Mestre Eckhart – Vi sobre o Monte Sião 1
Sermão 13 - Vi sobre o Monte Sião um Cordeiro em pé
- «Vi sobre o Monte Sião um Cordeiro em pé.»1
- São João viu um Cordeiro em pé sobre o Monte Sião, e ele tinha escrito, na sua testa, o seu nome e o nome do seu Pai, e ele tinha, perto dele, cento e quarenta e quatro mil.
- Ele disse que eles eram todos virgens, e que cantavam um cântico novo que ninguém para além deles podia cantar, e que eles seguiam o Cordeiro para onde quer que ele fosse.2
- Os mestres pagãos dizem que Deus ordenou as criaturas por forma a que cada uma esteja elevada acima da outra, por forma a que as mais elevadas tocassem nas mais baixas e que as mais baixas tocassem nas mais elevadas.
- O que esses mestres disseram, por palavras veladas, um outro diz abertamente; ele diz que a corrente de ouro é a natureza pura e intacta que se eleva em Deus, que não encontra gosto em nada fora de si mesma e que apreende Deus.
- Cada criatura toca na outra, e a mais elevada tem o pé apoiado na cabeça da inferior.3
- Todas as criaturas tocam em Deus, não segundo o seu caráter de criaturas, e, aquilo que é criado, tem que ser quebrado para que o bem saia de dentro dele.
- A casca tem que ser dividida em duas para que a fruta saia.
- Tudo isto visa a uma libertação, porque o anjo, fora dessa natureza, na sua pureza, nada conhece nada mais do que esta madeira; sim, sem essa natureza, o anjo não tem mais ser do que um mosquito tem, sem Deus.4
Notas
- O ponto de partida do sermão são os versículos do Apocalipse 14, 1-4: «Vidi supra montem Syon agnum stantem.» [ ↑ ]
- Este sermão, pregado em Colónia, precedeu o sermão 11: O tempo de Isabel ficou completo (Impletum est tempus Elizabeth) e seguiu o sermão 22: Avé, cheia de graça (Ave, gratia plena). [ ↑ ]
- Entre os «mestres pagãos» citados pelo pregador, Josef Quint identificou Macróbio no Sonho de Cipião, onde é feita referência à corrente de ouro (Scala naturæ) que, em Homero, liga o céu à terra. Nas suas obras alemãs, assim como nas suas obras latinas, Eckhart aludiu várias vezes a essa ordenação das criaturas, desde as mais elevadas até às mais baixas. [ ↑ ]
- A casca da noz, que tem que ser quebrada para que o fruto saia, simboliza o criado, do qual nos temos que libertar se queremos chegar à «natureza» na sua pureza, ou seja, a Deus, que é o seu centro. O próprio anjo, como tendo sido criado, não tem mais ser do que um mosquito, ou do que "esta madeira", e adivinhamos que o pregador, juntando o gesto à palavra, bate na borda da cadeira. [ ↑ ]
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