Livro da Vida Perfeita – O sofrimento do pecado
- Deus, enquanto que Ele é Deus, não conhece nem sofrimento, nem aflição, nem infelicidade. No entanto Ele é afligido pelo pecado do ser humano.
- Isto não se pode produzir em Deus sem a criatura, e tem que portanto se produzir quando Deus é humano ou num ser humano santificado.
- Deus está então tão desgostoso e abatido pelo pecado que Ele aceitaria voluntariamente o ser atormentado ou o sofrer a morte corporal se Ele pudesse apagar com isso o pecado de um único ser humano.
- Se alguém lhe perguntasse se Ele preferia viver e que o pecado permanecesse, ou morrer e pela sua morte apagar o pecado, Ele escolheria a morte. Porque o pecado de um único ser humano é-lhe mais doloroso e cruel que os seus próprios tormentos e a sua própria morte.
- Se o pecado de um único ser humano lhe causa tanto mal, o que será do pecado de todos os seres humanos?
- Vê-se por isso quanto o ser humano aflige Deus com os seus pecados.
- Lá onde Deus é ser humano – ou num ser humano santificado -, não se deplora nada a não ser o pecado: não há outro sofrimento. Porque tudo o que é ou se produz sem pecado, Deus quer tê-lo e sê-lo.
- Mas as queixas e as lamentações por causa do pecado devem, por necessidade e por obrigação, permanecer num ser humano santificado até à sua morte corporal – mesmo que ele tivesse que viver eternamente ou até ao Último Dia.
- Daí vinham – e vêem – os sofrimentos secretos de Cristo de que ninguém fala e não sabe nada a não ser Cristo ele próprio. É por isso que eles são – e se lhes chama - «secretos».
- É ainda uma propriedade que Deus aprecia e que lhe agrada bastante no ser humano. Propriedade de Deus e não do ser humano, o qual não é capaz...
- Mas quando Deus consegue obtê-la no ser humano, ela é a mais amada e a mais digna d'Ele, porque também a mais amarga e a mais penosa para o ser humano.
- Tudo aquilo que se escreveu aqui desta propriedade de Deus – que Ele quer no entanto ver praticada e realizada no ser humano -, nos é ensinado pela luz verdadeira.
- Ela ensina também que o ser humano, no qual ela é praticada e realizada, lhe atribui tão pouco valor como se ela não existisse de todo. Fica-se a saber assim que o ser humano não é capaz dela e que ela não lhe pertence.
[ Anterior ] | [ Índice ] | [ Seguinte ] |
Início » Espiritualidade » Vida Perfeita » Os três caminhos » O sofrimento do pecado