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A mostrar mensagens de dezembro, 2011

Mestre Eckhart – Esta é a vida eterna

A vida eterna, é que eles te conheçam, único verdadeiro Deus Quando nós queremos rezar, que antes nós nos abaixemos Deus opera mais num coração humilde porque lá Ele tem mais possibilidades de operar Na medida em que a alma avança, ela penetra mais na luz Tudo o que se pode acrescentar a Deus encerra Deus Aquele que conhece alguma coisa mais de Deus, não conhece Deus só Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Esta é a vida eterna

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Sermão 54b - Esta é a vida eterna Nosso Senhor diz: «A vida eterna, é que eles te conheçam, único verdadeiro Deus, e aquele que tu enviaste, Jesus Cristo.» «Nosso Senhor levantou os olhos para o céu e disse: "Pai, a hora chegou, glorifica o teu Filho para que o teu Filho te glorifique", e ele rezou por aqueles que lhe tinham sido dados e disse: "Dá-lhes a vida eterna; faz com que eles sejam um contigo como eu e tu nós somos um".» (Jo 17, 1-3) 1 Notas Este sermão está em relação estreita com o precedente. Josef Quint estabeleceu o texto do sermão 54b baseando-se nos dois originais que o contêm, bastante próximos um do outro. Quando eles divergem ele escolheu, por intermédio de critérios internos, aquele que lhe pareceu o melhor. Para além disso ele apresentou as variantes mais importantes, mais ou menos paralelamente. Apesar de nós já termos lido antes desenvolvimentos análogos - também subtis e difíceis -, consideramos que seria bom seguirmos aqui o ed

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«Ele levou os olhos para o alto.» Com isto ele ensina-nos: quando nós queremos rezar, que antes nós nos abaixemos, numa humildade verdadeira e submetida, abaixo de todas as criaturas. Apenas depois nós devemos subir diante do trono da Sabedoria, e tanto quanto nós nos abaixamos, tanto será atendida a oração que nós realizamos. Ora um texto diz que cada vez que Nosso Senhor levantava os olhos, ele queria realizar uma grande obra. Era com efeito uma grande obra, aquilo que ele diz aqui: «que eles sejam um contigo como eu e tu nós somos um». Está dito no Livro da Sabedoria «que Deus só ama aquele que habita na Sabedoria»; ora o Filho é a Sabedoria. Como na pureza na qual Deus criou a alma, nós tornamo-nos tão puros na Sabedoria que é o Filho. Porque, assim como eu disse frequentemente, ele é uma porta pela qual a alma regressa ao Pai, tudo o que Deus alguma vez operou não era nada mais que uma imagem e um sinal da vida eterna. 1 Notas «Ele levantou os seus olhos par

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«Ele levou os seus olhos ao alto», do verdadeiro fundo da mais extrema humildade. Da mesma forma que o poder do céu não opera tanto como no fundo da terra (apesar de ser o elemento mais baixo), porque é lá que ele tem mais possibilidades de operar, da mesma forma Deus opera mais num coração humilde porque lá Ele tem mais possibilidades de operar, encontrando lá a maior similitude com Ele próprio. Com isto, ele ensina como nós devemos penetrar no nosso fundo da verdadeira humildade e do verdadeiro denodo, afim de que nós nos desapossemos de tudo o que não é nosso por natureza, quer dizer os nossos pecados e as nossas faltas, e também daquilo que é nosso por natureza, quer dizer tudo o que faz parte do eu próprio. Porque aquele que quer penetrar no fundo de Deus, naquilo que Ele tem de mais interior, deve primeiro penetrar no seu próprio fundo, naquilo que ele tem de mais interior. Com efeito, ninguém pode conhecer Deus se ele não se conhece primeiro a si próprio. 1 Ele deve

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Uma outra interpretação: «ele levantou os olhos». Com isto ele ensina-nos: da mesma forma que o elemento mais elevado não pode operar em nenhuma parte tão bem como no fundo da terra - ele produz aí o ouro, a prata e as pedras preciosas - e naquilo que está lá misturado à terra como a folhagem, a erva e as árvores -, isso tem em si uma semelhança com o céu e com o anjo que move o céu: isso estende-se e amplifica-se e forma um habitáculo, afim de que o sol e o poder das estrelas sejam capazes de operar muito nelas e isto inclui em si a natureza do anjo e opera como o anjo, apesar de ser de muito longe; 1 igualmente nós devemos formar um habitáculo, nos estendermos e nos amplificarmos, afim de que Deus possa operar muito em nós, nós devemos ser semelhantes a Ele e operar como Ele. O animal conhece «aqui» e «agora», mas o anjo não conhece nem «aqui» nem «agora», e o ser humano, está acima das outras criaturas, conhece numa luz verdadeira onde não existe nem o tempo nem o espaço, sem «

