Imitação de Cristo - 2.11. Do pequeno número daqueles que amam a Cruz de Cristo
- Há muitos que desejam o reino celeste de Jesus, mas poucos consentem em carregar a sua Cruz.
- Muitos desejam as suas consolações, mas poucos amam os seus sofrimentos.
- Ele encontra muitos companheiros da sua mesa, mas poucos da sua abstinência.
- Todos querem partilhar a sua alegria, mas poucos querem sofrer alguma coisa por ele.
- Vários seguem Jesus até à fração do pão, mas poucos até beberem o cálice da sua paixão.
- Vários admiram os seus milagres; mas poucos provam a ignomínia da sua Cruz.
- Vários amam Jesus enquanto não lhes acontece nenhuma adversidade.
- Vários o louvam e bendizem, enquanto recebem as suas consolações.
- Mas se Jesus se esconde ou se afasta por um momento, eles caem no murmúrio ou no abatimento excessivo.
- Mas aqueles que amam Jesus por Jesus e não por eles próprios, tanto o bendizem em todas as tribulações e na angústia do coração, como nas consolações mais suaves.
- E mesmo se ele nunca mais os quisesse consolar, mesmo assim eles sempre o louvariam, eles sempre lhe renderiam ações de graças.
- Oh! o que não pode o amor de Jesus, quando é puro e sem mistura de amor nem de interesse próprio!
- Não são mercenários aqueles que procuram sempre consolações?
- Não provam que se amam mais a si próprios que a Jesus Cristo, aqueles que pensam sempre nos seus ganhos e nas suas vantagens?
- Onde se encontrará alguém que queira servir Deus por Deus apenas?
- Raramente se encontra uma pessoa bastante avançada nas vias espirituais que esteja despojada de tudo.
- Porque o verdadeiro pobre de espírito, desprendido de todas as criaturas, quem o encontrará?
- «O seu valor excede tudo o que vem de longe e dos últimos confins da terra» (Provérbios 31, 10).
- Se o ser humano der tudo o que possui, ainda não é nada (Cântico 8, 7).
- Se ele fizer uma grande penitência, ainda é pouco.
- E se ele abraçar todas as ciências, ainda está longe.
- E se ele tiver uma grande virtude e uma piedade fervorosa, falta-lhe ainda muito, falta-lhe uma coisa soberanamente importante.
- O quê? É que depois de ter abandonado tudo, ele se abandone a si próprio e se despoje inteiramente do amor de si.
- É, por fim, que depois de ter feito tudo o que sabe que deve fazer, ainda assim pense que não fez nada.
- Que ele estime como sendo pouco aquilo que se poderia considerar como uma coisa grande, e que com toda a sinceridade ele confesse que é um servidor inútil, segundo a palavra da Verdade: «Depois de terem feito o que vos foi ordenado, digam: Somos servos inúteis» (Lucas 17, 10).
- Então ele será verdadeiramente pobre e separado de tudo em espírito, e ele poderá dizer com o profeta: «Sim, sou pobre e só no mundo» (Salmos 25(24), 16).
- No entanto, ninguém é mais rico, mais poderoso, mais livre, que aquele que sabe abandonar tudo e a si próprio, e colocar-se em último lugar.
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