Nuvem de Desconhecimento – Capítulo 61



Que todas as coisas corporais estão submetidas e obedecem às espirituais, pelas quais elas são comandadas no curso natural, e de forma nenhuma o contrário.
  1. No entanto, há alguma utilidade em elevar os nossos olhos e as nossas mãos corporalmente para o céu corporal ao qual os astros estão agarrados. Eu quero dizer, se nós formos treinados para isso pela obra do nosso espírito, e não de outra forma. Porque todas as coisas corporais estão submetidas às coisas espirituais, e a partir delas reguladas e comandadas, e de forma nenhuma o contrário.
  2. Pode ver-se um exemplo disso na ascensão de nosso Senhor: porque quando o tempo determinado chegou, em que foi conveniente que Ele regressasse para o Seu Pai corporalmente na Sua humanidade, a qual humanidade não foi e não será nunca ausente da Sua Divindade, então, Todo-Poderoso, pela virtude do Espírito Santo, a humanidade com o corpo seguiu a Divindade na unidade da Pessoa. A aparência visível da qual, era mais conveniente e era mais adequado, que ela fosse a subir e para o alto.
  3. Esta mesma sujeição do corpo ao espírito pode ser, de maneira verdadeira, concebida pela prova da obra espiritual que diz este livro, por aqueles que trabalham nele. Porque no instante em que uma alma se dispõe a (trabalhar) isso efetivamente, logo imediatamente e subitamente, para benefício próprio daquele que nela opera, o corpo, que talvez mesmo antes que (a obra) começasse, estava inclinado para o chão, ou inclinado para um lado ou para o outro para a comodidade carnal, mas pela virtude e força do espírito (o corpo) é endireitado: seguindo pela maneira e à semelhança corporal a obra do espírito, a qual (obra) é espiritual. E assim é que convém melhor que seja.
  4. E é pela razão dessa própria conveniência que o ser humano – o qual é, de todas as criaturas de Deus, a mais decente de corpo e a mais digna – não é feito dobrado para o chão, como são todos os outros animais, mais erguido a direito para o céu. Porquê assim? Porque deve figurar, na aparência corporal, a obra e o trabalho espiritual da alma, a qual obra e o qual trabalho, lhes convém que sejam direitos espiritualmente, e de maneira nenhuma espiritualmente tortuosos e dobrados. Toma bem guarda que eu digo espiritualmente direito, e não corporalmente. Porque, como poderia ser uma alma, a qual não tem por natureza nenhuma maneira e matéria de corporalidade, mantida corporalmente direita em pé? Não, não; isso não pode ser.
  5. E é por isso que tu deves ter o cuidado de não conceberes corporalmente aquilo que é significado espiritualmente, apesar disso ser dito com palavras corporais, tais como são as de «ao alto» ou «em baixo», «dentro» ou «fora», «atrás» ou «adiante», «dum lado» ou «do outro lado». Porque mesmo que algo espiritual que possa alguma vez ser uma coisa em si própria, no entanto, se for preciso falar dela, e visto que o discurso é uma obra corporal, e feita e gerada pela língua, a qual é um instrumento do corpo, isso não poderá ser feito senão sempre com palavras corporais. Mas o que importa? Deve suceder que o compreendamos e concebamos corporalmente? Não, certamente, mas antes espiritualmente, como foi explicado.


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