Devocionário de São Nuno - Peregrinações de São Nuno

Peregrinações de São Nuno

Peregrinação desde Atoleiros até Santa Maria de Assumar (Igreja de Nossa Senhora dos Milagres, Matriz de Assumar, Monforte, Portalegre)

Para agradecer à Mãe de Deus a vitória, Nuno vai em peregrinação ao santuário de Santa Maria de Assumar e encontra-o profanado, transformado em estrebaria. Com suas próprias mãos ele o limpa e o entrega novamente ao culto.

Peregrinação desde a Batalha até Santa Maria de Seiça (Capela de Nossa Senhora de Seiça, Paião, Figueira da Foz)

Peregrinação desde Valverde de Mérida até Santa Maria de Mérida (?) (Catedral de Santa Maria de Mérida, Espanha)

As Peregrinações na Idade Média

Dos temas pertinentes à Idade Média, poucos chamam tanto a atenção quanto as peregrinações. Pode-se até mesmo afirmar que essa prática religiosa acabaria por se tornar uma das características mais marcantes desse período histórico. Porém, quais razões a motivavam e quais eram os destinos preferidos dos peregrinos? E quanto à Igreja Católica, o que ela pensava a respeito dessa prática?

Considerada como uma espécie de obra ascética, a peregrinação exigia abandono voluntário da terra nativa do peregrino. Mais que isso, ela também exigia o completo abandono do modo de vida daquele que partia. O peregrino renunciava ao seu trabalho, fonte do seu sustento cotidiano, trocando a segurança e o conforto do seu lar, o seu espaço homogéneo, conhecido, familiar, pela heterogeneidade do espaço desconhecido, pelo imponderável. Assim, desde a sua partida, o caminhante transformava-se a um só tempo num estrangeiro e, de certa forma, também num miserável.

Por vezes motivada por um desejo de cura, outras vezes visando algum logro espiritual, para depois ocorrer devido a votos e promessas ou simplesmente como pagamento por graças conseguidas, as peregrinações normalmente têm no seu âmago alguma motivação relacionada com a fé de uma pessoa ou de um grupo de pessoas. Aos poucos, a peregrinação tornar-se-ia num fenómeno encontrado em praticamente todas as religiões.

Durante a Idade Média, as peregrinações tornaram-se como que numa metáfora, relacionando a jornada humana, por um lado, à salvação e, por outro, à busca de Deus e da vida eterna. Assim, enquanto percorria os caminhos inóspitos por esse mundo, a pessoa em peregrinação acreditava que também diminuía a distância que a separava de Deus. Concomitantemente, para a cristandade medieval, as peregrinações eram peças importantes da união social, pois, de tão frequentes, de forma parecida com o que acontecia com a liturgia, davam uma espécie de sentido de universalidade à sociedade religiosa da época.

No caso das peregrinações cristãs, elas remontam aos primeiros séculos da Igreja e, originalmente, tinham como ponto de chegada destinos considerados sagrados, como a Terra Santa, por exemplo, onde se encontra o Santo Sepulcro, local que, segundo a fé cristã, Cristo fora sepultado, ressuscitando posteriormente. Mais tarde, outras localidades, túmulos de Santos, por exemplo, como os de Pedro, Paulo e Tiago, também assumiam o estatuto de locais sagrados, incentivando a existência de um número cada vez maior de peregrinos. Entretanto, de todos os centros medievais de peregrinações, os principais eram mesmo os caminhos que levavam a Roma, a Jerusalém e a Compostela. A própria história das peregrinações da Idade Média Central, principalmente dos séculos 10, 11 e 12, pode ser resumida a esses três destinos.


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