como o verdadeiro e simples Bem. O Perfeito, sendo ele próprio amor, não pode e não quer amar nada mais que o único, o verdadeiro Bem. Sendo Ele próprio esse Bem, Ele deve amar-se a Ele próprio: no entanto, não por si próprio, para si próprio e como si próprio, mas como o único e verdadeiro Bem ama o único e verdadeiro Bem, e como o único, o verdadeiro e perfeito Bem é amado pelo único, o verdadeiro e perfeito Bem. É nesse sentido que se diz – e é a verdade –: «Deus não se ama enquanto Ele próprio, porque se existisse uma coisa melhor que Deus, seria ela que Ele amaria e não a Ele próprio». Nessa verdadeira luz, nesse verdadeiro amor, não reside nem «eu», nem «meu», «me», nem «tu», «teu», etc. Essa luz conhece e indica um Bem que é todo o bem e para lá de todo o bem: t

Livro da Vida Perfeita – Falso saber e falso amor

Existe também um conhecimento a que se chama «saber» e que no entanto não o é: imagina-se conhecer muitas coisas pelas conversas, as leituras ou pela frequentação assídua das Escrituras. Chama-se a isso «saber» e diz-se: « Eu sei isto », « Eu sei aquilo ». Se perguntamos: « Donde é que tu sabes isso? – Eu li-o nas Escrituras », respondem, ou outras coisas semelhantes. Chama-se a isso «saber», chama-se a isso «conhecer». Mas, na verdade, é «crer». Porque esse saber, esse conhecimento sabem e conhecem muito, mas não amam. Existe também um amor que é falso: ama-se qualquer coisa por uma recompensa. Ama-se a justiça, não por amor à justiça mas para obter por esse meio uma vantagem, etc. Se uma criatura ama uma outra criatura – ou Deus – por um benefício ou por qualquer outra razão, esse amor é falso e pertence apenas à natureza. A natureza como tal não sabe e não é capaz de outro amor para além desse, porque, se virmos bem, a natureza só ama a ela própria. É dessa forma aind

Livro da Vida Perfeita – O verdadeiro amor

Dissemos: «Aquele que conhece Deus e não o ama nunca se torna feliz devido a esse conhecimentos.» O que quer dizer que se poderia conhecer Deus e não o amar... Dissemos algures: «Quando Deus é conhecido, Ele é também amado e aquele que conhece Deus deve também amá-lo.» Como conciliar estas duas afirmações? É preciso fazer aqui uma observação. Falamos de duas luzes: uma que é verdadeira, a outra que é falsa. Igualmente, existem dois tipos de amor: um amor verdadeiro e um outro que é falso. Cada um desses amores deve ser instruído e guiado por uma luz ou um conhecimento. Da verdadeira luz vem o amor verdadeiro, da falsa luz vem o falso amor. Porque aquilo que a luz tem como sendo o melhor, ela o apresenta ao amor como tal e pede-lhe para o amar. E o amor obedece-lhe e segue o seu mandamento. Dissemos precedentemente que a falsa luz era natureza e natural. Tudo o que é próprio e pertence à natureza lhe é igualmente próprio e lhe pertence – quer dizer: «eu», «meu», «me»,

Livro da Vida Perfeita – Primazia do amor

« O que é um ser humano "santificado" ou um ser humano "santo"? », perguntar-se-á. Aquele que está iluminado e aclarado pela luz eterna e divina, aquele que arde com o Amor eterno e divino, esse é um ser humano «santo» ou «santificado». Estivemos a meditar sobre a luz. Mas é preciso saber que a luz ou o conhecimento não é nem vale nada sem o Amor. Podemos observar isso: mesmo se um ser humano conhece muito bem o que é a virtude e o vício, ele não é nem se tornará virtuoso por isso. Bem pelo contrário, se ele não ama a virtude, ele abandonará a virtude para seguir o vício. Mas se ele procura a virtude, ele a seguirá e o seu amor por ela lhe fará detestar o vício. Ele não o cometerá nem o praticará, e ele o odiará em todos os seres humanos. Ele amará de tal forma a virtude que ele nunca negligenciará de a praticar e a exercerá em toda a parte onde ele possa. Não para obter uma recompensa nem por nenhuma outra razão, mas apenas por amor da virtude. A vir

