Mestre Eckhart – O meu homem, teu servo, está morto 4


  1. Ora a mulher diz: «Senhor, o meu homem, teu servidor, está morto. Eles vieram, aqueles para com quem nós temos dívidas, e levaram os meus dois filhos.»
  2. O que são estes «dois filhos» da alma?
  3. Santo Agostinho - e como ele um outro, um mestre pagão - fala de duas faces da alma.
  4. Uma está voltada para este mundo e para o corpo; nesta (face) ela (a alma) pratica a virtude, o saber, e a vida santa.
  5. A outra face está voltada diretamente para Deus, nela está sem cessar a luz divina e aí opera, só que a alma não o sabe, porque ela não está em casa dela. 1
  6. Quando a pequena centelha da alma está agarrada em Deus na sua pureza, o «homem» vive.
  7. Então ocorre o nascimento, então o Filho nasce.
  8. Este nascimento não ocorre uma vez no ano, nem uma vez no mês, nem uma vez no dia, mas em todo o tempo, quer dizer acima do tempo, na amplitude que não é nem aqui, nem agora, nem natureza, nem pensamento.
  9. É por isso que nós dizemos «filho» e não «filha». 2
  10. Agora falemos dos «dois filhos» num outro sentido, quer dizer do conhecimento e da vontade.
  11. O conhecimento é o primeiro a emanar do intelecto, e a vontade em seguida emana dos dois.
  12. Nada mais sobre este assunto!

Notas
  1. Continuando o seu texto, Eckhart dá diversas interpretações dos «dois filhos» da viuva.

    Primeiro, são as duas faces da alma, das quais uma está voltada para o mundo, e a outra diretamente para Deus, tais como foram definidas por Agostinho e «um mestre pagão» (que não é nomeado, mas que nós sabemos ser Avicena graças a uma passagem do Comentário II sobre a Génese, onde ele empregou essa comparação e onde ele o nomeia). [  ]
  2. Quando «a pequena centelha da alma» está absorvida em Deus na sua pureza, o homem vive.

    Então, em vez do nascimento do Filho, não uma vez no ano, ou no mês, ou no dia, tal como ele nos explicou longamente no célebre sermão 2, Jesus subiu a um certo castelo, mas em todo o tempo, quer dizer para lá da duração.

    A alma não o sabe, porque ela não está «em casa dela»: ela deixa-se distrair pelas coisas exteriores em vez de ficar em si própria, onde ela encontraria Deus.

    «É por isso que nós dizemos "filho" e não "filha"», frase um pouco desconcertante porque nós tínhamos compreendido bem que este nascimento é o do Filho de Deus dentro da alma. [  ]


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