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«Ele levantou os olhos para o céu.» « Celum » significa um habitáculo do sol. Tudo o que se pode acrescentar a Deus encerra Deus, tudo o que se pode acrescentar a Ele, senão «ser puro», encerra Deus. Ora ele diz: «Pai, a hora chegou; glorifica o teu Filho afim de que o teu Filho te glorifique, e eu peço-te para além disso que dês uma vida eterna a todos aqueles que tu me deste.» Ora interroguem quem vocês quiserem, todos responderão que o seu pensamento era: «Pai, dá a vida eterna a todos aqueles que tu me deste.» Mas verdadeiramente esta frase significa: «Pai, tudo aquilo que tu me deste - o ser o Filho saído de ti, o Pai - eu te peço que lhes dês e que eles desfrutem disso; dessa vida eterna, é a recompensa eterna deles.» Vejam, isto quer dizer: tudo o que o Pai deu ao seu Filho, tudo aquilo que Ele é, que Ele lhes dê a eles. 1 Notas Tudo aquilo que se pode dizer de Deus, ou acrescentar a Deus, encobre o ser puro de Deus. Ora Cristo pede ao Pai que dê uma vida ete

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Uma «vida eterna», o que é, notem-no vocês próprios: «a vida eterna, é que eles te conheçam, a ti único verdadeiro Deus». O que entende ele dizendo: «Só a ti»? É que a alma não tenha gosto, a não ser por Deus só. É um outro significado quando ele diz: «te conhecer a ti só, é a vida eterna». Ele quer dizer que Deus é, e que nada é ao pé d'Ele. Aquele que conhece alguma coisa mais de Deus, não conhece Deus só. Mas aquele que conhece Deus só, conhece mais Deus. Os nossos mestres dizem: um tal conhece um em Deus, e um outro tal conhece mil em Deus. Aqueles que conhecem um, conhecem mais que aqueles que conhecem mil, porque é antes "em" Deus que eles conhecem, enquanto que aqueles que conhecem mil conhecem antes "ao pé" de Deus. Mais felizes são aqueles que conhecem mil, que aqueles que conhecem um, porque lá eles conhecem de Deus mais que em um. Mais felizes ainda são aqueles que conhecem um, que aqueles que conhecem mil, sempre mais um e não

Mestre Eckhart – Nosso Senhor levantou os olhos

A alma é levada até Deus pela Sabedoria divina É preciso que nós cheguemos ao nosso próprio fundo e àquilo que nós temos de mais interior, em pura humildade A alma bem ordenada no fundo da humildade, sobe e é atraída para o alto na potência divina A alma eleva-se acima do tempo e do espaço em igualdade com a luz do anjo e opera com ele espiritualmente no céu A todos aqueles que Tu me deste, Eu dou-lhes a vida eterna, e a nenhuns outros Quanto mais se conhece Deus como Um, mais se conhece a raiz de onde saíram todas as coisas Início » Espiritualidade » Mestre Eckhart » Nosso Senhor levantou os olhos

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Sermão 54a - Nosso Senhor levantou os olhos Nosso Senhor levantou os olhos e dirigindo o seu olhar para cima em direção ao céu, disse: «Pai, o tempo chegou, glorifica o teu Filho para que o teu Filho te glorifique. A todos aqueles que tu me deste, dá a vida eterna. A vida eterna, é que eles te conheçam como único verdadeiro Deus.» (Jo 17, 1) 1 Eis o texto de um papa: quando Nosso Senhor levantava os olhos, Ele tinha um grande pensamento. O sábio diz no Livro da Sabedoria que a alma é levada até Deus pela Sabedoria divina. Santo Agostinho diz também que todas as obras e o ensinamento da humanidade de Deus são uma imagem e uma figura da nossa vida santa e da nossa grande dignidade diante de Deus. A alma deve ser purificada e tornada subtil na luz e na graça, totalmente desprendida e despojada daquilo que é estrangeiro à alma e também de uma parte daquilo que ela é ela própria. Eu já o disse frequentemente: a alma deve ser totalmente desnudada de tudo o que é «acidente», le

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Ora ele diz: «Ele levantou os olhos e dirigiu o seu olhar para cima». Esta frase inclui dois sentidos. Um, é um testemunho de pura humildade. Se nós devemos alguma vez chegar ao fundo de Deus e àquilo que Ele tem de mais interior, é preciso primeiro que nós cheguemos ao nosso próprio fundo e àquilo que nós temos de mais interior, em pura humildade. Os mestres dizem que as estrelas vertem toda a sua potência no fundo da terra, na natureza, e no elemento da terra, e produzem lá o ouro mais puro. Na medida em que a alma chega ao fundo e ao mais interior do seu ser, nessa mesma medida a potência divina derrama-se absolutamente nela, ela aí opera muito secretamente e manifesta muito grandes obras, a alma torna-se assim muito grande, elevada no amor de Deus que é semelhante ao ouro puro. Tal é o primeiro sentido de «Ele levantou os olhos». 1 Notas «Cristo levantou os olhos e dirigiu o seu olhar para cima.» Na interpretação de Eckhart, este texto tem dois significados. E