Livro da Vida Perfeita – A semente do Diabo

« É preciso, diz a falsa luz, não ter remorsos. É uma tolice e uma loucura ocupar-se disso. » E ela crê poder prová-lo por Cristo, que não tinha remorsos. O diabo também não tem remorsos, e não é melhor por isso ... Notem primeiro o que é o «remorso». Ele consiste em que o ser humano saiba que ele se afasta, de Deus por sua vontade – ao que se chama e que é o «pecado» –, e que é a culpa do ser humano e não de Deus, porque Deus não é culpado do pecado. Mas quem é inocente do pecado, sem ser Cristo e alguns outros? Vê: aquele que é «sem remorsos», só pode ser Cristo ou o diabo! Brevemente, lá onde está a verdadeira luz, lá está a via reta e verdadeira que é amada e apreciada por Deus. Não é a vida de Cristo na sua perfeição, mas é uma vida formada e orientada segundo ela. Aí ama-se a vida de Cristo, e tudo o que se relaciona às regras, à ordem e a todas as virtudes. Todo amor-próprio, todo «eu», todo «meu», etc. são abandonados e não se procura e não se deseja nada para

Livro da Vida Perfeita – Erros sobre o que é o melhor

É uma coisa excelente que o ser humano queira e possa encontrar o que é o melhor para ele naquilo que é também o melhor para Deus. Isto é bem verdadeiro, mas isto não se produz enquanto o ser humano só procura e só deseja o «seu» melhor. Para encontrar e atingir o Melhor, ele deve primeiro perdê-lo, como foi dito precedentemente. Mas abandonar e deixar o «seu» melhor para encontrar o «seu» melhor, isto é também falso. É por isso que são poucos os que podem seguir esta via... [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Vida Perfeita » As duas luzes » Erros sobre o que é o melhor

Livro da Vida Perfeita – O Anticristo

Ao crer-se Deus e apropriando-se disso, a falsa luz é Lúcifer – o diabo. Ao rejeitar a vida de Cristo e outras coisas que são próprias do verdadeiro Bem e que Cristo viveu e ensinou, a falsa luz é Anticristo. Porque ela ensina contra Cristo e opõe-se a ele. Porque esta luz é enganada pela sua própria habilidade, ela engana igualmente todos aqueles que não são Deus Ele próprio ou que não são santificados – quer dizer todos aqueles que não foram iluminados pela verdadeira luz e pelo seu amor. Porque aqueles que a verdadeira luz iluminou – quaisquer que eles sejam e em qualquer momento que seja –, esses não serão nunca enganados. Mas aquele que não foi, aquele que tem de caminhar ou permanecer com essa falsa luz, esse será enganado. Isto deve-se a que todos os seres humanos nos quais não está a verdadeira luz estão voltados para eles próprios. Eles têm-se a eles próprios, e o que lhes é agradável e cómodo, como sendo o Melhor. Quem lhes propõe isto como sendo verdadeirament

Livro da Vida Perfeita – As ilusões da falsa luz

Sendo natureza, a falsa luz possui também as suas propriedades, a saber: procurar-se a si própria e o seu em todas as coisas, e só desejar o que é mais cómodo, o mais confortável e o mais agradável a si própria e à natureza. Devido a ela estar no erro, ela imagina e afirma que aquilo que lhe é mais divertido, mais agradável e mais cómodo é também o melhor. Ela declara que é o melhor das coisas que cada um procure e faça o que lhe é mais agradável. E ela não quer saber nada de nenhum outro bem para além do seu: que ele é bom para ela, segundo ela imagina. Se lhe falam do verdadeiro e simples Bem – que não é nem isto nem aquilo –, ela não quer saber e faz troça. Isto é evidente: porque a natureza como tal não pode lá chegar e esta luz, sendo apenas natureza, também não pode lá chegar. A falsa luz afirma também que ela está para além dos remorsos e dos escrúpulos, e que tudo aquilo que ela faz é bem feito. Um espírito falsamente livre que estava neste erro ia até ao ponto d

