Nuvem de Desconhecimento – Capítulo 50



Qual é o amor casto; e como em certas criaturas tais consolações sensíveis só aparecem raramente, e noutras muito frequentemente.
  1. E por isto, tu podes ver e compreender que nós temos que comandar toda a nossa conduta segundo esse humilde impulso de amor na nossa vontade. E a todas essas outras delícias e consolações, tão agradáveis e santas que elas sejam, nós não devemos mostrar, se é correto dizê-lo, senão uma espécie de indiferença. Que elas (as delícias e consolações) venham, e sejam bem vindas. Mas não te inclines demasiado para elas, por temor de fraquejares: porque ao permaneceres demasiado tempo em tais emoções e lágrimas tão suaves, isso rouba demasiado as tuas forças. Talvez mesmo tu acabasses por amar Deus devido a elas (as delícias e consolações), cujo sentimento disto tu terás se tu resmungares e grunhires demasiado, quando elas faltam. E se for assim, então o teu amor não é ainda nem casto nem perfeito. Porque um amor perfeito e casto, se ele sofre quando o corpo é alimentado por consolações pela presença de emoções e lágrimas tão suaves, no entanto ele (o amor perfeito e casto) não protesta nem grunhe nada quando elas faltam segundo a vontade de Deus, mas pelo contrário (ele) fica feliz e satisfeito. E isto ainda que, em certas criaturas, não seja comum que elas faltem, enquanto que tais delícias e consolações em outras criaturas não são raras.
  2. E tudo isto é segundo a disposição e a ordenação de Deus, inteiramente para o proveito e a necessidade das diversas criaturas. Porque existem criaturas tão fracas e tão delicadas em espírito, que a menos que elas sejam confortadas com o sentimento de tais delícias, elas não conseguiriam de forma nenhuma suportar nem sustentar a variedade das tentações e tribulações que elas têm que suportar corporalmente e espiritualmente, nesta vida, da parte dos seus inimigos. E há outras (criaturas) as quais são tão fracas nos seus corpos, que elas não podem fazer grandes penitências para se purificarem; e essas criaturas, na sua plena graça, nosso Senhor quer purificá-las em espírito com tais sentimentos suaves e tais lágrimas. E ainda, por outra parte, há certas criaturas que têm o espírito tão vigoroso e forte que elas conseguem encontrar suficiente reconforto nas suas almas, ao oferecerem reverentemente esse humilde impulso de amor e essa conformidade da vontade, as quais criaturas não têm elas próprias assim tanta necessidade do reconforto dessas delícias e sentimentos corporais. De entre todas, uma mais que a outra, qual é a mais santa e a mais cara a Deus? Deus sabe, eu não.


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