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O segundo, é que a alma se deve dirigir para o alto na humildade, com todos os seus defeitos e os seus pecados, ela deve-se colocar e se inclinar sob a porta da misericórdia de Deus, onde Deus se resolve em misericórdia, e ela deve também levar ao alto a sua virtude e as suas obras boas, ela deve colocar-se com elas sob a porta onde Deus se resolve em bondade. Assim a alma deve seguir e ordenar-se segundo o exemplo: «Ele levantou os olhos». Em seguida ele diz: «Ele dirigiu o seu olhar para cima». Um mestre diz: aquele que fosse astucioso, e conhecesse isto, colocaria água por cima do vinho, por forma a que a potência do vinho pudesse agir nela: a potência do vinho transformaria a água em vinho e se ela estivesse bem colocada por cima do vinho, ela seria melhor do que o vinho, pelo menos ela tornar-se ia tão boa quanto o vinho. O mesmo se passa na alma que está bem ordenada no fundo da humildade, ela sobe assim e é atraída para o alto na potência divina; ela nunca repousa ante

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É por isso que ele diz: «Ele dirigiu o seu olhar para cima, em direção ao céu». Um mestre grego diz que «céu» significa «habitáculo do sol». O céu derrama a sua potência no sol e nas estrelas, e as estrelas derramam a sua potência no seio da terra e produzem o ouro e as pedras preciosas, de tal forma que as pedras preciosas têm o poder de realizar obras maravilhosas. Umas têm o poder de atrair os ossos e a carne. Se uma pessoa se aproximasse delas, seria travada e não se poderia libertar a menos que dispusesse dos artifícios necessário para lhes escapar. Outras pedras preciosas atraem os ossos e o ferro. Cada pedra preciosa é um habitáculo das estrelas que recepta em si uma potência celeste. Assim, da mesma forma que o céu derrama a sua potência nas estrelas, da mesma forma as estrelas a derramam por sua vez nas pedras preciosas, nas plantas e nos animais. A planta é mais nobre do que a pedra preciosa porque ela tem uma vida que se desenvolve. Ela desdenharia cresce

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Mas eu falarei um pouco da sua frase quando ele diz: «todos aqueles que tu me deste». Para aquele que sabe o verdadeiro sentido, «tudo o que tu me deste» significa: eu dou-lhes «a vida eterna», a mesma que tem o Filho na primeira emanação, e no mesmo fundo, e na mesma pureza, e na mesma fruição, onde Ele tem a sua própria beatitude, e onde Ele possui o seu próprio ser: «esta vida eterna, eu dou-lhes a eles» e a nenhum outro. Eu algumas vezes apresentei este significado comum, mas esta noite eu expando-o, apesar de ele se encontrar verdadeiramente na frase latina que eu frequentemente pronunciei. Tu próprio, pede-a e pronuncia-a ousadamente, pela minha vida! 1 Notas O pregador abandona agora a imagem do mundo que ele nos apresentou, para regressar às palavras do Evangelho. Ele joga, se podemos dizer, com os dois textos de São João: «tudo o que tu lhe deste (ao Filho)» (17, 2) e «todos aqueles que tu me deste» (17, 11). A proximidade gramatical é a mesma o que cria uma

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Ele diz em seguida: «A vida eterna, é que eles te conheçam como o único verdadeiro Deus.» Se duas pessoas reconhecem Deus como Um, se uma (lhe desse o valor de mil) e se a outra reconhecesse Deus como «mais de um», mas tão pouco que seja menos (de mil), esta reconheceria mais Deus como Um do que aquela que o reconhecesse como mil. Quanto mais Deus é reconhecido como Um, mais Ele é reconhecido como Tudo. Se a minha alma fosse perspicaz, se ela fosse nobre e pura, tudo aquilo que ela conhecesse seria um. Se um anjo conhecesse uma coisa que para ele tem o valor de dez, e se um outro anjo mais nobre conhecesse a mesma coisa, não seria para ele mais do que «um». É por isso que Santo Agostinho diz: se eu conhecesse todas as coisas e não Deus, eu não teria conhecido nada. Mas se eu conhecesse Deus e não conhecesse mais nenhuma coisa, eu teria conhecido todas as coisas. Quanto mais se conhece Deus lucidamente e profundamente como Um, mais se conhece a raiz de onde saíram todas a