Livro da Vida Perfeita – As manhas da falsa luz

« Donde vem, como é possível, pode-se perguntar, que a falsa luz engane tudo o que possa ser enganado? » Isto deve-se à sua extraordinária habilidade. Ela é tão esperta, tão subtil, tão ágil, ela eleva-se e sobe tão alto que ela imagina estar acima da natureza e que é impossível às outras criaturas ou à natureza chegar até ela. É por isso que ela imagina mesmo ser o próprio Deus, e se apropria de tudo o que é de Deus – e em particular o que é de Deus como Deus e não o que é dele quando Ele é ser humano. Ela imagina e diz então que ela está para lá de todas as ações e de todas as palavras, para lá das regras e das ordens, para lá da vida corporal de Cristo quando ele era homem. Ela não pode ser tocada por nenhuma criatura nem pelas suas ações – boas ou más, contra ou a favor de Deus. Tudo lhe é agora indiferente. Ela mantém-se completamente desprendida de tudo isto tal como se ela fosse Deus na eternidade... De tudo o que pertence a Deus, e não às criaturas, ela se apropri

Livro da Vida Perfeita – Os erros da falsa luz

Vejam como esta falsa luz se engana em primeiro lugar: ela não quer e não escolhe o Bem como Bem e porque ele é o Bem, mas ela quer-se e escolhe-se e o seu como o que é Melhor. Isso é falso e constitui o seu primeiro erro. Igualmente, ela crê ser aquilo que ela não é: ela imagina ser Deus, quando ela é natureza. Imaginando ser Deus, ela apropria-se do que é de Deus: não apenas o que é de Deus quando ele é ser humano ou dentro de um ser humano santificado, mas também o que é de Deus e Lhe pertence enquanto Deus eterno e incriado. Diz-se: « Deus não tem necessidade, Ele não tem necessidade de nada. Ele é livre, ocioso, vazio e para lá de todas as coisas, etc. Ele é imóvel e não se apropria de nada. Ele não tem consciência e tudo aquilo que Ele faz é bem feito. » Tudo isto é inteiramente verdadeiro. Mas a falsa luz diz por sua vez: « Eis como eu quero ser, eu também! Quanto mais se é semelhante a Deus, melhor se é. Eu quero portanto ser semelhante a Deus, eu quero mesmo ser

Livro da Vida Perfeita – O que é a falsa luz

Fez-se menção a uma outra luz. É preciso dizer agora o que ela é e o que lhe pertence. Tudo o que é contra a verdadeira luz pertence à falsa luz. Pertence necessariamente à verdadeira luz o não querer enganar e o não desejar que alguém seja enganado – da mesma forma que ela não pode ser enganada. Inversamente, a falsa luz engana-se e é enganada, da mesma forma que ela engana os outros com ela. Deus não quer enganar ninguém e não pode desejar que alguém seja enganado: passa-se o mesmo com a verdadeira luz. A verdadeira luz é divina: ela é mesmo Deus. A falsa luz é natural: ela é a natureza. Pertence a Deus num ser humano santificado o não querer, o não desejar e o não procurar nem isto nem aquilo, mas apenas o Bem como Bem e apenas porque ele é o Bem. Passa-se o mesmo com a verdadeira luz. Inversamente, pertence à natureza e à criatura o ser qualquer coisa, o procurar e o desejar qualquer coisa – isto ou aquilo –, e não apenas o Bem como Bem e porque ele é Bem, mas co

Leis do ser humano interior e do ser humano exterior

Os mandamentos, as palavras e o ensinamento de Deus, dizem respeito ao ser humano interior e à sua união com Deus. Quando esta união se produz, o ser humano exterior é tão bem guiado e ensinado pelo ser humano interior que ele não tem mais necessidade de nenhum mandamento ou ensinamento exteriores. Inversamente, os mandamentos e as leis dos seres humanos dizem respeito ao ser humano exterior. Eles são necessários quando não se conhece nada de melhor. Sem eles, não se saberia o que se deve fazer ou não fazer, e ser-se-ia como os cães ou como o gado. [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Vida Perfeita » As duas luzes » Leis do ser humano interior e do ser humano exterior

