Nuvem de Desconhecimento – Capítulo 15



Uma curta demonstração contra o erro deles: daqueles que dizem que não há mais perfeita causa para a humildade, que o conhecimento por um ser humano da sua própria miséria.
  1. E também fia-te firmemente nisto, que há uma humildade perfeita tal como eu disse, e que é possível pela graça chegar até ela nesta vida. O que eu afirmo, para a confusão daqueles que pretendem, no seu erro, que não há mais perfeita causa de humildade que aquela que resulta da recordação da nossa miséria e dos pecados que nós cometemos.
  2. Eu concordo que, para aqueles que têm estado no hábito do pecado, como eu estou e estive eu próprio, é, uma muito necessária e eficaz causa de humildade, a recordação da nossa miséria e dos pecados que nós cometemos, tanto e até ao momento em que seja raspada em grande parte a grande ferrugem do pecado, e isto, com a atestação da nossa consciência e do nosso diretor espiritual. Mas para os outros que são como inocentes, nunca tendo pecado mortalmente por vontade determinada em conhecimento de causa, mas apenas por fragilidade e por ignorância, e que se fazem contemplativos; – e para nós os dois igualmente, que sentimos a vocação pela graça, e o desejo de sermos contemplativos, depois, todavia, de pelo testemunho da nossa consciência e do nosso diretor espiritual nós sermos assegurados duma legítima emenda pela contrição e pela confissão, como também pela obediência aos estatutos e ordenações da santa Igreja – há, acima dessa, uma outra causa de humildade: e também longe acima dela tal como a vida de nossa Senhora Santa Maria está acima da do penitente mais pecador da santa Igreja; ou que a vida de Cristo está acima da vida de qualquer um neste mundo; ou ainda que a vida de um anjo, o qual nunca sentiu – nem sentirá – a fragilidade, está acima da vida do mais frágil dos humanos sobre esta terra.
  3. Porque se as coisas fossem assim, e se não existisse mais nenhuma causa mais perfeita de humildade que o ver e sentir a nossa miséria e fragilidade, então eu perguntaria àqueles que pretendem isso: qual causa tinham eles para a humildade deles, daqueles que nunca viram nem sentiram – e também nunca terão neles – a miséria nem o assalto do pecado, tais como nosso Senhor Jesus Cristo, nossa Senhora Santa Maria, e todos os santos anjos do céu? Ora, a essa perfeição, assim como a todas as outras, nosso Senhor Jesus Cristo nos chama Ele próprio no Evangelho, onde ele manda: que nós sejamos perfeitos, pela graça, tal como Ele é Ele próprio, pela natureza.

    (Estote ergo vos perfacti, sicut & pater vester coelestis perfectus est.)


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