Terceiro Sermão - Sobre o Intelecto

Quem quiser fazer um sermão sobre o intelecto, deve definir o intelecto e usar essa definição como tema do sermão.

Primeiro, oremos ao Espírito Santo que me dê a mim a graça de dizer, e a vocês a graça de ouvir e de colocar em prática estas palavras ditas em Seu louvor, e para a salvação das nossas almas. E para homenagear Nossa Senhora, Santa Maria, com amor e reverência, rezemos uma Ave Maria.

O intelecto é uma potência cuja função é compreender. Portanto, o Espírito Santo dá o intelecto ao homem, para que ele possa compreender as coisas compreensíveis que ele entende como objetos do seu intelecto.

O Espírito Santo dá a fé, para que a fé possa ajudar o intelecto a entender Deus e as suas obras. O homem não pode ver nada sem a luz e o espaço. Da mesma forma, o intelecto humano não pode compreender Deus, ou a operação intrínseca que Deus tem dentro de Si, sem a luz da fé. Isto ocorre porque Deus é invisível e inimaginável. Mesmo assim, é errado dizer que o homem neste corpo mortal não pode compreender Deus, a Santíssima Trindade, ou os outros artigos do credo.

O Espírito Santo dá o intelecto ao homem para cumprir o seu propósito maior. Portanto, o Espírito Santo dá ao homem o intelecto para capacitá-lo a compreender Deus e a Santíssima Trindade. Este é, em última análise, o objetivo maior pelo qual o intelecto adquire o seu mais alto grau de nobreza no Espírito Santo. Se o Espírito Santo deu ao homem o intelecto para compreender o objetivo mais nobre, e se o intelecto fosse incapaz de entendê-lo ou apreendê-lo nesta vida atual, durante a qual o Espírito Santo lhe dá o entendimento, então o Espírito Santo não concederia o intelecto ao homem de uma maneira ordenada e santa, o que é impossível. Esta impossibilidade revela o fato de que nesta vida presente, o intelecto humano, graças ao dom que o Espírito Santo concede, é capaz de compreender a santa divina Trindade de uma forma santa, ordenada e plausível.

A compreensão é o ato natural do intelecto. A crença é um instrumento que o Espírito Santo dá ao intelecto para compreender a coisas naturalmente, porque uma faculdade não pode agir naturalmente por si mesma sem a ajuda de um instrumento.

O intelecto é naturalmente capaz de produzir ciências físicas com as potências menores que lhe estão sujeitos, nomeadamente as potências da visão, da audição, do olfato, do paladar, do tato, da fala e da imaginação. Aqui, a fé não desempenha nenhum papel instrumental porque o intelecto é realmente mais nobre em bondade natural, em grandeza, em poder, em duração, em virtude, etc., do que qualquer uma das potências menores.

Contudo, o intelecto não pode produzir ciência sobre Deus ou sobre os anjos sem usar a fé como instrumento necessário para compreendê-los. A bondade, a grandeza, a duração, o poder e a virtude superiores de Deus e dos anjos estão muito além do alcance do intelecto humano. No entanto, à luz da fé, o intelecto humano pode compreender Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, graças ao dom da ordem e da santidade que o Espírito Santo concede.

O Espírito Santo dá ao intelecto humano uma propriedade natural pela qual ele está mais em harmonia com a vontade através do entendimento do que através da crença. Consequentemente, a vontade humana pode amar mais o que o intelecto entende do que aquilo que ele meramente acredita, ao compararmos a compreensão com a crença. Portanto, é errado dizer que o homem nesta vida deve evitar compreender a Santíssima Trindade, a fim de obter algum mérito maior que perderia se por acaso entendesse a Santíssima Trindade. Aqueles que dizem tais coisas falam contra o Espírito Santo, na medida em que amam adquirir méritos mais do que amam compreender o Espírito Santo.

A compreensão mantém o intelecto infinitamente longe da ignorância, mas a crença mantém-o próximo da dúvida. Consequentemente, o intelecto humano recebe um dom maior do Espírito Santo quando o Espírito Santo lhe dá a graça do entendimento do que quando o Espírito Santo lhe dá a graça da crença.

O Espírito Santo dá a fé ao intelecto para que ele possa crer nas coisas que não consegue compreender porque não está preparado para compreender as verdades profundas sobre Deus, como é o caso do intelecto de um mecânico, de um carpinteiro ou de um ferreiro.

Contudo, para aqueles cujo intelecto é bem versado na ciência natural ou na teologia, o Espírito Santo pode dar mais graça através do entendimento do que através da crença; porque acreditar serve para promover a compreensão. Acreditar é um instrumento para compreender, ao passo que compreender não é um instrumento para acreditar. Isto é o que o profeta Isaías quis dizer quando disse: "Se você não acreditar, não entenderá" (Is 7,9).

O intelecto é mais santificado pela compreensão da bondade do que pela crença nela. Por isso, recebe um dom maior do Espírito Santo quando compreende a bondade divina, do que quando acredita nela. O mesmo se aplica às outras dignidades divinas e à divina Trindade.

Este sermão não se dirige à mentalidade popular que seria incapaz de compreendê-lo. É dirigido a pessoas alfabetizadas, formadas nas ciências naturais e na teologia.

Falamos do intelecto que o Espírito Santo concede e das suas operações. Agora oremos ao Espírito Santo para que nos conceda a graça de compreendê-lo, pois ele é o nosso Pai. Em Seu amor e honra, digamos com reverência o "Pai Nosso".

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