Nuvem de Desconhecimento – Capítulo 69
- Prodigiosamente é metamorfoseada a afeição humana em sentimento espiritual por esse "nada" quando ele é concebido em "parte nenhuma". Porque no primeiro instante que uma alma olha para lá, ela aí encontrará e verá todos os atos pecaminosos particulares que ela cometeu desde o nascimento, do corpo e do espírito, representados obscuramente ou secretamente. E para onde quer que ela se volte em roda, sempre ela os verá diante dos seus olhos: até que o tempo venha, em que, com muito duro e penoso trabalho, e muitos suspiros cruéis, e muitas lágrimas amargas, ela se veja em grande parte lavada neles. Por vezes parecer-lhe-á, durante esse trabalho, que está a olhar para lá como para o inferno, de tal forma lhe parecerá que ela desespera de alguma vez triunfar sobre essa pena, na perfeição do perfeito repouso espiritual. Até a essas profundas entranhas, há muitos que aí chegam; mas pela enormidade da pena que eles sentem e pela ausência de reconforto, então eles voltam para trás para a consideração das coisas corporais, procurando reconfortos carnais exteriores ao invés dos espirituais, mas que eles não teriam tido falta de ter se eles tivessem perseverado.
- Porque aquele que persevera sente por vezes qualquer reconforto, e tem qualquer espécie de perfeição: porque ele sente e vê que muitos dos seus pecados antigos são em grande parte, com a ajuda da graça, apagados. No entanto, ainda, ele se sente sempre no meio da pena, mas ele pensa que ela terá um fim, porque ela vai sempre diminuindo a pouco e pouco. E é por isso que ele não chama a isto de outra forma senão "purgatório". Por vezes, ele não encontra lá marcado nenhum pecado particular, mas então parece-lhe que o pecado é um bloco maciço completo do qual ele não sabe nunca do que é feito, mas no entanto (ele não é feito) de nada mais senão de si próprio; e então ele pode ser chamado aquilo que ele é: a base e a pena do pecado original. Por vezes, lhe parecerá estar no paraíso ou no céu, devido a diversas delícias maravilhosas e a numerosos reconfortos e consolações, alegrias e virtudes benditas que ele lá encontra. E por vezes, parecer-lhe-á que é Deus, devido à paz e ao repouso que ele lá encontra.
- Ah! Que ele pense aquilo que ele quiser; porque sempre e sempre ele encontrará uma nuvem de desconhecimento, a qual está entre ele e o seu Deus.
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