Livro da Vida Perfeita – Quatro tipos de seres humanos

« Deus está para além de toda a regra, de toda a medida e de toda a ordem. » « É Ele que dá a todas as coisas regra, ordem, medida e sabedoria. » Diz-se, e é a verdade. É preciso compreendê-lo assim: Deus quer que tudo isso seja – ordem, medida, etc. –, mas não o pode ter Ele próprio, sem criatura. Porque, em Deus, sem criatura, não há nem ordem nem desordem, nem regra nem desregramento, etc. Deus quer que tudo isso seja para que essas coisas existam e se produzam. Lá onde existem palavras, ações e relações, elas devem necessariamente produzir-se quer na ordem, na regra, na medida e na sabedoria, quer na desordem. Ora a ordem e a sabedoria são melhores e mais nobres que o contrário. Deve-se observar no entanto que os seres humanos que se ocupam da ordem, das leis e das regras são de quatro tipos: – Alguns não o fazem nem por Deus, nem por isto ou por aquilo, mas apenas por constrangimento: eles fazem-no o menos possível, e ainda assim é-lhes penoso e difícil. – Outros

Livro da Vida Perfeita – Não esperar recompensas

« Se o ser humano não consegue obter nada de útil ao seguir a vida de Cristo, o que é que o retêm de a descartar? » Responde-se aqui à questão que foi colocada mais acima (ver A natureza e a graça ). Não se segue a vida de Cristo para atingir um fim, nem para obter qualquer coisa de útil, mas por amor à nobreza, e porque ela é amada e apreciada por Deus. Aquele que diz ou pensa que não precisa mais dela ou que pode abandoná-la, nunca a saboreou nem a conheceu. Porque, quando ela foi verdadeiramente encontrada e saboreada, não se pode mais abandoná-la. Aquele que segue a vida de Cristo para atingir ou merecer uma recompensa, age como um mercenário e não por amor. Ele não a seguiu mesmo de todo: porque aquele que não a segue por amor, não a pode seguir. Ele pode imaginar que a segue, mas ele engana-se. Cristo viveu a sua vida por amor, e não para uma recompensa. O amor torna a vida leve e sem preocupações. Ele faz amá-la e suportá-la voluntariamente. Mas aquele que não a

Livro da Vida Perfeita – A vida nobre e verdadeira

Lá onde estaria – lá onde está – um ser humano assim «santificado», lá está a vida melhor, a mais nobre e a mais digna de Deus que alguma vez existiu e que alguma vez existirá. O Amor eterno aí ama Deus como o Bem, e porque Ele é o Bem. Ele ama o melhor e o mais nobre em todas as coisas, porque ele é o Bem. E ele ama de tal forma a vida nobre e verdadeira que ele não a abandona e não a rejeita nunca mais. Quando esta vida está num ser humano, ele não pode mais abandoná-la, mesmo que ele tivesse de viver até ao Último Dia. Igualmente se ele tivesse que morrer de mil mortes e sofrer todo o sofrimento que se pode abater sobre as criaturas, ele preferiria sofrer tudo isso em vez de abandonar essa nobre vida. Ele não a abandonaria sequer mesmo pela vida dum anjo... [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Espiritualidade » Vida Perfeita » Os três caminhos » A vida nobre e verdadeira

Livro da Vida Perfeita – O sofrimento do pecado

Deus, enquanto que Ele é Deus, não conhece nem sofrimento, nem aflição, nem infelicidade. No entanto Ele é afligido pelo pecado do ser humano. Isto não se pode produzir em Deus sem a criatura, e tem que portanto se produzir quando Deus é humano ou num ser humano santificado. Deus está então tão desgostoso e abatido pelo pecado que Ele aceitaria voluntariamente o ser atormentado ou o sofrer a morte corporal se Ele pudesse apagar com isso o pecado de um único ser humano. Se alguém lhe perguntasse se Ele preferia viver e que o pecado permanecesse, ou morrer e pela sua morte apagar o pecado, Ele escolheria a morte. Porque o pecado de um único ser humano é-lhe mais doloroso e cruel que os seus próprios tormentos e a sua própria morte. Se o pecado de um único ser humano lhe causa tanto mal, o que será do pecado de todos os seres humanos? Vê-se por isso quanto o ser humano aflige Deus com os seus pecados. Lá onde Deus é ser humano – ou num ser humano santificado -, não se deplo

