Mestre Eckhart – Quando se completaram os dias 6


  1. Em terceiro lugar: essa luz liberta do tempo e do espaço.
  2. «Houve um homem.» Quem lhe deu essa luz? A pureza.
  3. A palavra «erat» pertence muito particularmente a Deus.
  4. Na língua latina, nenhuma palavra é mais apropriada a Deus que «erat».
  5. É por isso que João a emprega no seu evangelho, e diz tantas vezes «erat», «era», e ele entende com isso um ser puro.
  6. Todas as coisas acrescentam, «erat» não acrescenta nada, senão em pensamento, não num pensamento atributivo, mas num pensamento abstrato.
  7. A bondade e a verdade acrescentam, pelo menos em pensamento, mas o sentido de «erat» é o ser puro ao qual nada é acrescentado.
  8. Por outro lado, «erat» designa um nascimento, um perfeito devir.
  9. Eu vim agora, eu vinha hoje; se o tempo fosse suprimido no «eu vinha» e «vim», «vinha» e «vim» seriam reunidos em um, e seriam um.
  10. Quando «vinha» e «vim» são reunidos em um, nós somos procriados, e recriados, e reformados na primeira imagem.
  11. Eu já o disse frequentemente: tanto quanto um aspeto de uma coisa guarda o seu próprio ser, não é recreada, é restaurada ou renovada apenas, como um selo antigo que se repara e renova.
  12. Um mestre pagão diz: aquilo que é, nenhum tempo o pode tornar velho, mas é uma vida bem-aventurada numa perpetuidade sem distorção nem dissimulação, onde o ser é puro.
  13. Salomão diz: «Nada de novo debaixo do sol.»
  14. É raramente compreendido segundo o seu sentido. Tudo o que está debaixo do sol envelhece e declina, mas lá não há nada mais que novidade.
  15. O tempo tem duas consequências: envelhecimento e declínio.
  16. Tudo o que o sol ilumina se situa no tempo.
  17. Todas as criaturas são agora, e são «de» Deus, mas lá onde elas estão «em» Deus, elas são tão dissemelhantes daquilo que elas são aqui, como o sol comparado com a lua, e muito mais ainda.
  18. É por isso que ele diz: «erat in eo», o Espírito Santo estava nele: lá onde o ser e o devir são um. 1

Notas
  1. «Erat». Este nome convém a Deus por duas razões. Por um lado, «erat» visa Deus sem nenhum dos seus atributos (bondade, verdade); Deus, neste primeiro sentido, é puramente ser.

    O evangelista João, segundo Eckhart, julga este verbo «ser» o mais apropriado quando começa o seu evangelho por «No princípio era (erat) o Verbo». A ausência de predicado, ou de atributos, indica já que o Verbo era Deus. Em certos textos latinos, Eckhart diz precisamente: «o ser é Deus».

    Por outro lado, a palavra «erat» convém a Deus porque está aqui no passado. Neste segundo sentido implica aos olhos de Eckhart que a distinção entre passado e presente está abolida em Deus.

    O pregador procura fazer-se compreender com um exemplo gramatical que pretende dizer que, para o Verbo divino, ter nascido e estar constantemente a nascer se resume em «erat»: assim, também nós nascemos e somos recreados constantemente na primeira imagem, mas é preciso que nada de antigo fique para que tudo seja não só reparado, mas verdadeiramente recreado. [  ]


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