Nuvem de Desconhecimento – Capítulo 49



A essência e substância de toda a perfeição não é nada mais que uma boa vontade; e como todas essas delícias e harmonias e outras consolações que se podem ter nesta vida, não são nada mais que meros acidentes.
  1. E é por isso que eu te peço, obedece com docilidade e de boa graça a esse humilde impulso de amor no teu coração, e segue-o fielmente: porque ele quer ser o teu guia nesta vida para te conduzir à beatitude na outra vida. Ele é a essência e a substância de toda a boa existência e sem ele, não há boa obra que possa ter começo ou fim. Ele não é nada mais que um bom querer e uma conformidade da vontade com Deus, e uma forma de felicidade e de perfeita potência que tu sentes na tua vontade por tudo o que faz Deus.
  2. Semelhante boa vontade, é a substância de toda a perfeição. Todas as doçuras, delícias e consolações corporais ou espirituais, tão santas quanto sejam, não são para ela senão acidentes e não fazem nada senão depender dessa boa vontade. Acidentes, chamei-lhes eu, porque elas podem com efeito quer aparecer quer faltar sem lhe juntarem nada nem lhe retirarem nada. Eu entendo assim: nesta vida, porque não será assim na beatitude do céu onde essas delícias serão unas e sem partilha com a substância, como será o corpo com a alma: esse corpo no qual elas se vertem. E assim é a substância delas aqui, não outra coisa senão uma boa vontade espiritual. E certamente eu penso que para aquele que chegar e tocar na perfeição dessa vontade, tanto quanto é possível aqui, ele não poderá aí ter delícias ou consolações suscetíveis de acontecerem a qualquer um nesta vida, que ele não esteja tão contente e alegre por não as ter, se tal é a vontade de Deus, do que as sentir e as ter.


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