Nuvem de Desconhecimento – Capítulo 39



Como rezará um perfeito operário da obra, e o que é nela própria a oração; e se alguém reza com palavras, que palavras se acordam melhor à índole da oração.
  1. E é por isso que é preciso rezar na altura e na profundidade, no comprimento e na largura do nosso espírito. E isto, não com frases e numerosas palavras, mas com uma pequena palavra duma breve sílaba.
  2. Mas qual será essa palavra? Certo, será uma palavra tal que se acorde pelo melhor à índole da oração. Mas qual é então tal palavra? Vejamos primeiro o que é a oração propriamente em si própria; e em seguida nós saberemos mais claramente qual palavra se acorda melhor à índole da oração.
  3. A oração é propriamente em si própria, não outra coisa senão um devoto impulso para Deus para obter o bem e afastar o mal. E portanto, sendo que todo o mal, quer pela sua causa quer pelo seu estado, está todo inteiro compreendido e tido no pecado, ou Falta, segue-se que quando nós queremos intensamente rezar para sermos livrados do mal, nós não temos para pronunciar, ou dizer, ou pensar, ou ter no espírito outra coisa, nem nenhuma outra palavra senão essa pequena palavra de «Falta». E quando nós queremos intensamente rezar para obter um bem, nós não temos mais que gritar, quer seja por palavra, por pensamento ou por desejo, nenhuma outra coisa nem nenhuma outra palavra senão essa palavra: «Deus». Porque em Deus está todo o bem, em conjunto por causa e por estado; eis porquê. E não te espantes nada que eu coloque essas palavras com exclusão de todas as outras: porque se eu conseguisse encontrar outras mais curtas, e que contivessem também plenamente todo o bem e todo o mal como fazem essas duas; ou de outro modo se Deus me tivesse ensinado a tomar outras, seriam essas que eu teria tomado, e as primeiras eu as teria deixado. E assim eu te aconselho a fazer tu próprio.
  4. Não vás portanto pôr-te ao estudo e à procura de palavras, o qual estudo não te levaria nada ao teu propósito nem nesta obra, porque nunca se chega lá pelo estudo, mas apenas pela graça. E é por isso que não tomes tu próprio para a tua oração nenhumas outras palavras, para além daquelas que eu pus aqui, a não ser aquelas que, por Deus, tu te sintas incitado a tomar. No entanto, se Deus te levasse a tomar as ditas, então o meu conselho é o de que tu não as deixes: eu entendo e quero dizer para o caso em que tu rezes com palavras, porque senão não. Porquê? porque com efeito são palavras curtas. Mas por tanto que seja aqui tão grandemente recomendada a brevidade da oração, nunca no entanto a sua frequência deve de todo ser relentada. Porque é rezar, como foi dito, no comprimento do espírito; e nunca deveria cessar nem se interromper uma tal oração, até ao tempo em que ela tenha plenamente obtido aquilo que, atrás do qual, ela suspirava. E o exemplo, nós o vemos naquele homem ou aquela mulher no terror como descrito acima, os quais com efeito não deixam também de gritar essa pequena palavra de «fogo», ou essa outra de «desgraça», tanto e tão longamente quanto eles não obtenham o maior alívio e o maior socorro na sua aflição.


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