Devocionário de São Nuno - Jejum de São Nuno

Jejum de São Nuno

São Nuno jejuava em honra da Virgem Maria às quartas-feiras, às sextas, aos sábados e nas vigílias das suas festas.

À parte do regime imposto por médicos, a dieta medieval era severamente influenciada por restrições religiosas.

Tanto as igrejas orientais quanto ocidentais ordenavam que um banquete deveria ser seguido de jejum.

Na maior parte da Europa, as quartas-feiras, sextas-feiras, e algumas vezes os sábados e vários outros dias do calendário, incluindo a quaresma e o advento, eram dias de jejum.

Carne e outros produtos animais como leite, queijo, manteiga e ovos não eram permitidos, somente peixe.

O jejum intencionava mortificar o corpo e revigorar a alma, para reforçar o dogma medieval que a carne era «inferior», e também fazer lembrar do sacrifício de Cristo pela humanidade.

A intenção não era retratar certos alimentos como impuros, no lugar disso, a abstenção era uma lição espiritual de autodomínio.

Durante os dias particularmente rigorosos de jejum, o número de refeições era reduzido para um.

Mesmo que a maior parte das pessoas respeitasse essas restrições e comumente fizesse confissão quando as violasse, havia numerosos meios de evitar o problema, um conflito de ideais e práticas eloquentemente resumidos pelo estudioso Bridget Ann Henisch:

«É da natureza do homem criar a mais complicada prisão de regras e regulamentos nos quais prende a si mesmo, e então, com igual ingenuidade e prazer, aplicar o seu cérebro no problema de esquivar-se triunfantemente mais uma vez.»

Embora os produtos animais devessem ser evitados durante o tempo de penitência, os compromissos pragmáticos prevaleciam muitas vezes.

A definição de «peixe» foi alargada muitas vezes a animais semimarinhos e aquáticos, como baleias, o ganso-de-faces-brancas, o papagaio-do-mar e até mesmo o castor.

A escolha dos ingredientes poderia ser limitada, mas isso não significa que as refeições fossem menores.

Nem houve quaisquer restrições contra beber (moderadamente) ou comer doces.

Os banquetes realizados nos dias de peixes poderiam ser esplêndidos, e eram ocasiões populares para se servirem ilusões de comida que imitavam carne, queijo e ovos de várias formas engenhosas; o peixe poderia ser moldado para ter a aparência de carne vermelha e ovos falsos poderiam ser feitos enchendo-se cascas vazias de ovos com ovas de peixes e leite de amêndoa e cozinhando-os na brasa.

Enquanto as autoridades da igreja bizantina adotavam um sistema rígido e desencorajavam qualquer refinamento culinários para o clero, sua contraparte ocidental era muito mais tolerante. Há muitos relatos de membros do monasticismo cristão que desprezavam as restrições de jejum mediante inteligentes interpretações da Bíblia.

Desde que os doentes foram isentos do jejum, frequentemente expandiu-se a noção de que somente se aplicavam as restrições às áreas principais de refeições, e muitos frades simplesmente faziam as suas refeições rápidas do dia no que mais tarde evoluiria para o oratório, ao invés do refeitório.

As autoridades mais novas procuraram corrigir o problema da evasão do jejum não meramente com condenações morais, mas certificando-se que pratos bem preparados e que não fossem feitos de carne estivessem disponíveis nos dias de jejum.

Não houve também falta de murmúrios sobre os rigores do jejum entre os leigos.

Durante a Quaresma, reis e estudantes, pessoas comuns e a nobreza, todos se queixavam por serem privados de carne durante as longas e duras semanas de solene meditação sobre os seus pecados.

Na Quaresma, os proprietários de gado foram ainda avisados para manterem-se atentos aos cães famintos frustrados por um «duro esforço pela Quaresma e por ossos de peixes».


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