Livro da Vida Perfeita - O exemplo de Cristo


  1. Tudo o que foi dito aqui da pobreza e da humildade é realmente assim na verdade: a vida e as próprias palavras de Cristo confirmam-no e provam-no.
  2. Cristo praticou e realizou todas as obras da verdadeira humildade.
  3. Vê-se na sua vida, e ele expressa-o também nas suas palavras: «Aprendam comigo, disse ele, que eu sou suave e humilde de coração» (Mt 11, 29).
  4. Ele não negligenciou nem desprezou as leis, os mandamentos, e as pessoas submetidas à Lei.
  5. Certo, ele disse que isso não era suficiente, que era preciso ir mais longe - e é bem verdade.
  6. São Paulo escreveu-o: «Cristo submeteu-se à Lei para libertar aqueles que estavam sob a Lei» (Ga 4, 4). O que quer dizer: «para os levar a algo de melhor e de mais elevado.»
  7. Cristo disse também: «Eu não vim para que me sirvam, mas para servir» (Mt 20, 28).
  8. Numa palavra, não se encontra nada mais na vida, nos atos e nas palavras de Cristo que a verdadeira pobreza, que a pura humildade, tal como acabamos de mostrar.
  9. Deve ser assim, por necessidade e por obrigação, lá onde está Deus e lá onde Deus Ele próprio é o ser humano.
  10. Porque Cristo, e o seu verdadeiro sucessor, não podem estar onde estão a riqueza e o orgulho espirituais, onde está um coração indócil e intemperado.
  11. Cristo disse: «A minha alma está cheia de tristeza até à morte» (Mt 26, 38). O que quer dizer: «ela esteve assim desde o seu nascimento no seio de Maria até à morte corporal», conforme já dissemos.
  12. Cristo disse: «Bem-aventurados os pobres em espírito - quer dizer os verdadeiros humildes - porque o reino dos céus é deles.» (Mt 5, 3) e a Verdade diz também - mesmo que isto não esteja escrito: «Infelizes e malditos os ricos em espírito e os orgulhosos de coração, porque o reino do Diabo é deles!»
  13. Sim, eis o que se encontra verdadeiramente quando Deus Ele próprio é o ser humano.
  14. Lá onde está Cristo, e o seu verdadeiro sucessor, lá estão necessariamente a verdadeira e profunda humildade, a pobreza espiritual, assim como um coração aniquilado, habitando em si próprio e cheio de sofrimentos secretos e duma desolação escondida até à morte corporal.
  15. Aquele que se imagina outra coisa está no erro e engana os outros consigo, como foi dito acima.
  16. É por isso que a natureza e o amor próprio fogem desta vida e se agarram à vida da liberdade ilusória, tal como foi exposto.

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