Livro da Vida Perfeita – Quatro tipos de seres humanos


  1. «Deus está para além de toda a regra, de toda a medida e de toda a ordem.»
  2. «É Ele que dá a todas as coisas regra, ordem, medida e sabedoria.»
  3. Diz-se, e é a verdade. É preciso compreendê-lo assim:
  4. Deus quer que tudo isso seja – ordem, medida, etc. –, mas não o pode ter Ele próprio, sem criatura. Porque, em Deus, sem criatura, não há nem ordem nem desordem, nem regra nem desregramento, etc.
  5. Deus quer que tudo isso seja para que essas coisas existam e se produzam. Lá onde existem palavras, ações e relações, elas devem necessariamente produzir-se quer na ordem, na regra, na medida e na sabedoria, quer na desordem. Ora a ordem e a sabedoria são melhores e mais nobres que o contrário.
  6. Deve-se observar no entanto que os seres humanos que se ocupam da ordem, das leis e das regras são de quatro tipos:
  7. – Alguns não o fazem nem por Deus, nem por isto ou por aquilo, mas apenas por constrangimento: eles fazem-no o menos possível, e ainda assim é-lhes penoso e difícil.
  8. – Outros fazem-no por uma recompensa: são seres humanos que não conhecem mais nada e imaginam que não há melhor meio para atingir e merecer o Reino celeste e a vida eterna. Para eles, aquele que se adstringe rigorosamente a essas regras é um santo; aquele que não é atento a elas e as negligencia está perdido e pertence ao diabo. Eles prendem-se a elas portanto com grande zelo e um grande ardor, mesmo se eles acham que fazer isso é penoso.
  9. – Os terceiros são os espíritos maus e falsos que crêem ser prefeitos: eles declaram que não têm necessidade dessas coisas e troçam delas.
  10. – Os quartos são os seres humanos iluminados pela verdadeira luz. Eles não se prendem a essas regras para uma recompensa: eles não querem aí ganhar nenhuma vantagem e não querem aí atingir nada. Eles agem apenas por amor. Eles não se preocupam muito em fazer com eficácia, com rapidez, etc., mas apenas em fazer bem, na paz e na serenidade.
  11. Se lhes acontece o negligenciarem qualquer coisa, eles não se crêem perdidos por causa disso.
  12. Eles sabem bem que a ordem e a sabedoria são melhores e mais nobres que a desordem, e é por isso que eles se atêm a elas.
  13. Mas eles sabem também que a Felicidade não depende disso, e é por isso que eles não se preocupam tanto com isso como os outros.
  14. São esses seres humanos que são criticados e condenados pelos outros seres humanos.
  15. Os mercenários dizem: «São uns negligentes» ou ainda: «Eles vivem na injustiça», etc.
  16. Os outros – aqueles que têm um espírito «livre» – troçam deles: «São uns espíritos grosseiros», «São uns insensatos», etc.
  17. Eles atêm-se assim ao melhor, que é o Melhor.
  18. Porque aquele que ama verdadeiramente Deus é melhor e mais amado por Deus que cem mil mercenários.
  19. Passasse o mesmo com as suas ações.

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