Livro da Vida Perfeita – Todas as coisas têm o seu ser em Deus

Quando se diz que «qualquer coisa é ou faz contra Deus», que «ela O aflige ou O ofende», é preciso saber que nenhuma criatura é «contra Deus». Nenhuma criatura O aflige ou O ofende porque ela é ou vive, porque ela sabe ou pode. Nada de tudo isso é contra Deus. Que o ser humano viva ou que o diabo exista, isso é muito bom e vem de Deus – porque Deus é a essência e a origem de tudo isso. Deus é o ser de todos os existentes, a vida de todos os viventes, a sabedoria de todos sábios. Todas as coisas têm o seu ser em Deus mais verdadeiramente que nelas próprias, e igualmente das faculdades delas, da vida delas, etc. Porque de outra forma Deus não seria todo o bem. E é por isso que tudo o que existe, é bom. O que é bom é amado por Deus e Ele o deseja. É por isso que não é contra Deus. « O que é que então é contra Deus e O aflige? » O pecado, e ele apenas ! « Mas o que é o pecado? » A criatura quer diferente de Deus. Ela quer contra Deus e contra a vontade de Deus. O pec

Livro da Vida Perfeita – Nada das criaturas

É próprio de Deus, num ser humano santificado, o estar numa humildade profunda, verdadeira e essencial. Não há ser humano santificado sem uma tal humildade. Cristo ensinou isso com as suas palavras, com os seus atos e com a sua vida. E isso aparece quando se reconhece na verdadeira luz – como é na verdade – que a essência, a vida, o conhecimento, o saber e o poder, etc. pertencem ao verdadeiro Bem e não às criaturas. A criatura como tal não é nada, e não tem nada por ela própria. Quando ela se afasta do verdadeiro Bem por sua vontade, os seus atos e aquilo que se relaciona com eles, não se encontra aí nada mais que pura malignidade. Também é bem verdade que a criatura como tal não é por ela própria digna de nada: ela não tem direito a nada, ninguém lhe deve nada, nem Deus nem nenhuma criatura. É ela que deve com toda a justiça se abandonar e se submeter a Deus. Este ponto é o mais importante e o mais notável. Aquele que quer e deve se abandonar e se submeter a Deus deve,

Livro da Vida Perfeita – Contra a vontade própria

« Se é verdadeiro, poder-se-ia dizer, que Deus quer, deseja e faz a cada um aquilo que é o melhor, Deus deveria vir em ajuda de cada um e fazer por forma que todas as suas vontades se realizassem: para um tornar-se papa, para outro bispo, etc. » Aquele que ajuda o ser humano a realizar a sua vontade própria ajuda-o para o pior. Porque quanto mais o ser humano segue a sua vontade própria, mais ela cresce nele, e mais o ser humano se afasta de Deus e do Bem verdadeiro. Deus ajuda voluntariamente o ser humano, entre todas as coisas, a atingir aquilo que é o Melhor – o melhor em si ou o melhor para o ser humano. Mas, para que isso aconteça, é preciso, já se disse mais acima, que toda a vontade própria desapareça. E para isso também Deus ajuda o ser humano voluntariamente. Enquanto o ser humano procura aquilo que é o «seu» melhor, ele não procura o Melhor e não o encontrará. Porque o melhor para o ser humano seria – e é – o não procurar e o não considerar nem a si próprio nem o se

Livro da Vida Perfeita – O ser humano santificado

Num ser humano santificado, o amor é portanto puro, sem mistura e benevolente para com todos e todas as coisas. Nele ama-se todas as pessoas e todas as coisas. Deseja-se-lhes, quer-se-lhes, faz-se-lhes um bem sem mistura. Sim, que se faça a um ser humano santificado tudo aquilo que se quiser – bem ou mal, alegria ou pena, isto ou aquilo – sim, que cem vezes o matem e que ele regresse à vida: ele precisaria necessariamente de amar aquele que o matou, aquele que lhe fez tanto dano, mal e sofrimento. Ele quererá necessariamente desejar-lhe e querer-lhe o bem. Ele quererá necessariamente fazer-lhe todo o bem possível na condição apenas de que aquele queira bem aceitá-lo e recebê-lo dele. Pode-se confirmá-lo, prová-lo e demonstrá-lo por Cristo. A Judas, que o traiu, ele diz: « Meu amigo, porque vieste? » (Mt 26, 50), como se ele dissesse: «Tu odeias-me, tu és meu inimigo: mas eu, eu amo-te e tu és meu amigo. Tu desejas-me, queres-me e fazes-me o maior mal possível: mas eu, eu

