Nuvem de Desconhecimento – Capítulo 65



Do primeiro dos poderes secundários, de seu nome a Imaginação; e das obras e da obediência desta à Razão, antes do pecado e depois.
  1. A Imaginação é um poder pelo qual nós representamos para nós próprios todas as imagens das coisas presentes e ausentes; e em conjunto, ela e a coisa na qual ela obra, estão contidas na Memória. Antes do ser humano ter pecado, a Imaginação era tão obediente à Razão, para com a qual ela é como que uma serva, que ela nunca lhe mandava uma imagem contrafeita de qualquer criatura corporal, nem nenhuma imagem fantástica de qualquer criatura espiritual; mas presentemente não é assim. Porque a menos que ela seja refreada pela luz da graça na Razão, nunca ela deixará, na vigília como no sono, de representar imagens contrafeitas das criaturas corporais, ou então fantasmas, os quais não são nada mais do que representações corporais de coisas espirituais, ou ainda representações espirituais de coisas materiais. O que é sempre fingimento e falsidade, e muito próximo do erro.
  2. Esta desobediência da Imaginação pode muito bem ser reconhecida naqueles que se voltaram recentemente do mundo para a devoção, no momento das suas orações. Porque antes que o tempo chegue, em que a Imaginação será em grande parte refreada pela luz da graça na Razão, como acontece pela contínua meditação das coisas espirituais – tais como são a própria miséria do ser humano, a Paixão de nosso Senhor e a Sua Bondade, e muito outros – nunca eles conseguirão de alguma maneira rejeitar os espantosos e diversos pensamentos, fantasias e imagens, as quais são mandadas e impressas no seu espírito apenas pela luz e curiosidade da Imaginação. E tudo isso, e esta desobediência, é a pena recebida do pecado original.


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