Mestre Eckhart – O justo vive na eternidade 2


  1. O justo não procura nada nas suas obras.
  2. São servos e mercenários, aqueles que procuram alguma coisa nas suas obras, ou que agem com vista em algum «porquê».
  3. Se portanto tu queres ser formado e transformado na Justiça, não procures nas tuas obras e não vises a nenhum «porquê», nem no tempo nem na eternidade, nem recompensa, nem beatitude, nem isto nem aquilo, porque tais obras estão todas verdadeiramente mortas.
  4. Verdadeiramente, e se tu visas a imagem de Deus em ti, quaisquer que sejam as obras que tu empreendas com essa intenção, elas estão todas mortas e tu desbaratas as obras boas e não apenas desbaratas as obras boas, tu cometes também um pecado porque tu fazes exatamente como um jardineiro que, devendo plantar árvores num jardim, arrancasse as árvores e reclamasse em seguida um salário. Assim, tu desbaratas as obras boas.
  5. Assim portanto se tu queres viver e se tu queres que as tuas obras vivam, tu deves estar morto para todas as coisas e teres-te tornado nada.
  6. É próprio da criatura o fazer qualquer coisa a partir de qualquer coisa, mas é próprio de Deus o fazer qualquer coisa a partir de nada.
  7. Se portanto Deus deve fazer qualquer coisa em ti ou contigo, tu deves previamente teres-te tornado nada.
  8. Regressa portanto para o teu próprio fundo e lá, age, e as obras que tu operas lá são todas vivas.
  9. É por isso que ele diz «o justo vive»: pelo fato de que ele é justo, ele age e as suas obras vivem. 1

Notas
  1. «O justo não procura nada nas suas obras» nem nas obras ditas temporais, quer dizer em todos os nossos empreendimentos sobre a terra, nem nas obras ditas eternas, quer dizer no nosso comportamento com relação a Deus.

    Ele deve agir com o mais total desinteresse, e sem colocar questões a si próprio sobre a finalidade das suas obras, «sem porquê», como Eckhart nos disse com tanta insistência no sermão 26, Mulher, vem a hora.

    Para que as obras do ser humano sejam vivas, é Deus que deve agir nele, e não do exterior, mas do mais íntimo dele próprio.

    «É próprio da criatura o fazer qualquer coisa a partir de qualquer coisa, mas é próprio de Deus o fazer qualquer coisa a partir de nada.»

    «Se portanto tu queres viver e se tu queres que as tuas obras vivam, tu deves estar morto para todas as coisas e teres-te tornado nada.»

    Nada, nós sabemos que o ser humano o é por natureza, adquirindo o seu ser de um outro ser. Se nós devemos sê-lo, é no plano moral, desprendendo-nos das criaturas. [  ]


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