Mestre Eckhart – Feliz o ventre que te trouxe 1
Sermão 49 - Feliz o ventre que te trouxe
- Lê-se hoje no evangelho que uma mulher, uma mulher casada, diz a Nosso Senhor: «Feliz o corpo que te trouxe, felizes as mamas que te amamentaram.»
- Então Nosso Senhor diz: «Tu dizes a verdade. Feliz é o corpo que me trouxe e felizes são as mamas que me amamentaram. Mas mais feliz ainda é aquele que escuta a minha palavra e a guarda.» (Lc 11, 27) 1
- Prestem bem atenção a esta frase que disse Cristo: «Mais feliz é aquele que escuta a minha palavra e a guarda, do que o corpo que me trouxe, e as mamas que me amamentaram.»
- Se eu tivesse dito isso, e se fosse a minha própria frase - que a pessoa que escuta a palavra de Deus, e que a guarda, é mais feliz do que foi Maria nesse nascimento que a tornou corporalmente mãe de Cristo - eu repito; se eu tivesse dito isso, as pessoas poderiam espantar-se, mas é o próprio Cristo que o diz.
- É por isso que devemos acreditar nele como sendo a verdade, porque Cristo é a verdade.
- Notem o que entende aquele que escuta a palavra de Deus.
- Ele escuta Cristo nascido do Pai, em plena igualdade com o Pai, tendo assumido a nossa humanidade unida à sua pessoa, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, um Cristo; tal é a palavra que escuta absolutamente aquele que escuta a palavra de Deus, e a guarda com toda a perfeição. 2
Notas
- O texto comentado neste sermão está inscrito no antigo missal dominicano para todas as festas da Virgem entre o Natal e a Purificação.
Excepcionalmente longo, este sermão apresenta ainda uma outra particularidade: comporta um "prólogo" sobre o qual o pregador explica a razão: ele quis dar aos auditores (auditoras de um mosteiro?) o tempo de se recolherem, em seguida ele desculpa-se de os ter retido. Sem dúvida, ele deixou-se levar pelo seu discurso. Quando ele diz: «Eu quero agora pregar», ele na realidade já prega desde há algum tempo, e aquilo que ele expôs nesse "prólogo" pertence organicamente àquilo que se vai seguir. [ ↑ ] - Não é a única vez que Mestre Eckhart insiste sobre a audácia das palavras de Cristo, fazendo alusão ao escândalo que ele teria provocado se fosse ele próprio que as tivesse pronunciado.
E no entanto ele faz-lhes como que uma atenuação, o que não está nos seus hábitos.
Com efeito, o texto de São Lucas não diz nada desse «Tu dizes a verdade», seguido da repetição das palavras da mulher.
Talvez ele tenha tido em consideração a veneração por Nossa Senhora do povo que o escuta. Ele regressará mais adiante ao culto que lhe é prestado pela «santa cristandade», quer dizer a Igreja, e os pedidos de intercepção que lhe são endereçados. Três vezes ele repete: «e é verdade». [ ↑ ]
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