Imitação de Cristo - 3.8. Que é preciso aniquilar-se diante de Deus
- Alma: «Falarei ao Senhor meu Deus, apesar de eu ser apenas cinzas e pó» (Génesis 18, 27).
- Se eu acreditar que sou algo mais, eis que vós vos elevais contra mim, e as minhas iniquidades dão um testemunho verdadeiro e que eu não posso contradizer.
- Mas se eu me humilhar, se me aniquilar, e se me despojar de toda a estima por mim próprio, e voltar ao pó de onde fui formado, a vossa graça se aproximará de mim e a vossa luz estará perto do meu coração.
- Então todo sentimento de estima, mesmo o mais ligeiro, que eu pudesse conceber de mim mesmo, desaparecerá para sempre no abismo do meu nada.
- Lá vós me mostrais a mim mesmo, vós fazeis-me ver o que sou, o que fui, até onde desci: «porque não sou nada e não o sabia» (Salmos 73(72), 22).
- Se vós me deixais entregue a mim mesmo, o que sou eu? Nada, para além de enfermidade; mas assim que vós lançais um olhar sobre mim, imediatamente me torno forte e fico cheio duma alegria nova.
- E certamente, isso enche-me de espanto que vós me ergais assim de repente e me tomeis com tanta bondade nos vossos braços, sendo eu sempre arrastado pelo meu próprio peso para a terra.
- É o vosso amor que opera esta maravilha, que me adverte gratuitamente, que nunca cessa de me ajudar nas minhas necessidades, que me preserva dos maiores perigos e, para dizer a verdade, me livra de inúmeros males.
- Porque, eu perdi-me, amando-me com um amor desordenado,
- Mas, procurando-vos só a vós, amando-vos só a vós, encontrei-vos e reencontrei-me, e o amor fez-me regressar ainda mais ao meu nada.
- Ó Deus cheio de ternura! vós fazeis por mim muito mais do que eu mereço, ou mais do que eu ousaria esperar ou pedir.
- Bendito sejais, meu Deus, que, indigno como sou de receber de vós alguma graça, no entanto a vossa bondade generosa e infinita não cessa de fazer o bem mesmo aos ingratos e aos que estão mais distantes de vós.
- Trazei-nos de volta a vós, para que sejamos reconhecidos, humildes, fervorosos, porque vós sois a nossa salvação, a nossa virtude e a nossa força.
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