Mestre Eckhart – Iluminou os degraus da sua casa 4


  1. Foi o que fez assiduamente S. Isabel.
  2. Ela tinha «sabiamente iluminado os degraus da sua casa».
  3. Também, «ela não temia o inverno porque os seus servidores estavam duplamente vestidos».
  4. Ela estava alerta contra aquilo que a podia prejudicar.
  5. Se qualquer coisa lhe faltava, ela aplicava o seu zelo a aperfeiçoá-la.
  6. É por isso que «ela não comeu o seu pão na ociosidade.»
  7. Ela tinha também voltado as suas potências superiores para o nosso Deus.
  8. As mais altas potências da alma são em número de três: a primeira é o conhecimento, a segunda, a irascibilis que é uma potência ascendente, a terceira é a vontade.
  9. Quando a alma se entrega ao conhecimento da autêntica verdade, à potência simples pela qual se conhece Deus, a alma é chamada uma luz.
  10. E Deus também é uma luz e quando a luz divina se derrama na alma, a alma é unida a Deus como uma luz a uma luz, ela é então chamada luz de fé e isso é uma virtude divina.
  11. Onde a alma não consegue chegar nem pelos seus sentidos nem pelas suas potências, é a fé que a leva até lá. 1

Notas
  1. Eckhart passa em seguida a S. Isabel, a quem se reporta o seu texto inicial. Este exemplo é convincente.

    É muito excepcional que Mestre Eckhart nomeie um santo ou uma santa sem ser a propósito de uma citação, sobretudo quando o santo é, como Isabel, todo carregado de obras exteriores: ele desconfia sempre um pouco delas, temendo que elas dêem demasiado facilmente boa consciência.

    Isabel da Hungria ou da Turingia morreu em 1231. Mais de um século separam-na do nosso pregador, mas ela era muito popular na Alemanha onde aliás permaneceu. Como é menos conhecida em Portugal no século XXI, contaremos um pouco acerca dela.

    Nascida em 1207, filha do rei da Hungria, foi levada para a Turingia em 1211 afim de casar um dia com Luís IV, filho mais velho do poderoso senhor feudal da Turingia Harmann I, união desejada pelas duas partes por razões políticas. Muito devota desde a infância, ela alimenta os pobres e trata dos doentes. Luís e Isabel amam-se profundamente. O casamento tem lugar provavelmente em 1221.

    A partir de 1226, Isabel toma por director um padre severo que a interdita de comer ou de beber, mesmo nas refeições de cerimónia, antes de saber se não se trata de um bem mal adquirido, quer dizer proveniente de domínios usurpados, ou abusivamente retirado à colheita dos pobres camponeses.

    Em 1227, Luís IV morre na estrada da cruzada. Isabel com 20 anos espera então o seu terceiro filho.

    Ela deixa a Wartbourg, sua residência habitual, com os filhos, temendo que o seu cunhado não tenha a largueza de espírito do seu esposo e não aceite as suas restrições à mesa. Não que ela tenha sido expulsa como pretende a lenda, nós temos sobre esse ponto o testemunho formal de um dos seus assistentes: «Ela teria podido relacionar-se com o irmão do seu marido, mas ela não queria receber o seu alimento do roubo e da extorsão dos pobres tais como são frequentemente praticados nas cortes dos príncipes e ela escolheu ser rejeitada e ganhar o seu alimento como uma mercenária com o trabalho das suas mãos.»

    Ela teria querido ir mendigar o seu pão de porta em porta. O seu director não lhe permitiu. A sua família materna tentou em vão voltar a casá-la.

    Quando a sucessão de Luís é acertada, ela dispõe dos seus bens para os dar aos pobres e mandar construir um hospital. Toma o hábito franciscano em 1228, leva uma vida extremamente austera, continua a alimentar os indigentes, e tratar os mais deserdados e os leprosos. Morre em 1231 com 24 anos. [  ]


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