Livro da Vida Perfeita – O Bem único

Deus é luz e conhecimento. Ora pertence à luz e ao conhecimento o aclarar e o iluminar, o brilhar e o fazer-se conhecer. Porque Ele é luz e conhecimento, Deus deve aclarar, iluminar e fazer-se conhecer. Em Deus toda essa claridade e conhecimento é sem criatura: ela não existe como «ação», mas como essência e como origem. É só nas criaturas que ela se pode produzir como ação e duma maneira ativa. Quando essa luz e conhecimento está ativa numa criatura, ela faz conhecer e ensina o que ela é: o Bem. Não sendo nem este bem aqui nem aquele bem acolá, ela não dá a conhecer, não ensina «isto» ou «aquilo». Ela ensina a conhecer o Bem único: o perfeito, verdadeiro e simples Bem. Aquele que não é nem isto nem aquilo, mas que é todo o bem e para além de todo o bem. « Ela ensina o Bem único , dizemos nós: então o que é que ela ensina? » Estejamos aqui bem atentos. Da mesma forma que Deus é bem, conhecimento e luz, Ele é também vontade e amor, justiça e verdade assim como todas

Livro da Vida Perfeita - Nem isto nem aquilo

Deus, enquanto que Ele é bom, é bom em si. Ele não é nem este bem aqui nem aquele bem acolá. Façamos aqui uma observação. Aquilo que está em «qualquer lugar», aqui ou acolá, não está em todo o lugar e para além de todo o lugar e sítio. Aquilo que está em «qualquer tempo», hoje ou amanhã, não está em todo o instante, em todo o tempo e para lá de todo o tempo. Aquilo que é «qualquer coisa», isto ou aquilo, não é todas as coisas e para lá de todas as coisas. Se Deus fosse «qualquer coisa» - isto ou aquilo -, Ele não seria, como Ele é, Tudo e para além de tudo. Ele não seria a verdadeira perfeição. É por isso que Deus «é», e no entanto nem isto nem aquilo que as criaturas, enquanto que tais, possam conhecer ou nomear, pensar ou dizer. Se Deus, enquanto que Ele é bom, fosse este bem aqui ou aquele bem acolá, Ele não seria todo o Bem e para lá de todo o bem. Ele não seria este perfeito e simples Bem que Ele é. [ Anterior ] [ Índice ] [ Seguinte ] Início » Esp

Mestre Eckhart – Daniel o profeta diz: nós te seguimos

O ser humano tem o espírito de sabedoria quando ele considera todas as coisas como um puro nada É verdadeiramente uma loucura o pedir a Deus qualquer outra coisa que não seja Ele O dom de sabedoria é o mais nobre dos sete dons do Espírito Santo São Paulo desejava estar separado de Deus, por Deus, e pelos seus irmãos A verdadeira cruz consiste em se renunciar para obedecer à vontade divina Não se pode conceber Deus sem a alma, nem a alma sem Deus, de tal forma eles são um A alma não tem diferença com Nosso Senhor Jesus Cristo, senão o de ter um ser mais grosseiro Aquele que viu Deus e o provou, não o abandona e continua a correr atrás dele O conhecimento procura Deus e apreende-o na sua raiz, mas a vontade fica no exterior e liga-se à bondade Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Daniel o profeta diz: nós te seguimos

Mestre Eckhart – Daniel o profeta diz: nós te seguimos 1

Sermão 59 - Daniel o profeta diz: nós te seguimos O profeta Daniel diz: «Nós te seguimos com todo o coração, e nós te tememos, e nós procuramos o teu rosto.» (Dn 3, 41) 1 Estas palavras adaptam-se bem àquelas que eu disse ontem: «Eu chamei-o, eu convidei-o, eu atraí-o, e o espírito de sabedoria veio a mim, e eu estimei-o mais do que todos os reinos, e o poder, e o domínio, e o ouro, e a prata, e as pedras preciosas, e comparadas ao espírito de sabedoria, eu considerei todas as coisas como um grão de areia, como lama, e como um nada.» É um sinal manifesto que o ser humano tem o «espírito de sabedoria» quando ele considera todas as coisas como um puro nada. Naquele que pode considerar o que quer que seja como qualquer coisa, o «espírito de sabedoria» não existe. Que ele tenha dito «como um grão de areia», era muito pouco; que ele tenha dito «como lama», era ainda muito pouco; que ele tenha dito «como um nada», estava bem dito, porque todas as coisas são um puro nada comparada

