Livro da Vida Perfeita - A contemplação do mistério


  1. «É possível, perguntarão, que a alma, enquanto está no corpo, consiga deitar uma olhada para a eternidade e receber assim um antegozo da vida e da felicidade eternas?».
  2. A isso, a resposta comum é: Não!
  3. Esta resposta é exacta num sentido: enquanto a alma tem em vista o corpo e as coisas do corpo, o mundo e as criaturas, enquanto ela se deforma e se dispersa assim, isso não é possível.
  4. Para chegar a esta visão, a alma deve estar vazia de todas as imagens e despojada de todas as criaturas: em primeiro lugar, de si própria. E isso, pensarão, nunca aconteceu neste mundo.
  5. Mas São Dioniso, ele, afirma que isso é possível. Podemos constatar por estas palavras que ele escreve a Timóteo: «Para contemplar os mistérios divinos, tu deves abandonar os sentidos, as sensações e o sensível. Tu deves abandonar o intelecto, as operações intelectuais e o inteligível: criado e incriado. Levanta-te! Sai de ti próprio, entra na ignorância de tudo aquilo que foi dito e une-te ao que está acima de todo o ser e de todo o conhecimento.»
  6. Se ele não tivesse pensado que isso era possível neste mundo, porque é que o teria ensinado a um homem que aí vivia?
  7. É preciso também saber o que um Mestre diz destas palavras de São Dioniso: «Isso é possível, diz ele, e isso pode mesmo acontecer a um homem tão frequentemente que ele se acabe por habituar a vê-lo e a contemplá-lo tantas vezes quantas o deseje. E cada um dos seus olhares é mais nobre, mais digno, mais caro a Deus do que tudo aquilo que as criaturas podem realizar enquanto que tais.»

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