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A mostrar mensagens de maio, 2010

Livro da Vida Perfeita - Necessidade das regras e instruções

Nesta pobreza e nesta humildade espirituais, apercebemo-nos de que todos os seres humanos estão fechados neles próprios. Compreendemos que eles estão voltados para o vício e a maldade. É por isso que é necessário e útil que existam regras, instruções, leis e mandamentos, afim de instruir aqueles que são cegos, e de constranger à obediência aqueles que são maus. Sem essas instruções e regras, os seres humanos seriam muito mais maus e mais desobedientes que os cães e os outros animais. Graças a elas, em contrapartida, mais do que um já foi atraído e conduzido para a Verdade, que não teria chegado lá se elas não existissem. E são pouco numerosos, aqueles que atingiram a Verdade sem terem começado por essas práticas, quando eles não conheciam nada mais ou nada melhor. É por isso que o ser humano que vive na pobreza e na humildade espirituais não despreza nem escarnece das leis, dos mandamentos, das regras, das instruções, assim como daqueles que as respeitam e se ocupam delas

Imitação de Cristo - 3.1. Das conversações interiores de Jesus Cristo com a alma fiel

Alma: « Eu ouvirei o que o Senhor Deus me disser » ( Salmos 85(84), 8). Feliz a alma que ouve o Senhor falar-lhe interiormente, e que recebe da sua boca a palavra de consolação! Felizes os ouvidos sempre atentos a recolher o sopro divino, e surdos ao ruído do mundo! Felizes, mais uma vez, os ouvidos que escutam não a voz que soa no exterior, mas a verdade que ensina no interior! Felizes os olhos que, fechados às coisas exteriores, só contemplam as interiores! Felizes aqueles que penetram os mistérios que o coração esconde, e que, pelos exercícios de cada dia, procuram preparar-se cada vez mais para compreender os segredos do Céu! Felizes aqueles cuja alegria é a de se ocuparem de Deus, e que se desembaraçam de todos os embaraços do mundo! Considera estas coisas, ó minha alma, e fecha a porta dos teus sentidos, afim de que tu possas ouvir o que o Senhor teu Deus diz em ti. Cristo: Eis o que te diz o teu amigo: « Eu sou a tua salvação » ( Salmos 35(34), 3), a tua paz

Imitação de Cristo - 3. Da vida interior

LIVRO TRÊS DA VIDA INTERIOR Das conversações interiores de Jesus Cristo com a alma fiel A verdade fala dentro de nós sem ruído de palavras Como é preciso escutar a palavra de Deus, e como muitos não a recebem como deviam Oração para pedir a graça da devoção Como é preciso andar na presença de Deus em verdade e em humildade Dos maravilhosos efeitos do amor divino Da prova do verdadeiro amor Que é preciso esconder humildemente as graças que Deus nos faz Que é preciso aniquilar-se diante de Deus Que é preciso referir tudo a Deus como nosso último fim Como é bom servir a Deus e desprezar o mundo Que devemos examinar e moderar os desejos do coração Que é preciso praticar a paciência e lutar contra as suas paixões Que devemos obedecer humildemente, seguindo o exemplo de Jesus Cristo Que devemos considerar os julgamentos secretos de Deus para não nos orgulharmos do bem que fazemos Do que devemos ser e fazer quando qualquer desejo surge dentro de nós Ora

Livro da Vida Perfeita - Pobreza e humildade espirituais

Lá onde se encontram a pobreza e a humildade espirituais, as coisas passam-se de outra forma completamente diferente. Porque aí se encontra então que o ser humano não é nada por si próprio, nem por aquilo que é seu. Aí sabe-se que ele não pode, que ele não tem, que ele não quer nada: nada a não ser os seus defeitos, os seus vícios e a sua malignidade. Então, o ser humano considera-se indigno de tudo o que lhe possa acontecer, por Deus ou pelas criaturas. Ele descobre que tudo o que lhe acontece, frequentemente também tudo aquilo que ele realiza, ele fica a dever a eles. É por isso que, na verdade, ele não tem direito a nada. Com um coração humilde, ele diz então: « É justo e equitativo que Deus, e todas as criaturas, estejam contra mim, e tenham direito sobre mim. É justo e equitativo que eu não esteja contra ninguém, e que eu não tenha direito sobre ninguém. » Então, o ser humano não pode, nem quer, pedir nada, nem desejar de Deus, nem das criaturas, senão o estritamente