Mestre Eckhart – Daniel o profeta diz: nós te seguimos 3

Ora ele (o sábio) diz: «Com o espírito de sabedoria, todo o bem me veio ao mesmo tempo.» O dom de sabedoria é o dom mais nobre entre os sete dons. Deus não faz nenhum destes dons sem se dar Ele próprio primeiro, da mesma maneira, e na geração. Tudo aquilo que é bom e que pode trazer alegria e consolação, eu tenho tudo no «espírito de sabedoria», e toda a doçura, por forma que ele não é omisso nem mesmo em algo tão pequeno quanto a ponta de uma agulha, e no entanto seria pouca coisa se não o tivesse em plenitude e igualdade, absolutamente como Deus desfruta dele; eu desfruto dele portanto da mesma maneira, da mesma coisa na sua natureza. Porque no «espírito de sabedoria», ele age em plena igualdade, tão bem que a mais pequena coisa se torna como a maior, mas não a maior como a mais pequena, da mesma forma que se enxerta um ramo nobre num sujeito grosseiro, todo o fruto fica conforme à nobreza do ramo, não conforme à grosseria do sujeito. Passa-se o mesmo neste espírito, entã

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Existe na alma uma potência mais vasta que todo o mundo. É preciso que ela seja muito vasta visto que Deus reside nela. Certas gentes não convidam o «espírito de sabedoria», elas convidam a saúde, e a riqueza, e o prazer, mas o «espírito de sabedoria» não vem a elas. Aquilo que elas pedem é-lhes mais caro que Deus – como aquele que dá um pfennig por um pão, prefere o pão ao pfennig -, elas fazem de Deus seu criado. «Faz-me isto e cura-me», diria uma pessoa rica, «pede-me o que tu queres e eu te darei», se ele pedisse então um heller , seria uma aberração, e se ele lhe pedisse cem marcos, ele (o rico) dar-lhos-ia. É por isso que é verdadeiramente uma loucura o pedir a Deus qualquer outra coisa que não seja Ele; é indigno d'Ele porque Ele não dá nada mais voluntariamente que a Ele próprio. Um mestre diz: todas as coisas têm um porquê, mas Deus não tem porquê, e o ser humano que pede a Deus qualquer coisa mais que Ele próprio, faz de Deus um «porquê». 1 Notas P

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São Paulo desejava estar separado de Deus, por Deus, e pelos seus irmãos. Sobre este assunto, os mestres têm grandes dificuldades e muitas hesitações. Certos dizem: ele pensava: «um momento». Não é absolutamente nada verdadeiro: de tão mau grado um instante quanto eternamente, e de tão bom grado eternamente quanto um instante. Quando o ser humano considera a vontade de Deus, quanto mais tempo isso fosse, mais ele ficaria satisfeito, e mais o tormento seria grande, mais ele ficaria satisfeito. Tal como um comerciante que, se ele soubesse de forma certa que aquilo que ele comprou por um marco lhe rendesse dez, empregaria tantos marcos quantos possuísse e qualquer que fosse a dificuldade que ele tivesse, se ele estivesse certo de regressar a casa são e salvo e de ganhar com isso tanto mais, tudo isso lhe seria agradável. Era assim para São Paulo: aquilo que ele sabia ser a vontade de Deus, quanto mais longo fosse, mais ele estava satisfeito, e mais o tormento durava, maior e

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«Renuncia-te a ti próprio e pega na tua cruz.» Os mestres dizem que as penas são o jejum e outras penitências. Mas eu digo que isso é suprimir a pena porque apenas a alegria é a consequência desse comportamento. Em seguida ele (Cristo) diz: «Eu dou-lhes a vida.» Muitas outras coisas que possuem as criaturas dotadas de intelecto são «acidente», mas a vida é própria a cada criatura dotada de intelecto como sendo o seu ser. É por isso que ele diz: «Eu dou-lhes a vida», porque o seu ser é a sua vida, e Deus dá-se absolutamente quando Ele diz: «eu dou». Nenhuma criatura seria capaz de a dar (a vida) mas se fosse possível que uma criatura a pudesse dar, Deus ama tanto a alma que Ele não poderia tolerar isso: Ele quer ser Ele próprio a dá-la. Se uma criatura a desse, a alma a consideraria sem valor, ela não faria caso dela mais do que de um mosquito. Tal como se um imperador desse uma maçã a qualquer um, este atribuir-lhe-ia mais valor do que se uma outra pessoa lhe desse um