Nuvem de Desconhecimento – Capítulo 43



Que é preciso absolutamente que o ser humano perca toda a ideia e todo o sentimento do seu próprio ser, se a perfeição desta obra deve realmente ser tocada pela alma nesta vida.
  1. Procura que na tua inteligência e na tua vontade nada opere a não ser Deus. E procura abater todo o conhecimento e todo o sentimento do que quer que esteja debaixo de Deus; e rejeita para bem longe todas as coisas para debaixo da "nuvem do esquecimento". E tu deves compreender que tu não tens apenas que esquecer nesta obra todas as outras criaturas para além de ti próprio e também as suas ações ou as tuas, mas também que tu tens, nesta obra, que esquecer em conjunto quer a ti próprio quer as tuas próprias ações para Deus, não menos que as outras criaturas e as suas ações. Porque é o apropriado e a condição de quem ama perfeitamente, não somente de amar aquilo que ele ama mais do que a si próprio, mas também e ainda de alguma forma de se odiar a si próprio pelo amor daquilo que ele ama.
  2. Assim, é preciso que tu faças tu próprio de ti próprio: tu deves ganhar desgosto e te aborrecer de tudo o que se faz na tua inteligência e na tua vontade, a menos que seja Deus apenas. Porque tudo o que é outro, seguramente, o que quer que seja, está entre ti e o teu Deus. E (não é) nada de espantoso que tu detestes e odeies, o pensares em ti próprio, quando tens sempre que ter o sentimento do pecado, esse horrível e fedorento bloco maciço de que tu não sabes o quê, o qual está entre ti e o teu Deus: essa massa pesada que não é outra coisa senão tu próprio. Porque é preciso que tu penses que ele está unido e fundido com a substância do teu ser, ah! como se não existisse aí diferença e partilha.
  3. E é por isso que (tu) reverte e abate todo o conhecimento e sentimento das criaturas de todas as espécies, mas muito particularmente de ti próprio. Porque é desse conhecimento e desse sentimento de ti próprio que depende o teu conhecimento e o teu sentimento de todas as outras criaturas, as quais todas, em vista disso, serão facilmente esquecidas. Porque tu verás, ao meteres-te ativamente tu próprio ao facto e à prova, que quando tu tiveres esquecido todas as outras criaturas e todas as suas obras, sim, e as tuas próprias ainda por cima, haverá aí ainda vivo entre ti e o teu Deus, um conhecimento nu e um sentimento do teu ser próprio, os quais deverão sempre ser destruídos até ao tempo em que tu sentirás segura e verdadeira a perfeição desta obra.


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