Mestre Eckhart – Tratado da Nobreza

Nosso Senhor disse no Evangelho: "Uma pessoa nobre partiu para um pais distante afim de aí obter um reino, e regressou em seguida." 1 Nosso Senhor ensina-nos, com estas palavras, a que ponto o ser humano é criado nobre na sua natureza, a que ponto é divino aquilo que ele pode atingir pela graça, e também como é que ele lá deve chegar. Estas palavras estão também em relação com uma grande parte da Santa Escritura. É preciso primeiro saber, e é absolutamente manifesto, que o ser humano tem em si duas naturezas: o corpo e o espírito. É por isso que um texto diz: Aquele que se conhece a si próprio conhece todas as criaturas, porque todas as criaturas são ou corpo ou espírito. É por isso que a Escritura diz do ser humano que há em nós uma pessoa exterior e uma outra: a pessoa interior 2 . À pessoa exterior pertence tudo aquilo que é inerente à alma, envolto em carne e misturado com ela, fazendo obra corporal comum com e dentro de cada membro, como o olho, a orelha, a língua,

Mestre Eckhart

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Tratado da Nobreza Escrito por Mestre Eckhart cerca de 1310. Talvez antes tenha sido considerado um sermão e proferido perante a rainha Inês da Hungria, filha do duque Alberto da Áustria. Tratado do Desprendimento Para Mestre Eckhart o desprendimento é a mais elevada das virtudes. Sermão 1 - Jesus entrou no templo O primeiro sermão de Eckhart, na grande edição, encerra alguns dos temas maiores do mestre. Não conhecemos a data em que este sermão foi proferido, assim como não conhecemos a data dos outros sermões, mas o seu conteúdo prova-nos que Mestre Eckhart está na plena possessão da sua doutrina. Pronunciado provavelmente na terça-feira depois do primeiro domingo da quaresma. Sermão 2 - Jesus entrou num castelo Este sermão é um dos mais característicos de Mestre Eckhart e um dos mais célebres. Pronunciado provavelmente n festa litúrgica da Assunção de Maria (15 de agosto) Sermão 3 - Agora sei verdadeiramente Neste sermão, Mestre Eckhart continua a abordar o conhecimento e

Imitação de Cristo - 2.12. Da santa via da Cruz

Para muitos, estas palavras parecem duras: « Renuncia a ti próprio, carrega a tua Cruz, e segue Jesus » ( Lucas 9, 23). Mas será muito mais duro, no último dia, ouvir estas palavras: « Retirem-se de mim, malditos, vão para o fogo eterno! » ( Mateus 25, 41). Aqueles que, de boa vontade, escutam agora as palavras que mandam carregar a Cruz, e que lhes obedecem, não temerão então ouvir a sentença de uma condenação eterna. « Este sinal da Cruz aparecerá no Céu quando o Senhor vier para julgar. » ( Mateus 24, 30 Então, todos os discípulos da Cruz, que tiverem imitado durante a sua vida Jesus crucificado, se aproximarão com grande confiança de Jesus Cristo juiz. Portanto, porque temes carregar a Cruz, pela qual se chega ao reino do céu? Na Cruz está a salvação, na Cruz a vida, na Cruz a proteção contra os nossos inimigos. É da Cruz que escorrem as suavidades celestes. Na Cruz está a força da alma; na Cruz a alegria do espírito. Na cruz está a consumação da virtude, a perf

Mestre Eckhart - Sermão da Pobreza

A beatitude abriu a sua boca de sabedoria e disse: « Felizes são os pobres em espírito porque o reino dos céus é deles. » 1 Todos os anjos, e todos os santos, e tudo o que alguma vez nasceu, deve fazer silêncio quando fala a sabedoria do Pai, porque toda a sabedoria dos anjos, e de todas as criaturas, é uma pura loucura diante da sabedoria insondável de Deus. Esta disse que os pobres são felizes. Há duas espécies de pobreza: uma pobreza exterior, que é boa, e é necessário louvá-la altamente no ser humano que a pratica voluntariamente, pelo amor de Nosso Senhor Jesus Cristo, porque ele próprio a praticou sobre a terra. Desta pobreza eu não quero falar mais por agora; mas existe ainda uma outra pobreza, uma pobreza interior, aquela que é preciso entender pelas palavras de Nosso Senhor quando ele diz: « Felizes são os pobres em espírito. » Eu peço-vos que vocês sejam assim para poderem compreender este discurso, porque eu vos digo na eterna verdade: se vocês não estiverem conforme