Mestre Eckhart - Sermão da Pobreza 13


  1. São Paulo disse: «Tudo o que eu sou, eu sou-o pela graça de Deus».
  2. Ora este discurso aqui parece situar-se acima da graça, e acima do ser, e acima do conhecimento, e acima da vontade, e acima de todo desejo - como então é que as palavras de São Paulo podem ser verdadeiras?
  3. Sobre isto responder-se-á que as palavras de São Paulo são verdadeiras.
  4. Era necessário que a graça de Deus estivesse nele porque o que a graça operou nele, foi que o que era "acidente" se tornasse "substância".
  5. Quando a graça terminou a sua obra, Paulo permaneceu aquilo que ele era (antes).1

Notas
  1. Na última parte do sermão, Eckhart regressa àquilo que nos disse previamente sobre a existência eterna do ser humano, retomando por vezes as mesmas expressões, ou empregando outras quer mais explicitas, quer mais paradoxais ainda.

    Elas culminam na afirmação completamente extraordinária: «Eu peço a Deus que me liberte de Deus.»

    Se ela é forçada, ela é no entanto cheia de sentido: para conhecer Deus na sua autenticidade, é indispensável que se desfaçam todas as representações culturais pelas quais nós acreditamos poder agarrá-lo.

    A originalidade de Eckhart consiste na afirmação de que eu me encontro a mim próprio apenas na condição de me libertar também de todo o rosto de Deus que tem um nome.

    «O meu ser essencial está acima de Deus enquanto que nós entendemos Deus como princípio das criaturas», explica Eckhart.

    Compreender que a destruição das representações sobre Deus, e que a recuperação do eu autêntico, são um só e mesmo movimento, é compreender este sermão de formulações ousadas, e compreender Mestre Eckhart todo inteiro, nos três últimos parágrafos do sermão que chocou tantos leitores. [  ]


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